Voltar ao Porto é sempre um prazer. Sim, é um daqueles clichés que as pessoas que não são do Porto costumam dizer mas, no nosso caso, é sempre verdade. Aproveitámos a ida à Invicta, a propósito de um almoço no DOP Porto no qual ficámos a conhecer melhor os Queijos DOP da Região Centro para visitar a recém-inaugurada Pousada Pestana Porto.
Situado na Rua das Flores, o mais recente hotel da marca Pousadas de Portugal (que faz parte do grupo Pestana) é um refúgio de aconchego luxuoso naquela que é "uma das ruas mais artísticas do país", segundo as palavras de Corneliu Popa, assistant manager da Pestana Pousada Porto. E também uma das mais emblemáticas, nascida há 500 anos, onde antes existiam hortas.
A primeira agradável surpresa acontece quando chegamos ao quarto, decorado em tons alegres, azuis e amarelos, que contrastam com o painel de madeira da cabeceira. Apreciamos um quarto de hotel apetrechado com uma chaleira, chá e café à disposição e, nesse aspecto, a Pousada Pestana Porto não desiludiu. Outro ponto positivo: chávenas de tamanho generoso, daquelas que dá gosto agarrar enquanto se bebe um fumegante chá preto, ao invés daquelas pequeninas, que se esvaziam em dois goles.
A segunda agradável surpresa tem o seu quê de escatologia. Por isso, se é mais sensível ou se o seu sentido de humor não está inclinado para essas especificidades, não continue a ler. Além de uma cabine de duche espaçosa e com um chão verdadeiramente antiderrapante (coisa rara, o que nos faz, cada vez que entramos neste tipo de situações, temer pela nossa vida ou equacionar tomar banho de chinelos), há uma sanita com vista. Isso mesmo. Sanita com vista para o Douro e para Gaia. O tempo que se passa neste vaso de cerâmica ovalado é da intimidade de cada um mas, quase sempre, são minutos que se aproveitam para pensar, ler, consultar as redes sociais ou (admitam) passar aquele nível de Candy Crush. Aqui, não são precisas distrações, basta olhar pela janela e descansar a vista.
E, por falar em descanso, há muito sítio onde retemperar energias neste pequeno grande hotel, nascido num edifício do século XVIII, totalmente recuperado, e decorado com o bom gosto e talento de Miguel Câncio Martins (responsável também pelo Cura, o restaurante do Ritz Four Seasons Lisboa, Hotel Quinta da Comporta, Sublima Comporta, restaurante Largo, entre outros). Seja num dos acolhedores sofás do lobby ou do P Gastro Bar, onde é possível beber um café, um cocktail ou até fazer uma refeição ligeira, seja no fitness center ou na piscina interior.
Como já tínhamos gastado muita energia a degustar os pratos maravilhosos preparados pelo chef Rui Paula (inserir smile a piscar o olho), optámos por dar umas braçadas na piscina interior. Apesar de pequena, é aconchegante, com a água à temperatura certa e — muito importante para os registos instagramáveis — a luminosidade ideal.
Tivemos a sorte de estar uma boa hora ali, só a relaxar, entre a piscina e a sauna e só há uma palavra para resumir este momento: paraíso.
E por falar em paraíso, temos mesmo de falar do pequeno-almoço deste hotel. Não tanto das iguarias em si mas da forma como estava disposto. Ao invés de longas bancadas corridas, onde os indecisos ficam pasmados a olhar, impedindo o acesso daqueles que, assim que acordam, já sabem que vão querer bacon, ovos mexidos, duas torradas, uma taça de fruta e mais ovos mexidos, a oferta está distribuída por várias estações, permitindo a circulação suave, mesmo nas horas de maior afluência. De tudo o que estava disponível (e a oferta era, realmente, muito simpática) agradou-nos particularmente a fruta cortada em pedaços generosos.
"O nosso projeto é uma homenagem à Rua das Flores"
Corneliu Popa está como peixe na água no Pestana Pousada Porto. O assistant manager do hotel explica-nos o fascínio pela Rua das Flores, pela presença dos artistas de rua, pelas caixas de eletricidade decoradas com pinturas. "O nosso projeto é uma homenagem à própria rua, buscando os motivos florais na decoração", que descreve como "etéreas e relaxantes". Chama-nos a atenção para as camélias, desenhadas na carpete do quarto.
O edifício onde, em outubro, abriu portas o hotel era, no século XVIII, de habitação e comércio. "Se reparar, do lado de fora, cada janela tem um número. Eram oficinas, lojinhas, ateliers e, por cima, vivia muita gente, em condições precárias a partir dos anos 1970", explica.
Esta ligação umbilical do edifício à cidade, às gentes que por ali passaram, faz com que algumas visitem o hotel. "Lembram-se de como isto era. O pátio já existia, era onde eles brincavam", conta Corneliu, revelando que o antigo selecionador Artur Jorge nasceu naquele prédio.
Apesar de não haver nenhum motivo para sorrir no que toca ao impacto que a pandemia teve no setor turístico, o atraso na abertura do Pestana Pousada Porto fez com que esta coincidisse com a celebração dos 500 anos da Rua das Flores. Corneliu sugere aos visitantes do hotel que, sem planos, passeiem pela rua (pedonal de uma ponta à outra) e se deixem encantar pelos cantores que animam quem passa. "Parar em esplanadas, usufruir desta vida que foi devolvida a esta rua, que era de má fá, quase perigosa e que ressuscitou de maneira fantástica".
O preço por noite, em quarto duplo, começa nos 185€ (de acordo com simulação feita no site do hotel para check in a uma sexta-feira).
*estadia da MAGG a convite do Pestana Pousada Porto - Historic Hotel