Portugal perdeu este sábado, 19 de junho, contra a Alemanha por 2-4 no Euro 2020. Trágico. Nas horas anteriores ao jogo, acompanhei as reportagens televisivas que se foram fazendo um pouco por todo o mundo — aquelas em que os jornalistas põem os microfones à boca dos adeptos portugueses para que eles façam as suas previsões — e só conseguia pensar em duas coisas: 1) como seria uma ironia desgraçada se, face ao que a maioria dizia, de que Portugal iria ganhar, acontecesse o inverso; e 2) que se fosse eu o entrevistado, diria uma qualquer bacorada como dizer que um dos golos seria de alguém que já não está na seleção. Como Quaresma, ou assim.
É que não percebo nada de futebol, mas não faz mal, porque este texto também não é sobre isso. Mais ou menos.
Assim que Portugal entra em campo, fico dividido. Os 11 jogadores preparam-se para cantar, em plenos pulmões, um hino que reforça o nosso passado colonial que muitos teimam em não reconhecer ou debater. Faço frete, mas segundos depois estou a cantar com eles. Somos pessoas contraditórias e não há nada de mais fascinante em ver como uma canção e uma melodia nos levam à lágrima fácil e sempre expectável quando o contexto é a representação de Portugal em competições europeias ou mundiais.
É neste momento que, qual inspetor Gadget, identifico que, a haver um qualquer concurso que premiasse a seleção mais afinada do Euro 2020, Portugal teria de ganhar. Com a voz mais ou menos grave, todos os jogadores cantam nos tempos e nunca se deixam intimidar pela câmara que teima em fazer planos fechados, e quase incomodativos, das rugas de cada um. Do lado da Alemanha, os jogadores cantam também em uníssono embora, perdoem-me os alemães, o nosso hino seja bem mais melódico e emocionante (mesmo que problemático).
Sobre o jogo? Percebo pouco. Quase nada, atenção. Mas embora não saiba se este terá sido o pior de sempre de Portugal, aos 15 minutos já suava do bigode ao ver-nos encostados à nossa baliza enquanto a Alemanha pressionava. De cada vez que Portugal defendia, o comentador da TVI dizia que estava tudo tranquilo e controlado. Ri-me várias vezes. Controlado é tentar fazer uma omelete, ela partir-se e uma pessoa safar-se com ovos mexidos, fazendo passar a ideia de que estava tudo planeado. Após cerca de 15 minutos de pressão, de troca de bola fluÍda (olhem para mim a usar termos destes) e de ataque constante da Alemanha, Cristiano Ronaldo corta um ataque contrário e, em 14 segundos, põe-se na baliza contrária para marcar golo. Foi este o momento de omelete convertida em ovos mexidos de Portugal. O único do jogo. "Tudo planeado", pensei em nervos.
Aparentemente, o golo teve de ser validado pelo VAR porque um jogador estava não sei o quê sobre a linha da bola (ou da defesa?), mas o comentador da TVI reforçou que o golo "era limpo". Não sei se foi limpo (os comentadores disseram que sim e o VAR validou), mas o que se seguiu foi um desastre.
Porquê? Não faço ideia, que análises futebolísticas não é comigo. Aquilo que o meu fraco conhecimento de futebol me permite dizer é que os apanha-bolas foram rápidos a repor a bola no jogo e tal; Portugal teria marcado outro por Renato Sanches se tirássemos os postes da baliza; e que o relvado estava giro com aquelas riscas como padrão. Alguém sabe para que servem? Se sim, enviem e-mail e expliquem-me por favor. Tem de haver um motivo.
Após o golo de Portugal, sofremos dois seguidos. A minha perceção, vinda de quem percebe pouco disto, é que, na verdade, sofremos dois autogolos. A jogar com 13, também eu ganhava, ora. Talvez tivesse sido boa ideia transmitir aos nossos jogadores a baliza em que deveriam marcar, pensava eu do conforto do meu sofá, a devorar amendoins e à beira de um ataque de pânico com tanta discrepância de qualidade entre o jogo contra a Hungria e este.
Nas redes sociais, multiplicavam-se comentários de pessoas, alegadamente mais competentes, que diziam que o problema vinha do lado direito da defesa que parecia deixar os alemães passar. Outros diziam que o pior jogador estava a ser o Danilo. Já eu via alemães a entrar por todo o lado. Era o meio-campo que não pressionava, não segurava nem parecia compensar as falhas dos colegas. Não sei se estou a fazer sentido, até porque não sei o que isto quer dizer, mas foi o que ouvi dizer. Se está na internet, tem de ser verdade.
Quando a segunda parte começa, Portugal sofre o 1-4. Massajo o queixo como que tentando perceber o que está a falhar e começam a ser feitas as primeiras substituições. Concordo com todas. Não percebendo nada, é fácil. Ainda que Portugal reduza para 2-4, o tempo vai passando e começa a ficar cada vez mais difícil recuperar.
Jogámos em 4-4-2 (que só recentemente percebi que, ao somar os três números, o resultado é dez, o que equivale a dez jogadores, sendo que o 11.º é o guarda-redes e não conta na disposição da equipa em campo). Talvez se jogássemos ao contrário fosse diferente? Sei lá, só uma teoria de pseudo-treinador de bancada que, neste caso, percebe zero disto mas ganhou uns quantos jogos no FIFA na PlayStation 4.
E por falar nisso, não dava para, como nos FIFA para consolas, carregar no start e começar do zero? Acho mal, até porque estava muito calor (houve duas paragens para hidratação) e ninguém gosta andar todo suado ao longo de 90 minutos. Todo este jogo foi estranho. Tanto que até um pombo lá andou pelo meio. O que, certamente, terá contribuído para a falta de atenção de Portugal.
Ehehehe.
O próximo vai ser melhor. É com a França.
(Não temos o Éder, pois não?).