Mais do que uma exposição que se vê, é uma exposição que se sente. Há uma Máquina dos Sonhos, inventada na década de 1950, e luzes que se veem de olhos fechados. Aquilo que se vive na Alpha Wave Experience, aberta ao público desde esta quarta-feira, 6 de abril, não dá para partilhar nas redes sociais. E porquê? Porque o culminar da exposição acontece apenas dentro da cabeça do visitante.
Confuso? Mais ou menos. A MAGG foi até à Galeria BOA conhecer esta exposição, criada por um coletivo de artistas liderado pelo DJ e produtor musical francês Dan Ghenacia. Há projeções de imagens acompanhadas por música e um ecrã onde podemos acompanhar as ondas cerebrais de quem está na etapa final da experiência: a Máquina dos Sonhos.
E o que é esta máquina? É uma reinterpretação da Dream Machine, criada na década de 1950 pelo artista britânico Brion Gysin. Trata-se de um um dispositivo de luz estroboscópico que produz um estímulo visual e gera mecanicamente ondas alfa, construído em colaboração com a designer industrial Anine Kirsten. Uma roda gigante com luzes brilhantes e um disco com várias perfurações, que roda e produz efeitos de luz.
Mas o propósito não é observá-la mas sim sentir a luz de olhos fechados. Os visitantes são previamente equipados com auscultadores (nos quais se ouve a música criada por Dan Ghenacia e Tolga Fidan) e um dispositivo de neurofeedback, colocado na cabeça, que regista as ondas alfa, beta e teta, as reações do cérebro às ondas Alfa geradas pela máquina (geralmente o próprio cérebro gera essas ondas na altura do sono, sonho ou meditação). Essas ondas são transformadas em imagens através de um software, o que resulta num filme único, criado pelo cérebro da pessoa que passa pela experiência.
E o que é que se vive naqueles 10 minutos de olhos fechados, em frente à Máquina dos Sonhos? Cada experiência é única. Há quem veja apenas formas geométricas e se sinta profundamente relaxado, há quem tenha visões e há até quem sonhe acordado. A nossa experiência foi uma combinação de relaxamento e euforia. Não chegámos ao ponto de ter sonhos lúcidos mas, à medida, que as luzes iam mudando de cadência, conseguimos vislumbrar algumas formas humanas e até um animal.
Não, não estamos a inventar. A verdade é que a visita à Alpha Wave Experience é difícil de traduzir por palavras e impossível de reproduzir em imagens. Porque estas ficam apenas gravadas na nossa memória e não são partilháveis. É talvez a maior beleza desta experiência, ser incomparável.
"Apercebi-me que esta máquina seria muito importante para o tempo que vivemos"
O acaso e, mais tarde, a pandemia da COVID-19, fizeram com que Dan Ghenacia tivesse a ideia de recriar a Máquina dos Sonhos de Bryon Gysin. Tudo começou em 2014, quando procurava inspiração para os visuais dos espetáculos dos Apollonia (coletivo musical ao qual pertence). Pesquisou palavras-chave como "gira-discos", "estroboscópio", "transe", "meditação", e tropeçou no engenho criado pelo artista britânico. A ideia ficou guardada na gaveta até que, em 2020, o mundo parou. Não havia festas onde atuar, não havia público para dançar ao som da sua música. E foi nessa altura que a Máquina dos Sonhos passou de apenas uma ideia para a realidade, consubstanciada agora na Alpha Wave Experience, que faz a sua estreia em Portugal.
"Quando a pandemia começou, eu achava que ia acabar em 10 dias. Mas, quando me apercebi que ia ficar em casa durante muito tempo, que não podia viajar, que não podia fazer o meu trabalho, comecei a pensar nesta máquina. Com ela, posso ter uma viagem interior, uma experiência psicadélica. Tudo começou a tomar forma quando me apercebi que a Terra estava menos poluída, então apercebi-me que esta máquina seria muito importante para o tempo que vivemos", explica Dan Ghenacia à MAGG.
O protótipo fez parte da exposição “Dreamsongs: From Medicine to Demons to Artificial Intelligence”, na Galeria Colnaghi, em Londres, em 2020. Dan conta-nos que, das quase 100 pessoas que já se sentaram à frente da Máquina dos Sonhos, há experiências muito diferentes. "Há pessoas que veem coisas loucas, há quem ache que esteve ali uma hora quando são apenas 1o minutos. Perde-se muito a noção do tempo".
A Alpha Wave Experience pode ser visitada a partir desta quinta-feira, 7 de abril, na Galeria BOA (Rua da Boavista, 73, Lisboa). A exposição está disponível de quarta a sexta-feira, entre as 12h e as 20h, e sábados e domingos das 11h às 20h.
A entrada, limitada a quatro pessoas por cada 30 minutos, custa 10€ e tem de ser previamente reservada através da plataforma Shotgun.