Alex é uma mulher cheia de sonhos. Mas quando a relação que mantém com o parceiro Sean, com quem tem uma filha, resvala para a agressão física e psicológica, a vida é posta em suspenso. É quando decide bater com a porta, e fugir, que lhe é permitido ser gente outra vez. Longe dos maus-tratos do companheiro, um agressor sem redenção, chegam-lhe novos dilemas, mas nenhum mais complexo do que aquele que se mantém constante do início ao fim da história: a necessidade de se manter à tona e arranjar dinheiro para pôr comida na boca na filha ao final do dia.
É esta a história de "Criada", a segunda série mais vista da Netflix em Portugal, atrás de "Squid Game", e com Margaret Qualley (de "Era Uma Vez... em Hollywood", o mais recente filme de Quentin Tarantino) no papel de Alex.
Num certo momento da série, é-lhe resumido tudo aquilo de que precisa de saber sobre a sua nova situação. O trabalho, diz-lhe uma das suas patroas, "é a única coisa com que se pode contar na vida, porque tudo o resto é demasiado frágil" e pode escapar a qualquer instante.
As palavras ressoam na cabeça de Alex, antes com inúmeros sonhos que queria ver cumpridos, mas agora obrigada a readaptar-se a uma nova realidade: sem casa, em constante movimento por entre centros de acolhimento para vítimas de violência doméstica, a trabalhar enquanto empregada doméstica com condições precárias e a lutar por todos os apoios locais para se manter viva.
A história, que se desenrola ao longo de dez episódios, avança lentamente porque os dilemas com que a protagonista se enfrenta são vários e morosos. Os problemas legais em que se vê metida custam-lhe mais dinheiro do que aquele que ganha a esfregar escadas ou casas de banho, muitas vezes em condições desastrosas. Mas encontramos em Alex a determinação e a coragem de sorrir e manter a cabeça erguida, mesmo quando a resignação parece o caminho mais fácil.
Mas o caminho que Alex escolhe é longo e tortuoso. Enquanto espectadores, cabe-nos acompanhar, sempre impotentes, a uma jornada dura, mas inspiradora, de quem é convidada a desistir a cada curva, a cada obstáculo, mas decide seguir em frente.
A Alex que conhecemos no final da série não é a mesma do primeiro episódio. Mas alguma coisa se perdeu pelo caminho, diz-nos o seu olhar maduro, ainda que triste. Era inevitável.
"Criada", a série da Netflix, é da autoria de Molly Smith Metzler. Do elenco fazem parte nomes como Nick Robinson, Andie MacDowell, Anika Noni Rose e Tracy Vilar.