A poucas semanas do fim de julho, a vida continua estranha e repletas de "ses" quanto aos efeitos do desconfinamento em plena pandemia. Em interações sociais, os gestos não se materializam em pleno, exceto para o já rotineiro abrir da embalagem de gel desinfetante para afastar o bicho, e na economia o embate prevê-se violento. Apesar disso, Freddie Mercury, o vocalista dos Queen, tem toda a razão: "The show must go on." Talvez por isso, e numa altura em que o sector do turismo enfrenta grandes dificuldades, faça todo o sentido abrir uma nova unidade hoteleira no País já com meio Portugal a sair de casa.

É na Rua Filipe da Mata, a cinco minutos da Praça de Espanha, em Lisboa, que o grupo português Trius Hotels decidiu abrir o seu novo espaço temático de três estrelas — o The ICONS Hotel — que presta homenagem a algumas figuras mundiais e nacionais através de aforismos em todo o espaço e imagens destas personalidades nos 31 quartos, distribuídos pelos cinco pisos que compõem a unidade.

Embora não haja Freddie Mercury, há retratos de Nélson Mandela, Albert Einstein, Gandhi, da princesa Diana e ainda da fadista Amália Rodrigues, do futebolista Eusébio ou de Fernando Pessoa.

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Depois de a pandemia ter atrasado a abertura ao público, o The ICONS Hotel está em regime de soft opening deste sexta-feira, 10 de julho, e isso foi pretexto mais do que suficiente para deixar o teletrabalho e ir conhecer um bocadinho desta nova normalidade — mesmo que com distanciamento social, máscara e dispensadores de gel desinfentante a cada esquina.

À entrada do hotel, onde se encontra o concierge mas também um pequeno espaço de lazer para um cocktail de boas-vindas, as cores dominantes fazem por se apresentar. O laranja quente, mas nunca agressivo, dos sofás mistura-se com o branco das paredes e a madeira rústica dos móveis para transmitir conforto sem nunca parecer berrante.

Subindo as escadas, o tema mantém-se e a primeira sala comum faz uso do mesmo laranja dos sofás para pintar as paredes que, aqui, são complementadas com frases de algumas das figuras que ilustram a unidade. "Everything is worth it when the soul is not small", assim mesmo, em inglês, surge por cima do nome de Fernando Pessoa. "You don't sing Fado. It happens", é atribuída a Amália.

João Monteiro, diretor do hotel, explica que esta identidade "muito própria" do espaço não vem ao acaso. "A ideia de criar esta unidade foi oferecer uma qualidade elevada a quem nos procura apesar da classificação de três estrelas." Por isso, e olhando para trás, diz que seria "uma loucura" criar um espaço destes sem esse selo que marcasse pela diferença. E a diferença começa, precisamente, pelo conceito temático que "nos aproxima uns dos outros" através da homenagem a figuras que mercaram gerações.

Nos quartos, que fazem uso do mesmo esquema de cores do hotel, essa ideia é reforçada através dos retratos de algumas dessas figuras, que estão estrategicamente colados por cima das camas.

E embora cada quarto homenageie uma personalidade diferente, João Monteiro diz que já é possível identificar os mais populares: os referentes a Amália, Eusébio e à princesa Diana, que o diretor diz ser o melhor — não só por ser maior, mas também por oferecer uma vista privilegiada sobre a cidade por estar localizado no quinto piso do edifício. Foi, aliás, nesse mesmo quarto que ficámos hospedados.

Ao abrir a porta, o que encontrámos foi um quarto limpo, arejado e bastante iluminado por uma grande janela que serve de acesso à varanda e que convida ao café matinal ao ar livre. Como pano de fundo? Uma vista panorâmica sobre algumas das artérias principais da cidade.

Cada quarto está equipado com um cofre, uma televisão com acesso a vários canais nacionais e internacionais, internet de alta velocidade (nenhum millennial dispensa isto), uma máquina de café, secador para o cabelo, ar condicionado, balança, gel de banho e toalhas — duas de rosto e duas para o corpo.

A cama, embora não seja muito alta, é extremamente confortável e macia. No entanto, um ponto a reforçar no futuro: a aposta em almofadas de dormir de tamanhos alternativos para cada tipo de hóspede. Não teria sido mal pensado a inclusão de almofadas um pouco mais altas. E já que estamos a pedir, porque não disponibilizar também uns chinelos descartáveis? Se a ideia é a apostar na qualidade elevada, mesmo para um três estrelas, o caminho também pode passar por aí. Fica a sugestão.

