Teve uma educação católica, tanto que frequentou um colégio interno suíço dirigido por jesuítas. Acredita num Deus criador, mas não acredita na Bíblia. Segundo nos explica, não é que os teólogos da época quisessem aldrabar-nos: eles só não sabiam que a vida fora da Terra era uma possibilidade — muito menos que estes seres extraterrestres nos pudessem ter visitado. Assim, os mistérios da humanidade foram justificados através da religião. E a promessa do regresso, mais do que relacionada com os deuses e profetas, tem que ver com o retorno destes seres.

Estas são algumas das ideias de Erich von Däniken, o teórico, arqueólogo e autor com quem a MAGG esteve à conversa num hotel da Avenida da Liberdade, em Lisboa. A localização não acontece ao acaso: a unidade fica colada ao Cinema São Jorge, onde, a 22 de fevereiro, o nome por detrás do besteseller "Eram os Deuses Astronautas?" vai dar uma conferência sobre a teoria que desenvolveu — e que irá começar após a exibição do filme com o mesmo nome, realizado pelo alemão Harald Rein.

Autor de mais de 40 livros, é também em cima da tese desenvolvida pelo suíço que nasce, há dez anos, o sucesso do Canal História "Alienígenas do Passado", programa que está prestes a comemorar o 200.º episódio. Este marco é, como diz von Däniken, fruto da mudança do espírito da época, aquela que, acredita,  nos aproxima cada vez mais da sua crença. Um dia eles vão voltar, garante-nos.

Primeiro de tudo, chamarmos aliens aos extraterrestres também é correto?
Sim, aliens está correto.

Teve uma educação católica. Como é que desenvolveu este interesse pela vida extraterrestre?
Estive durante seis anos num colégio interno católico, dirigido por jesuítas. E, claro, enquanto rapaz, era um profundo crente em Deus. Ainda acredito em Deus. Mas Deus para ser Deus tem de ter algumas qualidades. Por exemplo: Deus não comete erros, não precisa de um veículo para se mover de um ponto para outro, Deus é omnipotente. [No colégio] tivemos de fazer transcrições de partes da Bíblia e a certa altura comecei a ter dúvidas.

Em que partes é que começou a duvidar mais?
Em quase todas. Por exemplo: Deus dá ordem a Moises para que este construa o tabernáculo no Monte Sinai e só depois desce, com fumo, fogo e muito barulho. E eu pensei: o meu Deus não precisa de uma construção para descer à Terra, porque Deus está em todo o lado. Depois, há o exemplo da Primeira Visão de Ezequiel na Bíblia, em que ele fala de raios, do céu em fogo, de coisas brilhantes, metálicas, com rodas e de animais com forma de gente, mas com quatro caras e asas, pernas retas e cascos. Claro que perguntei aos professores de Teologia o que era aquilo. E eles responderam-me que ele tinha tido uma visão: tinha visto Deus, que se sentava num trono, que tinha sido trazido pelas criaturas numa carruagem, tanto que falam de rodas e do seu movimento. Outra vez, eu pensei: mas Deus não precisa de uma carruagem para se mover. Os teólogos usam o mesmo texto que eu, mas dão-lhe uma interpretação diferente, um ponto de vista distinto.

extraterrestres

Então, todas as histórias da Bíblia são, afinal, sobre manifestações de extraterrestres.
Não, não todas. A Bíblia é uma mistura de diferentes textos, escritos em alturas diferentes, por autores distintos. Só algumas coisas é que podem ser interpretadas segundo esta lógica dos extraterrestres.

Porque é que as pessoas dessa época não consideraram logo a hipótese extraterrestre?
Há milhares de anos, os extraterrestres chegaram e eles comportavam-se da mesma forma que os etnólogos de hoje: estudavam alguns grupos, aprendiam algumas linguagens, ensinavam alguns humanos e desapareciam novamente, com a promessa de voltar. Nesta altura, os nossos ancestrais eram os da Idade da Pedra. Nesta altura, estávamos longe de saber o que quer que fosse sobre viagens espaciais. Por isso, eles acreditavam, erradamente, que estes extraterrestres eram deuses. Não há deuses. Isso é tudo um erro. Só há um Deus: o Deus todo poderoso.

Então, acredita num Deus comum a todo o cosmos.
Exato. Imagine que eu tenho razão e que fomos visitados por extraterrestres. De onde é que eles vieram? De onde vem a evolução deles? Se calhar, foram visitados por outros extraterrestres do Sistema Solar. Mas de onde vieram esses? Podemos andar milhões de anos para atrás e voltamos sempre ao mesmo ponto: voltamos ao início, à criação, a que chamamos de Deus.

Há provas?
Muitas. Há provas em factos, na cultura, em coisas em que se pode tocar e fotografar. E há prova nos escritos antigos, nos quais sou especialista. Não conheço só a Bíblia, conheço todos os livros. E em todos há referências ao facto de termos sido visitados por extraterrestres.

"Se a sociedade acreditasse nos extraterrestres, iríamos aprender que todas as religiões estavam afinal erradas, excepto numa parte, em que todos acertaram: Deus existe, a criação existe"

Acredita que eles vão voltar.
Eles vão voltar. Enquanto cá estiveram, nunca chocaram a espécie humana. Antes de se terem ido embora, ensinaram alguns humanos, tal como os etnólogos fazem. E antes de partirem, prometeram que iam voltar no futuro. Esta expectativa do regresso tornou-se parte de todas as culturas: há pouco mais de 400 anos, o explorador Francisco Pizarro chegou à America do Sul, no sítio onde hoje fica o Peru. No início, nativos acreditavam que ele era o há muito esperado Deus. Com Fernando Cortez, que chegou à América Central, aconteceu a mesma coisa. No distante Pacífico, no Havai, os nativos acreditavam que o explorador James Cook era este Deus há muito esperado. Esta espera por um Deus não é uma invenção do Cristianismo, está presente nas culturas muito antes disso. Repare, a ideia do regresso está em todas as religiões, desde a Islâmica, ao Budismo, ou Judaísmo. São tudo mal entendidos. Há uma velha promessa dos extraterrestres, que disseram que iam voltar. E isso entrou na religião.

