O Café IN celebra, em 2021, 25 anos. Um quarto de século a receber, com vista para o Tejo, anónimos e famosos, políticos e celebridades, para almoços, jantares, um simples café. Reuniões, celebrações, paixões, quem sabe até conspirações, tiveram aqui a sua génese.
Símbolo de uma Lisboa que fez a pazes com o rio, o Café IN deu as boas vindas, este verão, ao seu irmão mais novo, o Café IN Meat & Sushi. Já aqui tínhamos falado dele, por ocasião da abertura, mas tivemos de ver com os nossos próprios olhos (e provar, claro).
Mal fomos recebidos por Marcelo Magnoni, o hiper-competente chefe de sala do restaurante, deixámo-nos levar. Primeiro para a esplanada, porque a noite amena de outono assim o permitiu, e depois por uma viagem de sabores. Logo à cabeça, uma deliciosa (mas, temos de admitir, bastante perigosa) sangria Martini Asti, refrescante, com pepino e maçã (35€). Deliciosa porque se bebe como se fosse um refresco. Perigosa porque se bebe como se fosse um refresco. Perceberam, não perceberam?
A cozinha do Café IN Meat & Sushi é da responsabilidade do sushiman Hitan Magar, com a supervisão do chef executivo Fernando da Silva. Apresentações feitas, venha o desfile de delícias.
Começámos pela burrata frita com pesto, molho de tomate e manjericão (9€). A bola de queijo, envolvida em panko e frita, tem um exterior crocante mas, assim que a quebramos com a colher, revela um interior macio, não totalmente derretido. A riqueza da burrata contrasta na perfeição com a acidez do molho de tomate. E, apesar de este ter sido apenas o primeiro de vários pratos, gostávamos de ter tido um suporte para aproveitar ao máximo esta mistura cremosa (um pedaço de pão naan ali não calhava nada mal).
Depois, o crab custard (creme de caranguejo, toranja, gengibre e caranguejo, 14€), que achávamos ter uma consistência era, afinal, uma apetitosa espécie de tortilha, com pedaços fresquíssimos de miolo do dito crustáceo por cima.
Depois, o único prato que não nos encheu as medidas: ceviche de salmão (16€), que vinha demasiado aguado e com pedaços de pimento em excesso. A cebola roxa também estava demasiado encruada, não tendo tido tempo suficiente para amaciar nos ácidos do ceviche.
Estranhámos o que veio a seguir para a mesa mas, como bons portugueses que somos, nunca dizemos não a um bom bacalhau. E que bom que este foi, em vácuo, com puré de batata e grão (25€). Já sabíamos que a técnica de cozedura a vácuo resulta numa proteína macia e com todo o sabor, mas aqui provámos o fiel amigo em todo o seu esplendor.
Contrastando com a pele, que foi tostada e transformada em chips (das quais comíamos, na boa, uma taça cheia), os grãos de bico tostadinhos, a crepitar na boca, como se fossem pipocas... Se é uma entrada convencional? Não. Mas quem é que quer convencional quando pode ter este bacalhau?
Depois, sushi. O rei do renovado Café In não desilude. A começar pela gunkan trufada (salmão, ovo de cordorniz e trufa preta, duas peças, 14€). A explosão da gema do ovo, líquida o suficiente para se emulsionar no sabor da trufa, cria uma opulência de sabores que nos faz sentir... desculpem a expressão de pobre... que nos faz sentir ricos.
O sashimi freestyle (10 peças, 25€), fresquíssimo, cumpre o que se quer de um sashimi: sabores limpos, onde o peixe é rei e senhor. Só sentimos falta (e admitimos que nos esquecemos de pedir) de wasabi. Que também não fez grande falta, tal era a variedade de sabores do combinado premium (15 peças, 68€).
E agora, o prato que impressiona até a mais cética das almas (e que faz aquele vistaço no Instagram): nigiri de carabineiro (carabineiro frito, maionese de aipo e sésamo, 22€). O crustáceo, previamente grelhado, vem com a cauda e a cabeça intactas. O corpo foi transformado em delicados nigiris, no topo dos quais repousam os brilhos de pedacinhos de folhas de ouro. Se isto não vos enche a vista, não sei o que vos enche. Não sendo eu fã de marisco, fiquei impressionada.
Antes de passarmos ao capítulo das sobremesas, Marcelo chega com mais um prato e um sorriso. Esta recomendação, insiste, tinha de vir para a mesa. Antes de vos explicar o que é, deixo-vos a minha reação: "uau, o que é isto? Estou num churrasco ou num restaurante de sushi?". Nigiri waggyu (2 peças, 16€), que é como quem diz picanha wagyu delicadamente grelhada, arroz, foie gras, cebolete e molho temaki. É ir do Brasil ao Japão numa só dentada e sem precisar de passaporte nem certificado digital COVID.
Ainda há espaço para as sobremesas? A pergunta nem se coloca. Venham de lá os duchesses, diretamente da célebre pastelaria lisboeta A Mexicana (que pertence aos mesmos donos do renovado Café IN).
...o cheesecake com espuma de manga e Möet & Chandon (9,50€)...
E ainda uma panacotta com pão de ló e bolo de gengibre (9€). Para perceberem o nível de serviço do Café IN Sushi & Meat, quando elogiei o bolo de gengibre (que, além de macio e húmido, sabia mesmo a gengibre), no final da refeição veio parar-me à mesa um pequeno embrulho misterioso.
Spoiler alert: foi degustado ao pequeno-almoço e confirma-se: sabia mesmo a gengibre.
O melhor
- A variedade da carta, desde o sushi clássico ao de fusão, passando pela carne premium;
- A esplanada do Café IN. A vista para o Tejo, seja de dia ou de noite, nunca desilude;
- A simpatia do staff e o conhecimento aprofundado dos pratos do chefe de sala.
A melhorar
- Marcadores de papel nas mesas da esplanada. Não faz sentido num restaurante que se quer posicionar num segmento premium;
- Colunas de som em cima dos clientes. Há quem aprecie, eu sou mais fã de conseguir ouvir as conversas;
- Há um desfasamento enorme entre a decoração opulenta e cuidada do interior e a simplicidade da esplanada. Parece que estamos em dois restaurantes diferentes.
*A MAGG esteve no Café IN a convite do espaço