Aberto desde o final de 2022, o Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel foi o local escolhido para gravar o novo reality show da SIC "Os Traidores", que estreou-se no domingo, 9 de abril. Umas semanas antes, a MAGG, longe de imaginar que, dentro daquelas paredes históricas, ávidos concorrentes se iriam digladiar por barras de prata, com Daniela Ruah como mestre de cerimónias, visitou o hotel de cinco estrelas do grupo Visabeira. Não houve traições nem jogadas, apenas o prémio de poder dormir (e nadar) numa das mais impressionantes unidades hoteleiras que já visitámos.

Daniela Ruah
Daniela Ruah Daniela Ruah fotografada no interior do hotel créditos: Manuel Guerra / Divulgação SIC

O hotel é uma concessão da autarquia ao grupo Visabeira, que vai explorar o espaço do Claustro do Rachadouro (datado do século XVI) durante "50 anos a partir do momento em iniciámos a obra", explica-nos António Machado, diretor do Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel. Durante a conversa (que aconteceu em fevereiro), o responsável pela unidade hoteleira de cinco estrelas bem nos deixou dicas sobre "Os Traidores", mas nem assim captámos. Atente neste diálogo.

Jornalista: "este espaço era ótimo para gravar uma série".
Diretor do hotel: "em março vamos ter gravações aqui. Não posso revelar o quê, mas vamos".
Jornalista: "É uma série de época?"
Diretor do hotel: "Não, é atual. Mas não posso revelar mais nada".

Apresentamos desde já as nossas desculpas pela falta de perspicácia. Não pedimos, no entanto, desculpa, pelo maravilhoso fim de semana que passámos em Alcobaça, nem pela experiência única, algo surreal até, de dormir entre paredes com quatro séculos de história.

"Aqui respira-se o som do silêncio. Aqui há uma acústica natural. Naquela época, a classe culta era a igreja e acho que eles provocavam esta caixa sonora para, enquanto estavam a pensar, quase ouviam os pensamentos em resposta", salienta António Machado, que também é diretor do Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel.

O homem forte dos hotéis do grupo Visabeira vai explicando, em tom pausado e quase monástico, a história, os bastidores, o que foi preciso até as portas do hotel se abrirem. E há, de facto, uma ambiência que convida à reflexão, nestas paredes que já viram de tudo e que já serviram de casa a tantas outras instituições que não as religiosas, desde bancos a departamentos camarários. 

Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel
Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel

Minimalismo, essa palavra usada até à exaustão, muita vezes fora de contexto ou inadequada, é perfeita para descrever os espaços interiores do hotel. Quer nos quartos, quer nas zonas comuns, há o estritamente necessário para que nos sintamos confortáveis e acolhidos. Mas aqui o vazio também é um elemento decorativo, para que o espaço, que tanto escasseia no bulício das cidades, seja a personagem principal deste cerimonial.

Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel
Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel Um dos quartos do Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel

Nos quartos, à exceção das cadeiras em tecido, que são criação do também galardoado arquiteto Álvaro Siza Vieira, todo o mobiliário e candeeiros foram desenhados por Eduardo Souto Moura. O arquiteto português é o grande responsável pelo projeto que transformou o Claustro do Rachadouro num hotel de cinco estrelas. “Nós apenas ‘poluímos’ isto com os vasinhos com as flores. Tudo Vista Alegre! (risos)”, brinca António Machado, referindo-se às várias peças decorativas e às velas perfumadas da quase bicentenária marca, também propriedade do grupo Visabeira. 

Nos amplos corredores captaram-nos o olhar os cilindros metálicos colocados ao longo do chão. Como nos explica António Machado, servem para dispersar calor, mantendo assim quente e confortável o edifício, cujas paredes chegam a ter "dois metros de largura". "Vamos andando e, de repente, já não estamos a vê-los. Mas eles estão lá", salienta.

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Sendo Alcobaça uma cidade pequena e estando o hotel colado ao mosteiro, a visita ao monumento é obrigatória. "Neste momento, com a instalação do hotel nesta parte do mosteiro, o outro mosteiro vai beneficiar. Acho que o próprio ministério da Cultura vai sentir-se na obrigação de olhar para a atribuição de verbas de conservação e manutenção de uma maneira muito mais eficiente", ressalva o diretor do Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel.