Só fomos visitados por um tipo de extraterrestres? É possível que haja vários tipos de forma de vida extraterrestres.
Sim, eu acho que há muitas. A questão é que só pudemos ser visitados por uma forma de vida que sobrevivesse no nosso planeta. Imaginemos Jupiter: nós nunca sobreviveríamos neste planeta, mas talvez haja formas de vida lá. A questão é que eles não vão visitar a Terra. Vão visitar planetas semelhantes ao seu, porque é nesses que conseguem sobreviver.  Com estes extraterrestres foi igual. Portanto, não excluímos a hipótese de que há formas fantásticas de vida. O universo está cheio de vida.

Mas são mais evoluídas do que nossa?
Os que cá estiveram, de certeza. De outra forma, não teriam tecnologia para cá chegar.

E estiveram cá mais vezes?
Sim. Há muitas manifestações no tempo, não sei quantas. Podem estar cá agora.

O que aconteceria se a sociedade começasse a aceitar a teoria de que existem extraterrestres e de que as suas manifestações estão, afinal, descritas nos livros religiosos?

Muitas religiões iam sofrer perdas, mas, no final do dia, todas ficariam a ganhar. Todas as religiões dizem que o seu Deus ou o seu profeta é que é o verdadeiro. Por isso, passam a vida a lutar uns com os outros. Se a sociedade acreditasse nos extraterrestres, iríamos aprender que todas as religiões estavam afinal erradas, excepto numa parte, em que todos acertaram: Deus existe, a criação existe. Por isso, ao fim ao cabo, haveria uma união de todas.

kl

Porque é que há tantos céticos?
Eu adoro céticos. A ciência tem diferentes significados: há ciências exatas, como a física ou a matemática, e há ciências coletivas, como arqueologia, antropologia ou etnologia. Neste último, os estudiosos coleccionam ossos, artefactos, figuras. E, a partir daí, constroem um modelo, um significado, nos quais estas figuras são inseridas. Mas este modelo está sempre a mudar, porque é dependente do espírito de cada época. O espírito da época de hoje é diferente do tempo em que professores brilhantes traduziram os textos que compõem a Bíblia e lhes atribuíram as suas interpretações. Por isso, o trabalho deles não teve que ver com deturpação deliberada, mas com o conhecimento que tinham na altura. Hoje é diferente: há nove anos, o Canal História só queria produzir três episódios do "Alienígenas", depois cinco. Hoje tem 200.

"O espírito da época de hoje é diferente do tempo em que professores brilhantes traduziram os textos que compõem a bíblia e lhes atribuíram as suas interpretações. Por isso, o trabalho deles não teve que ver com deturpação deliberada, mas com o conhecimento que tinham na altura"

Por isso, a sociedade está mais e mais aberta à ideia da vida fora da Terra?
Cada vez mais. O espírito da época mudou. Sabe, em 1953, a CIA deu ordem a todos os gabinetes do mundo: todos os grupos de ovnis, todas as pessoas que acreditassem e dessem prova de vida fora da Terra, devia ser ridicularizadas. Um jornalista, um cientista, são, à partida, pessoas inteligentes, que refletem sobre os assuntos. Mas não gostam de ser ridicularizadas. Por isso, não se tocava na questão dos ovni. Eles não faziam por mal, estavam a ser enganados, levados a crer que a ideia da vida extraterrestre era ridícula. Hoje já é diferente.

Sofreu críticas duras pelos livros que escreveu e teorias que desenvolveu. E algumas das provas que dava e que confirmavam a visita de extraterrestres foram desmentidas pela comunidade científica.
Como já disse, eu adoro os críticos e adoro discutir com eles, porque eles perdem sempre. Porquê? Esta não é uma afirmação arrogante. Imagine: você tem a sua profissão, ele tem a dele e ele a dele. E eu não sei nada sobre as outras. Sento-me, oiço e aprendo. Mas, na minha profissão, em que já trabalho há 60 anos, sei mais. Portanto, quando vêm os críticos, eles adoram discussão, adoram fazer bluff ou mentir. Sejam abertos e oiçam. Assim, encontramos uma solução. Os críticos têm o mesmo texto que eu. Veja a Bíblia: eles leem o mesmo documento, mas têm outra explicação para isso. Temos os mesmos edifícios, as mesmas estruturas, as mesmas pedras, mas a interpretação é completamente diferente. E essa é, novamente, um sintoma do espírito da época. Como é que será daqui a dez anos? Acho que o espírito do tempo se irá aproximar cada vez mais da minha teoria.

Como é que a sua família lidou com o facto de questionar a religião católica?
A minha família perguntava-me: "És ateu?". E eu explicava que não, que sou um profundo crente na existência de Deus. E com isso eles ficavam contentes. E os professores no colégio interno adoravam o facto de eu apresentar outro ponto de vista. Não tinha que ver com o estar certo ou errado. Na universidade, a mesma coisa. Encontrei-me com alguns professores depois da publicação do "Chariots of the Gods" e eles elogiavam aquilo que eu fazia. Não estavam contra. Estou certo de que seres extraterrestres vão voltar a aparecer. E acho que é razoável estar preparado para esta possibilidade. E ficar chocado.

Qual é o seu filme preferido de ficção científica?
"2001: Odisseia no Espaço" de Stanley Kubrick. É fenomenal.