E eis que finalmente a sustentabilidade se sentou à mesa dos portugueses. Ele é pratos feitos de farelo de trigo, embalagens de cortiça, palhinhas de metal, colheres de bambu. E também já se percebeu que comprar local tem as suas vantagens e que não é preciso ir ao outro lado do mundo quando Portugal tem matéria-prima da boa, mesmo quando se trata de uma cozinha internacional. É o caso do Valdo Gatti, um novo restaurante italiano que junta todos esses conceitos amigos do ambiente — e do estômago — no número 13 da Rua do Grémio Lusitano, em pleno Bairro Alto. Apresenta-se como uma pizzaria de sustentabilidade e nós — quais inspetores da Greenpeace — fomos ver se as boas intenções são reais.
Se pedirmos água é numa garrafa de vidro que ela chega, depois de saída da torneira e filtrada. Se formos para algo mais arrojado é com a certeza de que todos os vinhos e espumantes da carta são biológicos. Já os sumos, são naturais, prensados a frio e feitos com produtos da época. Ainda bem que estamos no tempo da melancia, é quase como se a estivéssemos a comer às fatias, mas desta vez servida num copo. Ah, e num copo sem palhinha, como mandam as regras de um planeta com futuro. E para os que ainda insistem que este tipo de bebidas só fazem sentido quando bebidas por um canudo, saibam que aqui até isso é feito de material biodegradável.
Para já, tudo certo e a tendência é melhorar assim que as coisas começam a chegar à mesa. O azeite que pincela o pão de alho é português, assim como o são praticamente todos os legumes e ervas aromáticas. De Itália chega a charcutaria, o tomate, a farinha semi-integral da região de Veneto e os queijos. Destas duas origens, há a certeza de que tudo vem de uma produção sem pesticidas, herbicidas, hormonas, antibióticos ou alimentos geneticamente modificados.
Passemos então ao que interessa, neste caso, as pizzas que — ponto extra — são feitas com farinha de trigo biológica, à qual adicionam levedura natural, água, sal e azeite. Com o tempo certo de fermentação, a massa fica com um baixo teor de glúten e, por isso, mais fácil de digerir.
Existem 12 pizzas para escolher e com bases feitas para todos os gostos. A Salsiccia e Brocoli (8,5€) é feita numa base branca, com mozzarella mas sem tomate. A Marinara (6€) tem uma base rossa, ou seja, apenas de tomate. Já a Piccante (9,5€), com tomate, mozzarella, salami picante ou a Bufalotta (9,5€), com mozzarella de bufala, tomate-cereja e prosciutto, duas das preferidas da maioria, são feitas com uma base mais completa, com direito a queijo e tomate.
Seja qual for a opção de massa, é sempre possível fazer uma pizza com ingredientes escolhidos pelo cliente. Assim que vimos a opção "base verde", foi por aí que nos aventurámos, imaginando, fruto talvez da avalanche de pizzas de couve flor ou de quinoa que prometem matar a gula mas não a linha, que nos chegaria à mesa uma pizza realmente saudável, feita com base em legumes. O que vem é na verdade uma pizza com base de farinha, como todas as outras, mas que em vez de queijo ou tomate, é pincelada com uma mistura de curgete e brócolos triturada. Salvamos esta desilusão instantânea com uns toppings que, de tão certos — beringela, cogumelos e mozzarella —, deviam dar direito a pizza na carta com o nosso nome.
Nas sobremesas, as opções ficam-se por sorvetes da Nannarella (3€), tiramissú (3,5€), affogatto (3€), que pede mesmo que atire aquela bola de gelado de baunilha para o café, e uma mousse de chocolate preto (3,50€), apta apenas para paladares menos dados ao doce.
O café expresso que fecha tudo isto é biológico, claro. Fecha? Achávamos nós. O final só é dado assim que provámos o Limontejo, assim, sem gralhas. Esta bebida, apesar de ser do mais típico que Itália deu ao mundo, é feita em Portugal, mais concretamente com limões do Alentejo. Era o digestivo que faltava para admitir que esta é mesmo uma pizzaria de sustentabilidade.