O “questionamento dos padrões de género numa sociedade extremamente binária e heteronormativa” é o mote do documentário, “Patriarcado, uma História por Acabar”, produzido por Pedro Serra, de 31 anos, e Vanessa Rodrigues, de 30. Os jovens foram motivados a trabalhar sobre o tema por causa das injustiças constantes na sociedade e por considerarem haver uma urgência de debate.

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O patriarcado é o sistema social onde os homens têm o poder e estão no topo de qualquer hierarquia em comparação com as mulheres e outras identidades de género. Pedro Serra, realizador e produtor de 31 anos, elenca à MAGG episódios que refletem este sistema, como o “assédio na rua, a desigualdade salarial no trabalho, o trabalho doméstico que fica ao encargo da cuidadora, o medo de andar sozinha na rua e de ser violada, a culpa que é sempre da vítima”. Estas são algumas das situações abordadas no documentário por 20 ativistas feministas.

No documentário, que já está disponível na plataforma Filmin, também há o reverso da moeda: o lugar dos homens. O realizador partilha que há uma repressão infligida aos homens para nunca expressarem “emoções e vulnerabilidade”. Pedro Serra comenta que essa ideia e forma de estar acaba por se traduzir numa “falta de gestão emocional” que resulta em “ciclos de violência” sob as mulheres, outros homens e no meio ambiente.

“O que é ser mulher? O que é ser homem? O que são estes padrões de género que nos foram impostos? Quem beneficia?”

Estas são quatros das várias perguntas às quais o documentário “Patriarcado, uma História por Acabar” procura responder. Para isso, encontraram as respostas junto de 20 ativistas feministas, com diferentes representatividades, idades e géneros. O produtor e realizador explicou que o critério de seleção foi ter “pessoas com diferentes lugares de fala e privilégio que, pela sua experiência, tendem a conscientizar e discutir positivamente sobre o tema”.

O elenco tem caras conhecidas das nossas redes sociais e até da televisão, como o ator Manuel Moreira, o humorista Diogo Faro ou a psicóloga e sexóloga Tânia Graça. Também existem ativistas de movimentos reconhecidos como Carolina S. Pereira, fundadora He for She Portugal, ONU Mulheres, e a mentora Mariama Injai, Luísa Cativo do movimento Slut Walk, ou Nuno Salema que é terapeuta e psicólogo clínico e fundador do Men Made Self. Os entrevistados têm diferentes profissões (há escritores, produtores de conteúdos, médicos, uma juíza do Supremo Tribunal de Justiça, terapeutas e investigadora), o que se traduz em diferentes posições. 

Cada um dos entrevistados, de acordo com a sua experiência e background, partilha e debate temas como o feminismo interseccional, a história da origem do patriarcado, até assuntos como a “normalização do assédio, os vários tipos de violação, a objetificação, masculinidade tóxica, padrões de género, acabando com a perspetiva das emoções e como isso difere na pedagogia das crianças”, esclarece Pedro Serra.

Produtores que são ativistas

Pedro Serra e Vanessa Rodrigues são os produtores do filme. A produção durou cerca de um ano, entre meses de pesquisa e pré-produção, dois meses de filmagens e cinco meses dedicados apenas à pós-produção. Não foi possível compilar todas as entrevistas numa hora e meia, por isso, ainda serão publicados alguns excertos de testemunhos na página de Instagram do documentário.

Os produtores colocam-se na mesma posição que os ativistas. Referem que têm o mesmo objetivo: “abrir discussão, trocar perspetivas, criar diálogo, questionar”, sublinhando a importância de questionar a “forma como vivemos e na sociedade que queremos criar”. A luta contínua é “criar um espaço seguro para toda a gente, independentemente das condições e posições humanas de cada um”, partilham à MAGG.