A estreia estava prevista para 2020, mas a pandemia obrigou a mudanças de planos. Agora não há volta a dar. "Impeachment: American Crime Story" vai mesmo estrear-se este ano e é o terceiro volume da saga que recorda momentos importantes, mediáticos ou insólitos que marcaram períodos específicos da História. Na primeira temporada, os episódios abordaram o julgamento mediático de O. J. Simpson, e na segunda o foco esteve no homicídio envolto em mistério do designer de moda Gianni Versace.

Na altura em que a nova temporada foi anunciada, previa-se que a estreia acontecesse um mês antes de começarem as campanhas para as eleições americanas de 2020 e através das quais Joe Biden se tornou no presidente dos EUA.

A data não foi consensual.

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"Transmitir isto durante as últimas semanas das eleições de 2020 é uma péssima ideia. Estou interessado em ver a série e espero que a FX [o canal responsável pela produção] reconsidere a altura da estreia. Não há nada que [Donald] Trump queira mais do que transformar a corrida à reeleição numa revisita à polémica entre os Clinton. Não façam isso, FX. Estão a prestar um mau serviço ao nosso sistema político cada vez mais frágil, mas também às pessoas talentosas envolvidas na produção", escreveu o crítico e jornalista Mark Harris.

Entretanto, a COVID-19 mudou o paradigma mundial e a indústria ficou paralisada, adiando a estreia para um ano depois.

Mas, afinal, qual a história da série? Que atores farão parte dela? Quando é que a vamos poder ver em Portugal?

Tentamos responder, ponto por ponto, a estas e a outras dúvidas.

O que podemos esperar da história?

Baseada no livro "A Vast Conspiracy: The Real Story of the Sex Scandal That Nearly Brought Down a President", escrito por Jeffrey Toobin, "Impeachment: American Crime Story" vai recordar o escândalo sexual que, em meados de 1998, envolveu Bill Clinton — na altura, presidente dos EUA.

Em causa está o facto de se saber que o próprio, casado com Hillary Clinton, mantinha uma relação extraconjugal com Monica Lewinsky, 22 anos, estagiária na Casa Branca. Os rumores de um possível envolvimento começaram desde muito cedo e as investigações que se seguiram geraram novas vozes que acusaram o então presidente democrata de assediar ou manter relações extraconjugais com funcionárias do governo.

Depois de recolhido o testemunho de Monica Lewinsky, e de encontrado um vestido com vestígios de sémen de Bill Clinton, o então presidente (que mentiu sobre o seu envolvimento) foi obrigado a admitir publicamente a natureza da sua relação com Lewinsky. Foi posto em marcha um processo de destituição e, ao longo de 21 dias, Clinton foi ouvido pelo senado americano que, em votos, decidiu não o destituir.

O presidente dos EUA saiu ileso, mas Lewinsky, pelo contrário, foi vilipendiada por alguma imprensa e pela opinião pública.

Cerca de 20 anos depois, Monica Lewinsky revisitou o caso, a propósito do documentário que produziu e que o tinha como foco ("The Clinton Affair"), lembrando como foi estar no centro da tempestade e criticando a impunidade de que Bill Clinton beneficiou desde o escândalo. "Se querem saber o que significa ter poder, vejam um homem dar entrevistas durante décadas sem nunca se preocupar sobre se alguma vez vai ter de responder a perguntas que não quer ter de responder", lê-se no texto publicado, em 2018, na revista "Vanity Fair".

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No seu texto, Lewinsky escreve também que apesar de ainda hoje se debater a sua inocência, o que mais lhe custa é o facto de nunca ter recebido um pedido de desculpa de Bill Clinton (que, numa conferência de imprensa, afirmou nunca ter tido relações sexuais com "aquela" mulher).

O caso será agora recordado na ficção.

Ok, mas Monica Lewinsky está envolvida na produção da série?

Sim, será uma das produtoras executivas da história.

"Há décadas que as pessoas contam a minha história. Só há pouco tempo é que consegui recuperar totalmente o meu lugar para poder contar a minha versão", explicou em entrevista à "Vanity Fair".

E continua: "Ao longo da nossa História, as mulheres têm sido silenciadas. Agora é a nossa vez de contar as nossas histórias com as nossas próprias palavras. Quase todos os livros escritos sobre o processo de destituição [do qual Bill Clinton saiu ileso] foram escritos por homens. Espero que, ao dizer a verdade sobre um período da minha vida, possa ajudar a garantir que o que me aconteceu nunca mais acontece a outra jovem deste país."

Quem vai fazer parte da série?

Nos papéis principais de "Impeachment: American Crime Story" vão estar Clive Owen (que será Bill Clinton), Edie Falco (que interpreta Hillary Clinton), Beanie Feldstein (no papel de Monica Lewinsky) e Sarah Paulson (como Linda Tripp).

Além disso, a série conta ainda com participações de Annaleigh Ashford, Judith Light, Margo Martindale, Billy Eichner, Cobie Smulders, Taran Killan, Colin Hanks, Mira Sorvino, Elizabeth Reaser e Anthony Green.

A série não quer explorar o caso, por isso não haverá cenas de sexo entre Clinton e Lewinsky

Ainda que o objetivo da série seja recordar o escândalo sexual que envolveu Bill Clinton, não haverá cenas de sexo entre a personagem e a de Lewinsky.

"À medida que as pessoas forem vendo os episódios, vão perceber que tivemos muito cuidado sobre o que mostrar e o que não mostrar. E o porquê dessas decisões. Foi calculado", fez saber Nina Jacbson, também produtora executiva da série.

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Já Sarah Burgess, a argumentista, explica que a decisão em não mostrar cenas de sexo também tem que ver com o facto de já toda a gente conhecer "os detalhes gráficos" da relação.

Quando se estreia?

A estreia está marcada para 7 de setembro, nos EUA, através da FX, casa de séries como "The Americans", "Atlanta", "The Shield" e "Fargo".

Vai chegar a Portugal?

Provavelmente, sim.

À semelhança do que aconteceu com as duas primeiras temporadas (sobre o julgamento de O. J. Simpson e o homicídio de Gianni Versace), é esperado que também esta "Impeachment: American Crime Story" chegue em Portugal através da Fox Life.

À data da publicação deste artigo, no entanto, ainda não há data conhecida da estreia da série em Portugal.

Depois de passar na televisão, o previsto é que a série seja integrada no catálogo da Netflix — onde já estão as duas primeiras temporadas.