Todas as semanas abrem novos restaurantes em Lisboa. Uns querem ser tudo, outros não são nada. Uns estão condenados ao fracasso, outros a serem moda passageira no Instagram. Depois há aqueles que têm uma aura indefinível e que nos fazem sentir fixes. Fixes no sentido de cool, mas um cool sem esforço, descontraído, como se tivéssemos encontrado o sítio ideal para comer bem, lavar as vistas (humana e decorativamente) e ainda ouvir boa música.
É assim que nos sentimos assim que nos sentámos no Black Trumpet, o novo restaurante, aberto há menos de um mês, de Santos-o-Velho (sim, aquela zona de Lisboa onde, há uns valentes anos, só havia bares de shots e pessoas a rebolar, escada abaixo, para ir para a Kapital, para o Plateau ou para o Kremlin).
De volta ao presente.
Dos mesmos donos do reîa, o bar bohemian chic na praia da Cabana do Pescador, na Costa da Caparica, nasce o Black Trumpet. O espaço tem nome de cogumelo (o trompeta negra) e tanto o menu como a carta de cocktails são construídas em torno deste fungo. Sim, sabemos que a palavra fungo não é apetitosa mas, taxonomias à parte, esta experiência gastronómica, onde variedades sazonais de cogumelos, desde shiitake a enoki ou portobello, passando por porcini ganham destaque, é verdadeiramente surpreendente.
O Black Trumpet não é um restaurante vegan (embora existam opções para quem não consome proteína animal) nem monotemático. Os cogumelos são combinados com outros ingredientes de forma haver um intercâmbio de estrelato. O resultado é um menu que, desde o couvert até à sobremesa, nos surpreende e cativa.
Situado num dos bairros lisboetas que mais expatriados recebeu nos últimos anos, este restaurante reflete, na sua decoração, que mistura art déco com um estilo francês, essa alma cada vez mais cosmopolita da cidade. E as portas do Black Trumpet estão abertas não só para quem quer fazer uma refeição mas também beber um cocktail (dentro ou na esplanada), ouvir música e, quando houver mood para isso, até dar um pé de dança.
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Mas falemos da comida. Ou, antes disso, do cocktail coriander sour (sake, chartreuse verde, cordial de coentro, solução salina, óleo de coentro, 11€) que provámos assim que chegámos. Um estalo de frescura, com o sabor aromático do coentro não demasiado pronunciado, embora presente, e uma cor quase fluorescente. Perfeita para o Instagram mas também para iluminar o início da refeição.
Provámos também o dirty mushroom martini (gin, vermute seco, salmoura de cogumelo, cogumelo infundido com shoyu, 11€), que achámos demasiado forte para a nossa frágil tolerância ao álcool, embora muito aromático. Numa cidade em que os preços estão absolutamente ridículos, tiramos o nosso chapéu ao Black Trumpet por estabelecer um preço único (e aceitável) para os cocktails.
Imaginem fish and chips. Ou melhor, imaginem choco frito com as imprescindíveis batatas fritas caseiras, em palitos. Agora imaginem isso em versão cogumelo. É o mush and chips (enoki empanado em pastela com batatas fritas e sal de cogumelos da casa, acompanha creme azedo de raiz forte, 13€), um prato que, sem querer ser nem o clássico britânico nem a gloriosa iguaria setubalense, combina a crocância com a delícia da batata frita. E o creme azedo, em tudo semelhante a uma maionese mas com menos gordura, combina na perfeição com os palitos panados de enoki.
Foi o nosso prato favorito mas não ficámos por aqui. O cogolho braseado (alface cogolho braseada, vinagrete de mostarda e mel de cana, gema de ovo curada e molica de semola, 9€), um arco-irís de texturas e frescura, cumpriu o que prometeu (adoramos um vegetal grelhado e este estava quase perfeito) e os gnocchi de queijo fresco, ervilha, beurre blanc de vinho do porto branco e cantharellus sibarius (20€) surpreenderam pela textura cremosa e divertida, quase a fazer lembrar cheese sticks em versão adulta.
Tínhamos de provar um prato de carne e a bochecha de vitela cozida 15 horas em cerveja preta, cuscuz de sémola, lúcia lima, soubise de paris marrom e puré de batata (26€) não desiludiu. Rico, untuoso, com um dos melhores e mais luxuriantes purés que já provámos, à prova de carnívoros desconfiados de novidades mais fancy.
Não gostamos de funcho. O sabor anisado do funcho causa-nos arrepios na espinha. A sobremesa, um gelado de funcho feito na casa e creme inglês de portobello fumado (9€) fez-nos mudar de ideias. Mas na próxima visita a tarte de queijo vegano com toffee de tahine não escapa.
Veja os pratos do Black Trumpet
*a MAGG visitou o Black Trumpet a convite do espaço