
Assim que o Papa Francisco morreu, na segunda-feira, 21 de abril, as casas de apostas internacionais começaram rapidamente a receber vários nomes que o podem vir a suceder - é, inclusive, o tipo de aposta que se encontra em primeiro lugar de todas as apostas que existem no Polymarket, um mercado norte-americano de previsões, segundo o "G1". Entre os vários nomes, há um que se destaca claramente, ganhando, até ao momento, 37% de todas as apostas.
Pietro Parolin, secretário de Estado italiano do Papa Francisco desde 2013, é o favorito a sucessor do antigo Chefe da Igreja Católica. Também conhecido como “vice-Papa”, sendo este o nome que se dá aos secretários de Estado por ocuparem o segundo lugar na hierarquia do Vaticano, Parolin é visto como um candidato de compromisso entre progressistas e conservadores, de acordo com a “Reuters”, e foi, inclusive, o primeiro cardeal a ser nomeado pelo Papa Francisco na altura da sua posse, em 2013.
Agora, só resta esperar até ao final de maio para saber se é realmente isto que vai acontecer. Após a morte do Papa Francisco, entra-se em período de "sede vacante" e , nesta fase, a Igreja Católica fica sem um líder, pelo que a sua governação fica sob a alçada do camerlengo, que é responsável pela administração dos bens e do tesouro do Vaticano. As regras do Vaticano dizem que o Conclave terá início entre 15 e 20 dias depois da morte do pontífice, segundo o "Público", sendo assim possível que este aconteça a partir de 21 de maio, de acordo com o "Sapo24". Assim que sair o fumo branco, é sinal de que há um novo Papa, diz a "CNN Portugal" e, segundo as apostas, este será então Pietro Parolin.
Entrou desde muito cedo no seminário
Pietro Parolin, nascido em 1955, ingressou logo desde muito cedo no mundo da religião. Ao sentir um chamamento, o cardeal entrou no seminário em Vicenza, Itália, com apenas 14 anos, e desde aí que nunca saiu da Igreja Católica, segundo o "Cardinalium Collegii". Após a sua ordenação ao sacerdócio, que aconteceu quando fez 25 anos, os seus superiores enviaram-no para estudar Direito na Universidade Gregoriana em Roma e, durante esse período, Parolin começou a preparar-se para o serviço diplomático do Vaticano. Após um período de três anos na Nigéria, trabalhou no México, onde ajudou a restabelecer as relações diplomáticas entre o país e a Santa Sé.
Em 1992, foi chamado de volta a Roma e começou a trabalhar na “Segunda Secção” da Secretaria de Estado, tendo sido encarregue das relações diplomáticas com Espanha, Andorra, Itália e San Marino. Fluente em italiano, francês, inglês e espanhol, foi de 2002 a 2009 que atuou como subsecretário de Estado para as Relações com os Estados, sendo depois ordenado bispo pelo Papa Bento XVI e nomeado núncio em Caracas, Venezuela. O Papa Francisco nomeou Parolin secretário de Estado em 2013 e, em 2014, nomeou-o para o seu “Conselho de Cardeais” interno, que o aconselhava diretamente sobre as reformas da Igreja.
Quais são as suas crenças?
Pietro Parolin tem sido amplamente respeitado pelos diplomatas, sendo considerado um representante papal confiável e com uma trajetória semelhante à do ex-diplomata Papa São Paulo VI. No entanto, conta com as suas próprias crenças, e algumas delas podem ser controversas. Sobre a Ordenação de Diáconos Femininos, Pietro Parolin é claramente contra, afirmando que ordenação de mulheres ao sacerdócio é "não negociável" e não está em discussão. Embora a carta enviada à Conferência dos Bispos da Alemanha não trate explicitamente do diaconato para mulheres, o tom geral sugere uma postura conservadora em relação a mudanças nas funções estabelecidas da Igreja.
