A solução perfeita para o amigo que só fala de trabalho à sexta-feira à noite ou para a colega que chora pelo ex-namorado durante as reuniões de equipa? Segundo a nova série da Apple TV+, é "simples": basta separar as memórias pessoais das de trabalho. Mas, atenção, não faça já a festa porque "Severance", a nova produção de Ben Stiller, mostra que não seríamos mais felizes.
Bem sabemos que os patrões já estão impedidos de contactar trabalhadores fora do horário laboral, embora alguns ainda arrisquem pagar uma coima que pode ir até 9.690€. Ainda assim, mesmo sem telefonemas ou tarefas extraordinárias continuaria a ser difícil não pensar em trabalho fora das quatro paredes do escritório — isso é certo. Mas "Severance", que estreia já esta sexta-feira, 18 de fevereiro, na Apple TV+, apresenta uma solução. No mínimo, peculiar.
Uma empresa, a centenária Lumon Industries, desenvolveu um dispositivo cerebral que permite separar memórias pessoais e memórias de trabalho e emprega pessoas assim num piso específico do edifício. Quem se submete ao procedimento – que não deixa de obrigar a uma craniotomia –, fá-lo de livre vontade, com plena noção de que, a partir daquele momento, a sua consciência e identidade laboral será totalmente independente da sua vida pessoal. Teoricamente, têm noção do que isso implica. Na prática, talvez não.
Isto porque estes funcionários têm duas facetas incomunicáveis: dentro do escritório, não têm qualquer memória do que se passa lá fora; e assim que o deixam, voltam às suas vidas sem a mínima ideia do que fizeram nas oito horas anteriores. Como é o caso de Mark, interpretado por Adam Scott, que não tem memória de quem é no exterior assim que sobe ao piso do seu cubículo; assim como pouco sabe do que faz para ganhar a vida assim que pica o ponto à saída.
Toda a gente sai a ganhar, certo? Errado.
"Severance" tem nove episódios e é uma das estreias do ano da Apple TV+, pautada por um dos conceitos que marcam os anos da pandemia. "Acho que as nossas identidades laborais e pessoais estão a ligar-se cada vez mais uma à outra", disse Adam Scott, numa mesa redonda virtual a que o jornal "Público" teve acesso. "Especialmente nos últimos dois anos. Para mim, pelo menos, por vezes são indistinguíveis. Esta série captura essa sensação e leva-a a outro nível, como uma espécie de solução para isso."
No universo desta novas produção, os trabalhadores estão absolutamente concentrados nas suas tarefas, durante o horário laboral. Sem distrações do exterior ou problemas pessoais a dar um ar da sua graça em situações inoportunas. E, no caso, com a certeza de que não levam as frustrações de trabalho para casa ou para as saídas com amigos. Toda a gente sai a ganhar, certo? Errado.
A troca dá-se no elevador, o que significa que há uma personalidade que nunca deixa o trabalho, nunca dorme, nunca vê a família nem os amigos. Vive, infinitamente, entre as quatro paredes do escritório, com pouca luz natural, mergulhado em team buildings, luzes fluorescentes e tarefas acumuladas.
Até que ponto os trabalhadores vão aguentar a nova rotina pós-operação? Isto, claro, com a certeza de que terão de aguentar, já que a possibilidade de morrer não existe na empresa que serve de palco para a nova série. A resposta chega já esta sexta-feira, 18 de fevereiro, ao catálogo da Apple TV+, com um elenco que conta com nomes como Adam Scott (Mark), Zach Cherry (Dylan) ou Britt Lower (Helly).