Abrir a carta de um restaurante e ver um ceviche na lista de opções não é propriamente uma surpresa nos dias que correm. Mas encontrar um ceviche autêntico, genuíno e sem grandes artifícios e misturas, talvez seja uma tarefa mais ingrata. E é justamente a opção mais fiel ao famoso prato peruano que vai encontrar no El Cebichero, o novo restaurante de Lisboa, aberto desde o início do mês de outubro na Praça das Flores.
"Queríamos muito aproveitar o ouro que encontrámos, uma equipa liderada pelo chef peruano Teófilo Quiñones, e abrir um espaço só com ceviches. Até porque continuo a acreditar que existe um 'gap' no mercado em termos de ceviches autênticos, sem fusão europeia. E não há nada mais autêntico do que uma equipa peruana a fazer comida peruana", explica à MAGG Duarte Cardeira, 27 anos, um dos sócios do Cebichero e antigo chefe de bar do El Clandestino de Lisboa.
E é esta ligação ao El Clandestino que importa referir para contar a história do El Cebichero. Embora sejam negócios distintos, existem pontos e sócios em comum com o atual espaço de Cascais, como João Baptista, Bernardo Crespo e Kellman Sequeira, também sócios do restaurante original de Lisboa (entretanto encerrado).
"Os meus sócios esbarraram no ouro quando abriram o restaurante de Cascais. Há muitos peruanos a procurarem fazer vida em Portugal, como o Teófilo e os elementos da equipa dele, nomeadamente devido à segurança, e conseguiram ter aqui estes cozinheiros que conseguem criar algo tão autêntico e com a identidade peruana bem marcada. E depois encontrámos este espaço na Praça das Flores, perfeito para criar algo só focado nos ceviches", diz Duarte Cardeira, que não integra o grupo de sócios do espaço de Cascais, mas está "all in" no El Cebichero, ou não tivesse nascido no seio de uma família de cozinheiros.
"A minha mãe era cozinheira, o meu pai trabalhava na área da restauração, o meu irmão também é cozinheiro. Estudei Artes Plásticas, mas fui criado nesta dinâmica. E gosto muito de receber pessoas. Para mim, o El Cebichero não é um negócio de comida e bebida, mas sim de pessoas", refere Duarte Cardeira.
Aqui, só se servem pratos frios — e ainda bem
O espaço, com capacidade para 28 pessoas sentadas, está praticamente focado nos ceviches, até porque o pequeno restaurante nem tem extração de fumos. "Só podemos mesmo servir frios no El Cebichero, mas a ideia também é essa. Toda a carta é muito boa, foi pensada pelo chef Teófilo, que funciona quase como um chef executivo dos dois restaurantes, embora não sejamos um grupo. Ele desenhou a carta, vem ao El Cebichero regularmente", refere o sócio do espaço.
E o que é que pode comer aqui? Simples: ceviche e tiraditos. Caso não esteja completamente à vontade na cozinha peruana, tiramos as dúvidas — ou vá, Duarte Cardeira tira. "Há uma grande influência do Japão e da comida nipónica na gastronomia do Perú. E essa pode ser vista nos tiraditos, que são basicamente ceviches onde o leche de tigre é mais aveludado, quase como um creme, o peixe é cortado como sashimi e não em cubos, e não tem cebola."
Da carta fazem então parte vários tiraditos, como o Tuna Nikei, com atum (15€), o Peruano, com peixe branco (16€), o misto de vieiras (17€) e o tártaro de salmão(15€), e outros tantos ceviches. Escolha entre o El Clandestino, uma mistura de mariscos e peixe branco (18€), o tradicional Peruano, com peixe branco e camarão (15€) e o Puka Mixto, marisco e peixe branco com creme de pimentas do Perú (17€).
Ainda antes de atacar uma das duas sobremesas disponíveis no espaço —a tarte fresca de lima (5€) ou de doce de leite (5€) —, não termine a refeição dita principal sem um bao. "Acho que os baos são mesmo um fator diferenciador do espaço, porque servimo-los com ceviche, um qualquer à escolha. Ceviche ou tiradito, aliás", completa Duarte Cardeira.
Com praticamente três semanas de existência, já dá para perceber os pratos mais vendidos? "Sim. Tenho estado cá todos os dias e há um claro top 3: ceviche clandestino, tiradito peruano e tiradito misto de vieiras", refere o sócio do El Cebichero.
Duarte pode ser mestre nos cocktails, mas desafia-o a provar os vinhos cuidadosamente escolhidos
Com o antigo chefe de bar do El Clandestino de Lisboa como sócio, é óbvio que os cocktails fazem parte do espaço. Há quatro na carta, todos eles com pisco, e também uma seleção desta bebida para beber pura, no final da refeição. No entanto, Duarte Cardeira não esconde que os vinhos são os reis das bebidas no El Cebichero.
"Há vinhos regulares, mas também uma seleção cuidada de vinhos naturais e sidras. Todas as semanas vou à procura de coisas novas, vejo o que resulta, o que não funciona. O stock acaba, vou provar mais coisas. É uma carta de vinhos muito rotativa, está sempre a mudar", salienta o sócio. Todos os vinhos estão disponíveis ao copo, com preços a partir de 4,50€ para as referências regulares e 5€ para os naturais.
A mesma lógica aplica-se aos chás, a única soft drink disponível no restaurante, para além de água. "Tenho sempre uma seleção disponível da Companhia do Chá, onde também vou regularmente provar coisas novas e trago o que gosto aqui para o El Cebichero."