Já sobre uma bênção aos casais do mesmo sexo, o possível futuro Papa mostra-se ambíguo, uma vez que, apesar de ter acolhido a Fiducia Supplicans (uma declaração aprovada pelo Papa Francisco onde existe a possibilidade de abençoar a união de casais fora do casamento entre um homem e uma mulher, casais do mesmo sexo ou novas uniões após separação, segundo a "Vatican News"), afirma na mesma que tal mudança exige mais estudo, explicando que esta deve ser fiel à tradição da Igreja. Quanto a situações a favor, Pietro Parolin é um defensor da ciência climática e tem frequentemente apelado a esforços globais para combater as mudanças climáticas.
Tem ligações muito fortes ao Médio Oriente
Pietro Parolin é especialista em assuntos relacionados com o Médio Oriente e, mais amplamente, em assuntos relacionados com a situação geopolítica da Ásia. O secretário de Estado trabalhou na construção da relação entre a Santa Sé e o Vietname, e contribuiu ainda para a reabertura do diálogo entre israelitas e palestinianos, convencido da necessidade de um esforço conjunto para “criar as condições para uma paz verdadeira e justa” no Médio Oriente. Além disso, atuou como porta-voz da Sé Apostólica várias vezes, expressando o desejo de colaborar com organizações internacionais na defesa dos direitos fundamentais da pessoa.
Em janeiro de 2025, Pietro Parolin esteve presente numa reunião com os núncios apostólicos da região, e tratou de vários temas que confessa serem de primeira ordem no Médio Oriente. Entre eles estão as crises, a condição política, as graves situações humanitárias em que se encontram as populações e a necessidade de solidariedade da comunidade internacional, com o secretário de Estado a afirmar que os cristãos são uma componente essencial para a convivência fraterna entre as várias religiões.
Fez acordos controversos com a China
O acordo secreto com a China relativo à nomeação de bispos tem sido uma das decisões mais controversas de Parolin. A sua abordagem focada nas relações entre o país e o Vaticano culminou, em 2018, num controverso acordo secreto provisório, renovado depois em 2020, 2022 e 2024, e foi altamente criticado na altura. Isto porque tanto o Japão como alguns católicos chineses, da Europa e dos EUA acusaram a Igreja de se vender à China Comunista, considerando o ato uma traição à independência e liberdade da Igreja.
O que acontece é que antes deste acordo, e segundo a "Vatican News", as autoridades chinesas tinham o controle exclusivo sobre a nomeação de bispos que acontecia na Igreja Católica da China, existindo depois uma Igreja Católica clandestina onde estavam os católicos que seguiam o Papa e não as autoridades chinesas. O novo acordo foi uma tentativa de resolver esta divisão juntando as duas igrejas, mas ao mesmo tempo que Pietro Parolin dava ao Papa uma "autoridade final", o secretário de Estado dava também ao governo chinês um papel significativo no processo, fazendo assim com que as pessoas acreditassem que Parolin estava a trair a Igreja.
Acredita numa liturgia igual à de Papa Francisco
Na igreja católica, a liturgia é o conjunto de rituais, orações e cerimónias oficiais feitas no contexto do culto público - ou seja missas, batismos ou casamentos -, tornando presente para todos o mistério de Cristo através da palavra (leitura da Bíblia), do sacrifício (pão e vinho como corpo e sangue) e da comunidade. Desta forma, o cardeal Pietro Parolin acredita que a liturgia da Igreja pode ser transformadora, inspirando-se nas crenças do Papa Francisco, que insistia que esta devia tocar no coração das pessoas e não tornar-se apenas num espetáculo estético.
Além disso, o cardeal também concorda com o antigo Chefe da Igreja sobre o facto de as missas tradicionais em latim deverem ser extintas, sendo um dos principais apoiantes do Traditionis Custodes (primeiras palavras de uma carta apostólica) de Papa Francisco. Há quem diga, inclusive, que Pietro Parolin teve uma mão na redação desse próprio documentos, acreditando que a extinção destas missas reconheciam os esforços da Igreja para se universalizar, segundo o "Cardinalium Collegii".