Aos poucos, e quase sem que ninguém desse por isso, o Líbano tomou conta de Lisboa. Gastronomicamente falando, claro. O Fenícios foi o primeiro, e deu o mote a que tantos outros restaurantes dessem a conhecer uma gastronomia feita de temperos com tudo para dar certo. Um dos mais recentes tem até um toque de chef, neste caso, o de José Avillez, que abriu o Za'atar, no Cais do Sodré.
E não é preciso uma longa caminhada pelo bairro lisboeta para voltar a sentir o sabor do Médio Oriente. Na Rua do Arsenal, o cheiro a pão acabado fazer, azeite e especiarias leva-nos de volta ao Líbano, de onde nem queríamos ter saído.
O espaço é pequeno, não há lugar para sentar, mas a ideia é levar consigo toda a tradição de um país em forma de recheio de pão.
A base de tudo o que sai da The Saj Bakery é o pão libanês, numa versão mais fina, cujo nome original é markouk e resulta de uma massa simples feita com farinha, levedura, água, sal e azeite. A partir daí, é só tratar do recheio que, aqui pode ser salgado ou doce.
A opção mais clássica custa 4,50€ e é recheado apenas com azeite e za'atar, uma mistura de especiarias feita com base de tomilho e à qual podem ser acrescentadas outras até criar um sabor único. O Libanês (6€) leva labré (coalhada seca), tomate, hortelã e novamente o za'atar, o Cítrico (6,50€) é feito com queijo shanlkish, tomate, alface e raspas de limão e o Picante (7€) com queijo halloumi, húmus, pasta de sésamo, molho de alho, pickles, alface e tabasco. Há ainda o Verde (7,50€), o único vegano, com húmus, pasta de sésamo, molho de alho, espinafre, pepino, nozes e maçã verde e O de Queijo (6,50€) —chama-se mesmo assim — leva queijo flamengo, tomates, azeitonas e orégãos.
Já nos doces, as versões podem ser de figo e mel, ricota ou pistachio, todas a 4,50€ e o especial do dia, escrito a giz num quadro ao balcão aponta para sabores menos tradicionais, mas igualmente gulosos: Nutella, bolacha e morango.
Do Líbano para Portugal, com paragem no Brasil
Atrás do balcão estão três mulheres, ainda que só uma domine a arte de cozinhar no Saj, o forno libanês onde é feito o pão e a única fonte de calor do restaurante, que funciona apenas para take away. Mona Alrabi, uma refugiada Síria a viver em Lisboa com a família, corta os legumes em cru, assim como em cru são preparados todos os molhos que servem de recheio.
Em português sabe dizer pouco mais do que "olá" e "obrigado" e é por isso que na parede está uma cábula que traduz diretamente o nome dos ingredientes de português para árabe.
"Não falamos a mesma língua, mas com a comida sempre nos entendemos", explica Isabella Aquilina que, juntamente com Leonor Sousa Guedes, decidiram trazer para Lisboa uma receita que acham obrigatória.
Isabella nasceu no Brasil, é filha de libaneses, casada com um libanês, estudou em Londres, abriu uma padaria no Uruguai e costumava vir a Portugal atrás das melhores ondas de surf. Conheceu a portuguesa Leonor, com formação em gestão hoteleira, em Londres e foi numa visita ao Líbano, onde vai com frequência, que sentadas à mesa de um espaço que servia o markouk recheado pensaram: "Isto em Portugal era um sucesso".
A MAGG apanhou o momento de abertura de portas e, nem cinco minutos depois, a fila já chegava cá fora, oportunidade ideal para ver Mona em ação.
Pega na massa feita ainda em bolinha, espalha-a com a ajuda de rolo enfarinhado e, já alargada, espalma-a numa espécie de almofada que ajuda a dar a forma arredondada. A partir daí é dar calor no Saj, rechear, dobrar e comer.
Se preferir levar o pão para rechear em casa, eles também estão à venda em packs de três por 5€ ou seis por 8€.