Maria Eduarda Perdigão tem vestida uma T-shirt que diz "sem pressa". É assim que leva a vida e era assim que pensava levar também o restaurante que abriu com dois amigos, Isabela Castro e Tomas Hencel.
Mas a vida tomou conta dos planos e ainda COVID não era uma palavra. Antes de abrirem no Mercado de Arroios, tiveram um ano e meio de vai não vai com junta de freguesia, câmara municipal, advogados e documentos. "Pensamos até em desistir", conta Maria Eduarda à MAGG. Nesta altura já nos estamos dentro do Pequeno Café Bistrô, prova de que o projeto de uma vida falou mais alto do que as barreiras burocráticas.
Os três amigos vieram do Brasil, uniram forças e criaram um conceito que juntasse o que cada um mais gosta de fazer. A ideia partiu de Maria Eduarda, chef pasteleira que, ainda no Brasil, já fazia sucesso com as suas cookies e brownies vegan. "Quando decidi abrir um espaço meu em Portugal, ainda não sabia bem como seria, mas já tinha uma certeza: tinha que vender os meus doces".
Para os salgados juntou-se Tomas, chef vegan que fica responsável pelos pratos do dia e pelos snacks que por lá vão sendo servidos. E Isabela. "Ah, eu gosto de comer", brinca. Na verdade, esta geógrafa e especialista em agricultura biológica, juntou-se ao projeto como aprendiz de cozinha, mas ajuda a que tudo naqueles poucos metros quadrados seja orgânico, biológico e nacional.
Estava tudo pronto para o arranque esperado na data que os três escolheram como certa: 10 de março. Hoje não é possível dizer isso em voz alta sem rir. É que, três dias depois da abertura, todo o País ficou confinado em casa. "Primeiro cancelámos a festa de inauguração que tínhamos para esse sábado, depois percebemos que tínhamos que cancelar todo o restaurante", conta Isabela.
"Foi a semana mais louca de todas. Passámos de uma felicidade enorme para uma tristeza profunda", lembra Eduarda, admitindo que, outra vez, pensaram mesmo em não voltar a abrir.
"É que a ideia era começar por medir o gosto dos clientes, perceber o que ficava no menu ou não. Take away? Nem sequer era uma hipótese", refere.
Estiveram um mês fechados a pensar na forma de fazer renascer o projeto. No dia 14 de abril, voltam a abrir e aí já só para take away. "Nós que nem embalagens tínhamos, tivemos que aprender a fazer esse tipo de negócio de raíz".
Umas semanas depois, o País volta a mexer e já é possível ir comer fora. Mais uma volta, mais uma transformação. "Num mês, tivemos três conceitos no mesmo restaurante", diz Tomas. É que agora, com a abertura, decidiram não só servir almoços, como passar também a abrir para jantares. "Uma coisa que, mais uma vez, pensava fazer mais para a frente, com calma", ironiza Eduarda, que não demorou muito a criar uma carta para todas as horas.
Agora, se for para almoçar, conte com quiche com salada (6,50€), em várias versões: beterraba, espinafre e tofu fumado; cogumelos, espinafres e legumes; tomate e chèvre; ou pêra e gorgonzola.
Há também a socca, uma espécie de panqueca com farinha de grão de bico (6€) e as almôndegas com quinoa e legumes assados (8€), um prato que nunca sai da carta.
Mas conte sempre com um prato do dia. No dia da visita da MAGG, na rifa calhou-nos a sorte grande: quibe de quinoa. Uma delícia só suplantada pela sobremesa: um brownie vegan de Eduarda que, pondo a imparcialidade de lado, é o melhor que alguma vez provei. No mesmo caminho vão as cookies, ainda quentes, com um meio mal cozido. Estão a imaginar?
Ao jantar, há tábua de queijos vegan (15€) ou de queijo tradicional (15€), chips de batata doce (2,5€) e pão de queijo ou de beijo, na versão vegan (5€/5 unidades).
A partilha vê-se nestes pratos que pedem companhia à mesa, mas também na partilha de ingredientes. É que este trio quer juntar a vizinhança à mesa e, nesse sentido, criou o chamado "Combo do Mercado", um mix de produtos do restaurante com o dos estabelecimentos vizinhos. De fabrico próprio têm grissinis e maionese de couve-flor, aos quais juntam a pizza branca da Pizzaria Margarita e o babaganoush do Mezze.
Se for ao Pequeno Café e ficar fã, saiba que, além de poder voltar vezes sem conta, pode levar parte do espaço consigo para casa: à entrada está montada uma mini mercearia com os produtos que usam no restaurante. É o caso do chás, dos vinhos, das granolas e das cookies salgadas.
Depois de mil transformações, ementas e horários, aqui está o modelo final: o restaurante está aberto de quarta a sábado, para almoços, jantares e lanches a todas as horas.