No quarto em que estivemos hospedados também não havia cabides, mas a MAGG sabe que existem porque viu colaboradores, sempre simpáticos e prestáveis, a transportá-los pelo hotel. No entanto, e como João Monteiro já nos tinha explicado durante a apresentação da unidade, era possível que ainda não estivessem afinados todos os detalhes. A culpa é da pandemia que, diz, veio alterar os planos.

Por isso, o regime de soft opening, que o diretor prevê que se mantenha até ao final de julho, vai servir também para "poder limar algumas arestas e garantir que a inauguração oficial é feita a todo o gás."

"Contamos estar a funcionar a todo o gás já no início de agosto, mas ainda estamos muito dependentes da evolução dos casos de contágio no País e, em especial, na região de Lisboa", refere. O hotel conta ainda com um ginásio, de livre acesso aos hóspedes, com três máquinas: uma passadeira, uma bicicleta e uma estação de musculação.

The ICONS Hotel
The ICONS Hotel créditos: MAGG

Ao valor de cada estadia, que ronda os 48€ por noite por um quatro duplo, é oferecido o pequeno-almoço servido no restaurante, localizado no piso inferior do hotel e acessível apenas através de um lance de escadas. Apesar disso, está instalado um sistema de acessibilidade para cadeiras de rodas.

Para já, o restaurante só serve pequenos-almoços. E João Monteiro, diretor do hotel, garante que os horários estão a ser agilizados com os hóspedes para que estes cheguem de forma faseada para se evitar ajuntamentos na sala. "Estamos a coordenar-nos para que, durante o período de pequenos-almoços, não estejam mais de seis pessoas na sala", explicou durante a tour pelo hotel.

Mas quando os dois jornalistas da MAGG chegaram à sala na manhã de sábado, 11 de julho, já estavam sete pessoas sentadas e a comer. Apesar disso, a disposição da sala permitiu que, mesmo nessas condições, a distância física estivesse sempre assegurada e nunca, em momento algum, nos sentimos receosos. Mas temos algumas dúvidas quanto ao facto de funcionar em regime de buffet.

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É que isso implica a partilha de utensílios entre hóspedes — como as pinças para os queijos e fiambre ou as colheres para os ovos mexidos. Além disso, há uma série de outras superfícies que são de contacto comum, como as bancadas onde as vários opções de comida estão expostas, os botões da máquina de café automática ou até a prateleira dos pratos.

O diretor do hotel garante-nos que todas as superfícies são devidamente higienizadas e nada no aspeto geral da unidade nos faz duvidar disso, mas numa altura em que o medo fala sempre mais alto, não faria mais sentido um serviço à carta? Fica, novamente, a sugestão, que reforçamos com a necessidade de se apostar numa maior variedade de alimentos em que se consiga encontrar um balanço entre opções saudáveis e outras mais calóricas.

Ao pequeno-almoço falta equilíbrio e variedade

Para pequeno-almoço havia sumo de laranja, ananás fatiado, salada de fruta, iogurtes, queijo fresco, queijo fatiado, fiambre, pão, croissant simples, croissant de chocolate, bolo mármore, bolas de Berlim, manteiga com sal, Nutella para barrar, pastéis de nata, salsichas de porco, bacon, ovos mexidos, leite de vaca, café e cereais.

Não encontrámos bebidas vegetais (de arroz, amêndoa ou soja) ou alternativas às manteigas com sal — como a manteiga de amendoim, por exemplo —, e faltou fruta além do ananás fatiado e que podia muito bem ter sido complementado com laranja, melancia ou qualquer fruta da época. Possibilidade de escolha deveria ser a palavra-chave, mesmo para um três estrelas.

Regra geral, havia muito açúcar nas opções disponibilizadas e os ovos mexidos, que são um clássico de qualquer hotel mas que ficam sempre bem, estavam demasiado secos. Talvez por estarem expostos há demasiado tempo.

É no pequeno-almoço que o The ICONS Hotel mais pode melhorar, especialmente numa altura em que há cada vez mais preocupação em oferecer uma alimentação saudável, equilibrada e variada. E isso é o que a cozinha da unidade ainda não oferece.

Este é talvez o ponto mais negativo numa experiência que, para lá disso, cumpre tudo aquilo que promete: oferecer alguma calmaria no centro de Lisboa, com uma estética acolhedora e reconfortante, mas também com algum saudosismo pela normalidade tranquila que a pandemia nos tirou.

A MAGG passou uma noite no The ICONS Hotel a convite da unidade hoteleira