Abriu a 2 de maio de 2024 e já está a fazer um autêntico sucesso. Situado a poucos passos do Largo de Camões, no Chiado, o Vibe é o mais recente restaurante de fine dining de Lisboa, onde a gastronomia de todo o mundo se junta na capital portuguesa para um momento que promete ser inesquecível e sem igual. Com o propósito de dar a conhecer os mais variados sabores num espaço onde o luxo e a descontração são os protagonistas, é aqui que a história de amor entre a comida e a cultura começa, pelas mãos do chef italiano Mattia Stanchieri.
Mas a experiência começa logo quando se procura as portas do Vibe. Escondido entre as fachadas lisboetas da Rua da Horta Seca, só se percebe onde está situado o restaurante pelo pequeno menu que têm à porta. Ao entrar, uma escada leva-nos até à direita, onde está um rapaz simpático à espera — e é aqui que tudo começa. Com as luzes baixas, um ambiente acolhedor, vermelhos e dourados espalhados por todo o espaço e o mármore a ser a peça-chave de todas as mesas, é possível dizer facilmente que, quem entra ali, entra num mundo fora de Lisboa.
A “atmosfera cosmopolita e descontraída”, como eles próprios afirmam, fazem do restaurante Vibe uma experiência por si só, com teto aberto para o andar de cima e sofás por toda a volta a fazer de assento. A decoração, com muitos traços escandinavos, foi projetada pelos Spacegram. Com toques modernos, artísticos e requintados, este pequeno espaço escondido no meio do Chiado não o quer enganar pelo seu aspeto do lado de fora, quando tem todo um requinte e luxo por dentro.
Quanto ao menu, este será sempre uma incógnita. E porquê? Porque, assim que o chef chegou a Portugal, depois de 17 anos a pensar e a construir este sonho, quis fazer algo diferente e proporcionar experiências gastronómicas que não se veem em qualquer lado. Assim, de quatro em quatro meses, a ementa do Vibe muda, dando a oportunidade a todos os clientes de experimentarem as mais variadas cozinhas do mundo, mas sempre com um twist português para enfatizar o País onde escolheu dar vida ao seu sonho.
A ementa de fine dining é assim composta por dois formatos: o Easy Peasy (cinco momentos por 75€ sem pairing alcoólico) e o The Big Easy (sete momentos por 90€ sem pairing alcoólico). Para recolher todos os frutos que o Vibe promete dar, a MAGG foi conhecer o novo restaurante e escolheu a segunda opção, que tem uma entrada e uma pré-sobremesa a mais, assim como a degustação de ambos os pratos principais. Nesta estação, a cozinha escolhida para dar a conhecer ao público foi a Creole e Cajun, e podemos já adiantar que foi uma bela surpresa.
Com uma combinação de influências do Sul de África, França, Espanha e Inglaterra, esta é uma gastronomia típica de Nova Orleães e do Luisiana, que inspirou o chef Mattia Stanchieri depois de uma viagem marcante que fez ao Haiti enquanto trabalhava nas Bahamas. Aqui, o objetivo era criar uma cozinha complexa mas com alma, que se assemelhasse a alguns aspectos da gastronomia portuguesa, e os vários momentos que existem nos dois formatos da ementa trazem vários elementos nacionais na sua constituição, como a alheira ou as bananas da madeira.
Para as entradas, o The Big Easy é composto por gumbo in one bite (lagostim de rio, conserva de quiabo picante e alheira), shrimps remoulade tartlet (gamba fumada, molho remoulade, puré de abacate e pickle de rabanete) e dirty rice cracker (crocante de arroz, ketchup cajun de beterraba, parfait de fígado de porco, confit de cebola e pickles), três pratos que precisam — mesmo — de ser degustados por esta ordem, para que não se perca nos sabores intensos de cada um. E sim, há um preferido: apesar de o primeiro pensamento ter sido ‘ketchup e fígado de porco?’, é mesmo preciso provar para sabermos o que estamos a perder. Cada um com a sua história, estes três pratos foram a melhor maneira de começar este fine dining, uma vez que abriu o apetite e a curiosidade para o resto.
Depois, chegaram à mesa três pratos que elevaram a fasquia: oyster rockfeller (ostra, agrião, queijo São Jorge e crocante), egg sardou (ovo sous-vide, alcachofra, molho holandês e alho francês queimado) e corn bread (muffin de milho, manteiga de lagostim e pó de limão queimado).
Foi neste preciso momento que sentimos que, apesar de alguns dos pormenores não serem os nossos preferidos, nos transportamos para outro mundo. A manteiga de lagostim foi a estrela da noite, o alho francês queimado em conjunto com o ovo foi uma combinação, a nosso ver, inovadora e saborosa, e a ostra estava tão no ponto que assim que acábamos pensámos que a devíamos ter comido mais devagar. O molho holandês, por exemplo, pode não ter sido o nosso favorito, assim como o agrião, mas foram pequenos pormenores em três momentos da noite que certamente repetiriamos.
Já os pratos principais, fish & grits (peixe do dia grelhado, polenta, limão preservado e feijão frade) e pigliz (presa de porco preto, picles, molho de laranja, Folhas verdes e puré de cenoura) cativaram novamente a nossa atenção. Ainda que não tenha sido a 100%, uma vez que, depois da ostra e da manteiga de lagostim, não foi o nosso favorito, temos de confessar que o pigliz é um prato que precisa de ser saboreado por todos. O puré de cenoura, algo alheio ao nosso paladar, juntou todos os outros sabores deste prato e tornou-o quase que irresistível, tamanha foi a sua intensidade. A carne, para nós, estava quase no ponto, mas o puré resolveu esse pequeno detalhe.
No final da refeição, houve ainda dois momentos: jennings cox and the new orleans daiquiri (sorbet de Daiquiri, milho dos Açores e pudim de leite de cabra) e banana foster (donuts, carcavelos, gelado de casca de banana fermentada e praliné de avelã), a pré-sobremesa e a sobremesa propriamente dita. No entanto, apesar de gostarmos (mesmo muito) de sobremesas, esta não foi a estrela da nossa noite. O primeiro pudim soube-nos a céu, mas o donuts seguinte já nos fez cair à terra. Demasiado doce para o nosso paladar, mas, para quem prefere algo com mais doçura, é capaz de ser o final ideal para um fine dining como este. No geral, a cozinha Creole e Cajun foi uma grande surpresa.
A acompanhar, decidimos experimentar champagne kombucha, que é parecido com vinho branco com gás, mas só não sabe, realmente, a álcool. Algo engraçado, na verdade, uma vez que foi o pairing ideal para nós com os pratos que provámos, dando mais energia a toda a refeição. No entanto, é sempre possível fazer uma combinação dos dois formatos da ementa com uma seleção de vinhos feita pelo restaurante, sendo que acresce 55€ ao menu Easy Peasy e 75€ ao menu The Big Easy. Para a próxima estação, que é já neste mês de setembro, pode fazer estas combinações com o próximo menu, que também promete muitas surpresas: a gastronomia italiana.