Ainda em criança, André Pinto Baptista já tinha as suas pancas na cozinha. Recusava-se a comer arroz do dia anterior e a sopa tinha que ser aquecida no fogão, nunca no microondas. E ainda que sempre tenha gostado de cozinhar, decidiu avançar com o curso de Engenharia do Ambiente, que seguiu até a um quase doutoramento, como lhe chama. É que foi nessa altura que começou também a viajar mais, a comer coisas diferentes e a beber sofregamente todas as histórias que o amigo Tomás Pires, atual chef do Meat Me, em Lisboa, lhe contava sobre os bastidores da restauração.
"Ainda experimentei ser engenheiro, mas acabei por me inscrever na Escola de Hotelaria do Porto quando percebi que esse sim era o meu caminho", conta a MAGG. Isto já com 29 anos. "Tinha colegas de turma com 18 anos que não sabiam o que queriam fazer da vida e eu cheio de vontade de aproveitar o tempo perdido".
E aproveitou. O estágio foi no Pestana Palace, em Lisboa, de onde saiu para trabalhar com o chef Kiko n'O Talho e na Cevicheria e com José Avillez no Belcanto e no MiniBar.
Pelo meio correu já mais de 40 países e trabalhou com Ferran Adrià em Barcelona e também num dos melhores restaurantes do mundo, o Maido, no Peru.
Mas foi por viajar tanto e por comer comida tão diferente que, na altura de abrir o seu próprio espaço, decidiu voltar às raízes. "Ver tudo o que já existe fez-me ver tudo o que de nosso há para aproveitar". E é isso que faz no Lessa, o restaurante que abriu em Leça da Palmeira, a dois passos da praia.
A carta é curta, mas pensada tanto para quem vem ter uma refeição completa, como para quem prefere juntar uns petiscos às cervejas de fim da tarde.
Assim, e para a tal junção perfeita entre cerveja e salgado, há ceviche (8,30€), camarão ao alho (7,45€), pica-pau (7,80€) e uma das estrelas da casa: croquetes da Bairrada (5€), feitos com cachaço de porco marinado e servido com maionese de alho e cebolinho. Se não ficar satisfeito, pode sempre acabar com um tradicional prego de lombo (3,50€) ou a ainda mais típica sandes por terras no norte, feita com presunto e ovo estrelado (2,50€).
Para uma refeição mais completa, existem dois arrozes, um do mar com cataplana (13€) e outro de feijão e bochecha de porco "de comer à colher" (12,30€), como faz questão de dizer na carta.
O serviço é contínuo a pensar em que faz surf ou quem vem da praia com fome, sejam 14 ou 18 horas.
Para já, o restaurante fecha apenas à segunda-feira, mas André talvez se dê ao luxo de mais algum descanso. "É que eu preciso de dinheiro, mas não preciso de ser rico. Preciso é de ser feliz e isso não podia estar mais".