Eirin Cecilie Gjedrem era daquelas crianças impertinentes, que não conseguiam ficar quietas. Tinha um estilo de vida saudável e o desporto era uma constante na sua vida. Adorava praticar equitação, chegou a fazer competições de natação e, assim que a neve começava a cair, o esqui e o snowboard eram as modalidades que a apaixonavam. Até que, aos 14 anos, tudo mudou, quando ficou tetraplégica.

Atualmente com 36 anos, Eirin tem um canal de Youtube, que conta com mais de 20 mil subscritores. E é precisamente essa plataforma que utiliza para mostrar como é que, mesmo estando paralisada, consegue viver a vida com alguma normalidade. Por isso, das rotinas aos desafios diários, passando pelos triunfos e conquistas, o seu canal homónimo é como se de um diário do quotidiano se tratasse.

Ainda que, hoje em dia, pareça já ter feito as pazes com aquilo que o destino tinha reservado para si, a voz treme de mágoa e os olhos enchem-se de lágrimas quando conta como tudo se desenrolou. Voltando o filme atrás, num vídeo do seu canal, a youtuber conta os eventos trágicos que ocorreram em julho de 2001.

Em jovem, costumava passar as férias de verão na casa dos avós, porque ficava no litoral da Noruega, junto ao oceano. Nesse ano, teve a companhia de uma amiga, que estava a visitá-la. E o calor que se fazia sentir naquele dia encaminhou-as até à praia, onde ficaram a conversar, alapadas na areia.

Até que, sem mais nem menos, Eirin foi assolada por sensações que não conseguia descrever. "Tenho um péssimo pressentimento de que algo mau vai acontecer hoje", comentou com a amiga, sem saber que, dentro de minutos, a sua vida iria mudar drasticamente. Para que aquilo não lhe arruinasse o dia, acabou por não se deixar afetar pelo que sentia, porque "não era nada que conseguisse prevenir", continua a explicar no seu vídeo.

Depois de vários dedos de conversa, o par decidiu que estava na altura de ir nadar. A amiga de Eirin acabou por recuar nessa decisão, uma vez que a água estava demasiado fria. Mas o mesmo não aconteceu com a youtuber, que, não se dando por vencida, dirigiu-se até ao pontão da praia, de onde costumava saltar. Foi aqui que encontrou um homem a fazer o mesmo e que, depois de dar um mergulho, a incentivou a fazê-lo também.

Mulher com mais de 230 trinetos conhece a primeira tetraneta. Fotografia com 6 gerações vivas torna-se viral
Mulher com mais de 230 trinetos conhece a primeira tetraneta. Fotografia com 6 gerações vivas torna-se viral
Ver artigo

"Já tinha saltado daquele pontão várias vezes, de vários ângulos e posições diferentes. Era um sítio que eu conhecia – ou que julgava que conhecia", diz, com ar contemplativo, acrescentando que a água estava particularmente pardacenta naquele dia, devido a uma quantidade exorbitante de algas.

Por não ter medido bem a profundidade, a situação deu para o torto. Depois de saltar, sentiu a deliciosa frescura da água a percorrer-lhe o corpo – que logo deu lugar a dores, uma vez que teria embatido contra algo dentro do mar. "Foi incrivelmente doloroso durante um segundo", explica, frisando que o que se seguiu foi uma sensação de dormência.

De costas viradas para a superfície, a jovem não conseguia perceber porque é que os seus braços estavam imóveis. Queria gritar, pedir ajuda, mas não conseguia – até que parou de tentar. "Eu lembro-me de que parei de lutar, porque, de repente, parecia que já não precisava de respirar e que aquilo já não era doloroso. Ficou tudo calmo e silencioso e lembro-me de pensar para mim: 'bem, estou morta'", conta.

O conforto e a calmaria continuaram a apoderar-se do seu corpo, tendo a youtuber relatado que chegou até a ver uma luz dourada e quente, no fundo do oceano, que parecia atraí-la – quase como se fosse a morte a chamá-la. Mas assim que entraram dentro de água para socorrê-la, a luz desapareceu e o que se seguiu foram dias de muitas dúvidas.

Isto porque, já no hospital, ainda sem perceber muito bem o que se passava, foi submetida a vários exames e operações. E só quando acordou de uma dessas intervenções cirúrgicas é que lhe disseram aquilo que nunca pensou ouvir: que estava paralisada e que nunca mais iria andar.

Eirin estava, oficialmente, tetraplégica. Isto significa que, do pescoço para baixo, não consegue o mexer o corpo – apesar de poder fazer alguns movimentos com os braços. Ainda assim, não deixou que isso a demovesse, tendo sempre contado com a ajuda das pessoas mais importantes da sua vida, como a mãe e o marido, Steinar Frøiland, com quem começou a namorar três anos depois do acidente. Mesmo com a história de vida complicada de Eirin, o par acabou por casar-se em 2010.

o
créditos: DR

O que faz sentido para si, atualmente, é partilhar sua história com outras pessoas. Foi por isso que, no último dia de 2022, quase como se de um desejo de Ano Novo se tratasse, criou o seu canal de Youtube para partilhar as suas vivências. Mesmo deitada na cama, faz vídeos didáticos para esta plataforma, que têm inspirado alguns milhares de pessoas. Isto sempre com a ajuda do marido, que ajuda nas filmagens e na edição.

"Mesmo estando numa situação difícil, há imensas coisas que já consegui atingir", explica a jovem. "Consigo sentir uma felicidade genuína, mesmo que as coisas sejam complicadas", acrescenta. "Pensava que a minha vida tinha acabado, mas não podia estar mais errada", conclui, já de sorriso no rosto.