No coração do Algarve, em Almancil, Lúcia Ribeiro encontrou o equilíbrio perfeito entre a tradição da gastronomia portuguesa e a modernidade que lhe foi ensinada nas suas andanças internacionais. Depois de mais de duas décadas em Londres, onde só trabalhou em restaurantes com estrela Michelin, de dois verões no Vila Joya e da sua passagem como diretora de operações e chef-executiva da Mimo Algarve, uma escola de culinária de topo inserida no Pine Cliffs Resort, nasceu a Taberna by Lúcia Ribeiro.
Já lá vai um ano desde que as portas estão abertas, mas o objetivo continua imutável: "trazer de volta a nossa gastronomia" e respetiva identidade, assim como "levar a serra para mais perto do mar e o mar mais perto da serra", diz a chef à MAGG. E por muito que cada um dos seus pratos da carta, confecionados com ingredientes locais e da época, contribua para esse efeito, é nos jantares vínicos que muita dessa magia acontece.
“Adoro fazer pairings. A gastronomia e a enologia, para mim, unem-se e complementam-se uma à outra", frisa, acrescentando que o processo de criação é quase intuitivo. "Eu provo os vinhos e começo logo a escrever o menu. É quase automático", continua, dizendo que esta abordagem lher permite criar pratos que parecem feitos à medida de cada garrafa, valorizando tanto os ingredientes como o vinho.
O que torna estes eventos, que já foram levados a cabo no ano passado, tão especiais é a atenção ao detalhe e o ambiente intimista proporcionados pela chef. "Nós trazemos sempre alguém da quinta. Não só o representante da área, mas o especialista dos vinhos, que explica aos clientes cada garrafa", afiança. Isto significa que os jantares vínicos são mais do que uma mera degustação de iguarias: são uma autêntica experiência imersiva e, sobretudo, educativa.
Já há vários jantares marcados para os próximos tempos. A Quinta de Ventozelo é a protagonista do primeiro, que acontece a 4 de outubro, a Quinta da Boa Esperança a de 8 de novembro e a Dalva a 6 de dezembro. Segue-se a Quinta do Cardo, a 10 de janeiro, e a Quinta da Venda, a 1 de fevereiro. Os jantares vínicos custam 75€ por pessoa, preço que dá direito a seis vinhos e seis pratos.
A chef promete trazer vinhos que não se encontram nas grandes superfícies, focando-se em quintas que, apesar de poderem ser menos conhecidas pelos mais leigos, são de grande qualidade. "Nos jantares vínicos do ano passado, não me foquei tanto no Douro, portanto este ano tenho duas quintas do Douro e vou terminar com o Algarve", remata Lúcia Ribeiro.
"Tento ter um menu diferente dos outros, senão era só peixe grelhado"
Desde que abriu portas em maio de 2023, o Taberna by Lúcia Ribeiro tornou-se um refúgio para quem procura uma experiência totalmente portuguesa, onde as refeições são como momentos de partilha e se assemelham àquelas que fazemos em casa. É por isso que as cadeiras, talheres e guardanapos são de nações diferentes, como se costuma dizer. "É tudo um mix and match, como se fosse uma casa algarvia do antigamente", explica.
Isso também fica patente através das iguarias da carta, que muda quatro vezes ao ano, refletindo a preocupação da chef com a sazonalidade da matéria-prima. Afinal, "não se pode fazer boa comida com maus ingredientes", aponta. Por isso, enquanto a carta de verão estiver em vigor, quem por lá passar vai poder provar delícias frescas, como ceviche de sarrajão (11€), um peixe típico do Algarve, "pataniscas de bacalhau (8€), tibornas (entre 7€ e 8€) e baos com sabores algarvios, como carapau de escabeche (5€)", por exemplo.
No outono, que já está entre nós, os pratos voltam a mudar. Há uns dos quais a chef não se consegue desfazer, tal não é o amor dos clientes pelos mesmos, mas todos se tornam reconfortantes, algo que contrasta com o clima que se vai começando a fazer sentir lá fora. Trocado por miúdos, a carta vai incorporar tudo aquilo que deixa o nosso coração quentinho – e a barriga também.
"Já comecei a pensar nas alterações", avança a chef, levantando a ponta do véu. "Sai o gaspacho (3,50€) e entra a sopa de tomate com ovo escalfado, vai voltar o pernil de porco, a feijoada de choco", assim como uma panóplia de arrozes – "de polvo, berbigão e tamboril". Todos eles podem ser degustados com um bom vinho, já que são mais de 100 as referências com que o estabelecimento conta.
Uma coisa é certa: o intuito do seu restaurante é pegar nos "cheiros do antigamente e o procurar igualar esse tipo de comida que se fazia muito, muito lentamente". Assim, embora seja "uma casa pequena", com 34 lugares no interior, quatro ao balcão e outros 16 na esplanada, tudo o que dali sai é grande em sabor e conta, sobretudo, com uma portugalidade vincada.
"Tento ter um menu diferente dos outros [restaurantes], senão era só peixe grelhado e era mais um restaurante", reitera Lúcia Ribeiro, que se propõe a lutar contra a "internacionalização dos menus" que acredita ter acontecido em Portugal – especialmente no Algarve, que é bastante turístico. "Quis aproveitar as técnicas que aprendi internacionalmente para melhorar a nossa gastronomia e poder trazer de volta alguma identidade", remata.