Assim que chegamos à La Boulangerie percebemos que há uma playlist que nunca acompanharia uma refeição neste espaço. Esqueçam o Justin Bieber, Grupo Revelação, Il Divo, Anastacia (esta mexeu com o nosso coração "cause you can't handle me/I'm outta love set me free and let me out this misery"), Rihanna e Metallica. No que diz respeito à música, neste restaurante os gostos discutem-se, o mesmo não se pode dizer quanto ao que chega à mesa. Há opções para todos os paladares, bem como para todos os momentos do dia.
A La Boulangerie abriu em 2014 e começou por servir apenas pequenos-almoços, brunchs e outras iguarias ligeiras para começar o dia ou fazer uma pausa entre passeios — uma vez que está perto de pontos de interesse, como o Museu Nacional de Arte Antiga e a Tapada das Necessidades — sempre em linha com o nome francês que significa padaria em português. A mais recente novidade são os jantares, onde também entra a padaria e pastelaria feita à moda antiga, com farinha de moleiro levedada lentamente.
Alguns dos ingredientes usados no restaurante, como os figos da salada mais célebre da La Boulangerie, com presunto, queijo chevre, mel e amêndoas tostadas (11€), vêm da mercearia mesmo ali ao lado, a Domitília, que abriu em plena pandemia pelas mãos do proprietário da La Boulangerie: Bernardo d’Orey.
Bernardo, que já trabalhou em cadeias conhecidas como o Ritz e o Mandarin Oriental, fixou-se em Portugal para tomar conta do projeto inicial, a La Boulangerie, e antes de completar sete anos à frente da padaria e restaurante decidiu planear uma viagem de autocaravana em família. Problema: era 2020 e a pandemia não deixou cumprir o plano (nem Nina Rose, que na altura crescia na barriga da Lizzie, a esposa). Solução: partiu numa viagem pelo País à procura de fornecedores que lhe garantissem produtos frescos e de qualidade.
O resultado está à vista na nova mercearia que tem um pouco de tudo — tudo mesmo —, tal como na casa dos avós, que nunca querem que nos falte nada. A ideia é mesmo que quem entre na mercearia sinta-se na casa da avó, até porque este espaço é uma homenagem a Domitília, avó de Bernardo.
Havia sempre bolachas de água e sal na casa da sua avó? Aqui também há. Também nunca faltavam enchidos e queijos portugueses? Vai encontrar. No saco pode ainda levar produtos dos Açores, iguarias vindas de Itália, artigos biológicos e selecionados e até detergentes e oleaginosas a granel. Ah, e uma sandes feita com a padaria produzida na La Boulangerie. No fundo, são agora vizinhas inseparáveis que nunca deixam que falte nada uma à outra.
O restaurante reflete assim a essência da mercearia, através dos pratos portugueses, italianos e tábuas com os queijos e enchidos nacionais. Independentemente da escolha, e mesmo que alguns produtos venham de fora, a certeza é de que a base é feita aqui.
Alerta: a pizza que salta aos olhos
Não, não é sentido figurado. As pizzas da La Boulangerie, de massa fina e crocante, saltam mesmo para os olhos se não houver cuidado ao cortar. Estas não são ideais para comer com a mão, a forma tradicional italiana de comer pizza, mas o facto de serem estaladiças prova uma coisa: a massa é fina, logo leve, e não tem óleos que deixam o pão quase ensopado.
Mas vamos contar um segredo sobre mais um pormenor que torna a pizza crocante: cerveja. É o ingrediente chave que, uma vez colocado na massa, faz como que aconteça magia no forno (tal como a água com gás faz magia nas panquecas). O topping varia — há desde a margherita (10,75€) até à de presunto e cogumelos (12,50€) —, mas a mais famosa da La Boulangerie, como, aliás, em quase todos os lugares com pizza na ementa, é a diavola (12€). Neste caso, com chouriço não demasiado picante e ingredientes na medida certa para se comer com calma e guardar espaço para a sobremesa.
Antes de aí chegarmos, falemos das massas. Também estão na carta e apresentam-se de forma simples, como o penne, com tomate, mozarela e manjericão (11,75€). Foi este que escolhemos e, por recomendação de Luís Forghieri, italiano e gerente do restaurante, adicionámos tomate seco. E não é que do simples sai algo que nos conquistou o paladar? Tanto, que mergulhámos o pene no molho de azeite e manjericão até não restar nada.
A carta conta ainda com hambúrgueres (desde 9€) e duas sugestões mais portuguesas: as gambas a Brás (12,50€) e a alheira de caça, com batata a murro e grelos (12€).
Na hora das sobremesas, também todas feitas aqui, optámos pela tartelete, com o sabor fresco das frutas e da mousse de lima (3,50€). Se é fã de chocolate, então tem de provar a nova receita, mas antiga, de mousse de chocolate à moda italiana (4,75€). Tem 50% cacau e 50% leite e é uma receita original da avó de Luís Forghieri.
A La Boulangerie serve almoços e jantares de segunda-feira a domingo e se planear ir a uma sexta-feira vai ter a sorte de provar os pratos italianos e portugueses ao som de música ao vivo e DJ Sets que animam os finais de tarde no verão entre as 19h e as 22h30.
Tem um desejo? Poderá ser concretizado e até fazer parte da ementa
O terraço da La Boulangerie é o novo spot para um cocktail ou copo de vinho ao fim do dia, que segue com pratos compostos noite dentro, mas o restaurante começou por ser ponto de paragem para quebrar o jejum. Assim continua e a manhã tanto pode começar com uma simples torrada com manteiga (3€), ou azeite e tomate à antiga (5€), como com um brunch (a partir de 24€). Há várias opções, todas com pastelaria e padaria caseira, como os croissants e pão rústico que podem ser recheados com as compostas e iguarias da tábua de queijos e enchidos. A acompanhar terá sempre bebidas quentes, sumo biológico natural e vista para o Largo Dr. José de Figueiredo.
Em vez de brunch, pode apenas pedir à carta que, entre tartines, panquecas e sanduiches, tem o raz special (7,50€). "Um cliente nosso, há muitos anos, esteve aqui e pediu para fazer um croissant, com tomate passado no azeite, queijo derretido e por cima um ovo estrelado", conta Luís. O resultado foi tão positivo que do prato que satisfez o desejo do cliente, passou para a ementa.
Contudo, não pode sair daqui sem provar o sumo de framboesa e laranja (não é uma mimosa, mas bebe-se que é um mimo), e custa 3,75€.
Se quiser levar um bocadinho da La Boulangerie para casa, também é possível através do serviço de take away, que inclui os brunchs e até um piquenique para levar para um jardim na cidade (35€). É feito para duas pessoas e inclui coisas como croissants, baguete, iogurte com granola e fruta da época e até um mapa para escolher o jardim mais próximos para não perder tempo à procura do sítios mais indicado para pousar o saco cheio de padaria e pastelaria fresca feita na pastelaria.