De paragem não obrigatória, mas altamente recomendada, sobretudo quando a fome apertar, é a célebre Pastelaria Alcôa, sobejamente conhecida pelos doces conventuais. E, para jantar, recomendamos uma visita a um dos mais populares (e, como pudemos confirmar, maravilhosos) restaurantes da cidade, o António Padeiro. Vá é com fome a sério, que as doses não são para piscos.

Uma piscina que vale por toda a visita (ou quase)

Tal como nos explicou o diretor do hotel, operar num espaço que tem, desde a primeira pedra, 900 anos de história tem as suas limitações. Por exemplo, não é possível ter uma piscina exterior porque as leis não o permitem. Mas, aqui entre nós que ninguém nos ouve, não faz falta. Isto porque a interior rivaliza com as mais paradisíacas piscinas que alguma vez vão ver (sobretudo se forem fãs de História e quiserem nadar em Património Mundial da UNESCO, classificação que o mosteiro de Alcobaça conquistou em 1989).

Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel
Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel A piscina do hotel créditos: DR

A piscina não é literalmente dentro do mosteiro, mas sim no hotel, nos claustros. "Parece quase uma cúria romana", aponta António Machado. Não temos, ainda, a tecnologia para viajar no tempo e saber como é que os romanos conviviam nas suas termas. Mas talvez esta seja a versão mais aproximada.

Nadar, em pleno inverno, entre colunas de pedra maciça, que testemunharam mudanças de regime, que viram passar por elas gerações atrás de gerações, impõe respeito. E nada foi deixado ao acaso no espaço do hotel dedicado ao bem estar. Há um pequeno ginásio, sauna e banho turco, estes últimos (bem como os balneários de apoio à piscina) instalados em caixas gigantes, de madeira, que estão enquadradas no edifício mas podem, se for necessário, ser desmontadas, deixando o espaço tal como estava originalmente.

A mesma ideia foi aplicada nos quartos, estando a casa de banho separada do quarto também por uma caixa de madeira, que nos seus tons claros, ajuda a tornar um espaço que pode tornar-se austero, num lugar agradável, luminoso e convidativo ao descanso. Isso e as camas confortáveis, não demasiado moles, e também as paredes grossas que, por muito rija que seja a festa lá fora, insonorizam qualquer ruído.

O café do nosso descontentamento (e a falta de oferta de produtos locais)

Se adorámos a nossa estadia no Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel? Adorámos e queremos muito voltar. No entanto, há dois pontos negativos que não podemos deixar de assinalar.

  1. as amenities (champô, amaciador, gel de banho) que encontrámos no quarto ficam muito aquém daquilo que está atualmente disponível nas unidades hoteleiras de cinco estrelas. Os frascos pequeninos, com produtos cuja qualidade deixava a desejar, não correspondem aos padrões de outros hotéis desta tipologia;
  2. E, para nós, o mais flagrante: a máquina de café, daquelas industriais e ruidosas, no pequeno-almoço. Este tipo de oferta faz sentido num hotel mais modesto ou até num hostel, mas quando se está dentro de um edifício idealizado por Eduardo Souto Moura, ter de ser o próprio hóspede a servir-se de uma máquina que, a meio do serviço de pequeno-almoço, já está cheia de manchas ou a pingar café com leite é, no mínimo, bizarro. Espera-se, no mínimo, que o café seja servido à mesa ou, como já vemos em muitas unidades hoteleiras, que seja trazida uma prensa francesa com café fresco (além de fazer um vistaço, é garantia de que a bebida foi preparada com pouco tempo de antecedência). A oferta de comida também não era fabulosa, o que chateia ainda mais tendo em conta que estamos numa região onde abunda o bom pão, a boa fruta e legumes. Umas compotas locais, umas peras e maçãs da zona, qualquer coisa que transformasse esta refeição anódina numa experiência alcobacense, teria sido bem-vindo.

Veja as fotos do hotel

De acordo com simulação feita no site do hotel para o fim de semana de 15 e 16 de abril, uma noite num quarto tipologia twin, custa 197€ (com pequeno-almoço incluído).

Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel

Localização: R. Silvério Raposo 2, 2460-075 Alcobaça
Contactos: (+351) 262 243 310
Site