Numa era em que basta desbloquear o telemóvel para encontrar jogos que nos entretenham, esquecemo-nos muitas vezes daquilo que é mais humano: as perguntas certas, as conversas que nos aproximam, as rodas de amigos onde se partilha mais do que risos. Entre mensagens instantâneas e distrações digitais, falta-nos, por vezes, um espaço para a curiosidade genuína, mas é exatamente esse vazio que o The ASK Game procura preencher.
Criado pelos irmãos Filipa e Nuno Cardoso, este jogo desafia a substituir conversas banais por diálogos com mais profundidade. Cada conjunto reúne 130 perguntas, divididas em diferentes níveis de intimidade: desde questões leves, ideais para quebrar o gelo, até outras que exploram vulnerabilidades e objetivos de vida. Sem regras rígidas nem vencedores, o jogo adapta-se a qualquer contexto, podendo ser utilizado tanto em jantares de amigos como em encontros de família, ou até mesmo se quiser fazer uma introspectiva sozinho.
“Deixámos de, no fundo, ser mais comunitários e tribais para sermos mais individualistas. E eu vi este conceito de desbloqueador de conversa nos EUA há muitos anos, e achei incrível, porque sinto muitas vezes, em conversa, que estamos a perder oportunidades de nos conhecermos verdadeiramente, de conhecer o mundo, de descobrir o que é que queremos fazer e do que é que gostamos, que medos é que temos”, começou por dizer Filipa à MAGG. “Tudo isso são universos que não exploramos porque ficamos no superficial”.
Desta maneira, o que o The Ask Game quer é fazer com que as pessoas que o joguem tenham a possibilidade de se conhecerem a um nível mais profundo, de semear temas novos ou de criar e explicar opiniões que não sabiam que tinham. “Tem essas duas vertentes, tanto do autoconhecimento como também da exploração de coisas que nós normalmente não tocamos”, acrescentou. E a verdade é que o seu conteúdo é tão intenso e diversificado que serve mesmo para conhecermos melhor quem achávamos já conhecer.
“Aliás, o jogo mudou completamente a dinâmica da nossa família e impactou-nos profundamente”, disse também Filipa. Foi num célebre jantar que os irmãos decidiram começar a jogar o The Ask Game com os seus parentes, e chegaram à conclusão de que nem sempre conhecemos a fundo quem está connosco no dia a dia. Por isso, um dos grandes objetivos do jogo é esse mesmo: criar pontes entre as pessoas: “Não é só a descoberta do que lá está, mas também do que pode vir a estar. A pergunta pode ser uma, mas as respostas são infinitas”.
Da experiência em família, Filipa retirou também uma reflexão mais ampla sobre o ritmo acelerado do mundo em que vivemos. “A vida em sociedade moderna é tão rápida, é tudo para ontem, as nossas vidas estão cheias e pouco tempo temos para parar, pensar e ouvir o outro. Na esmagadora maioria das vezes, nós entramos em piloto automático e não paramos para ouvir, não paramos para presenciar, para testemunhar o outro. Uma simples pergunta é um tempo em que eu digo ‘estou curioso sobre ti, eu estou aqui, parei para te ouvir porque tu me interessas, porque a tua experiência me interessa’”.
Desse tipo de pensamentos nasceram então 130 perguntas de Filipa e Nuno Cardoso. Estas foram pensadas para serem mais existencialistas e racionais, uma vez que isso também faz parte da personalidade dos irmãos (Filipa diz ser mais dedicada à exploração da consciência e Nuno prefere o lado mais racional da situação), e chegaram assim à conclusão de que era melhor repartir o The Ask Game em três níveis: as cartas com um ponto servem para quebrar o gelo, com dois para aprofundar e três para alargar horizontes.
“Assim o jogo torna-se versátil. Conseguirmos ir de coisas fáceis, simples, engraçadas, divertidas, até coisas médias, até coisas mais profundas, questões existenciais, filosóficas, que nos obrigam a um grau de vulnerabilidade grande”, disse Filipa. “Nós não queríamos perguntas cuja resposta pudesse ser sim ou não, e desde o princípio que isso é uma condição. A ideia é gerar conversa, e se uma pergunta ou duas nos levarem a cinco horas de conversa, espetacular”.
“As perguntas não são para meter a pessoa ‘on the spot’, são para permitir uma entrada na resposta que seja de abertura, da pessoa querer-se abrir àquilo e, por vezes, até têm uma pergunta follow-up que é ‘descreve’, ‘dá-me um exemplo’. Além disso, era importante que as perguntas em si não fossem opiniões, que efetivamente fossem perguntas de resposta aberta e que não induzissem as pessoas a responder de uma forma que gerasse controvérsia, como a perguntar se são de direita ou de esquerda”, acrescentou Nuno.
“No fundo, não é só uma pessoa a fazer perguntas, são todas as pessoas a participar na arte de fazer a pergunta e deixar a resposta”. E é precisamente aí que reside a força do The ASK Game: transformar o simples ato de perguntar num convite à escuta e ao encontro. Num mundo onde tudo corre depressa, este baralho lembra-nos que conversar pode ser, afinal, o jogo mais sério e mais bonito de todos.
Para fazer parte desta comunidade, basta aceder ao site do jogo e fazer a sua compra. O The Ask Game tem um custo de 36€, e se quiser ir mais além, pode, por mais 26€, adicionar o The Ask Journal ao seu carrinho. Este nasceu como um complemento, pensado para quem quer fazer um registo mais íntimo e pessoal. É um caderno de exploração interior, onde cada página convida a parar, refletir e responder a questões que ajudam a organizar pensamentos, reconhecer padrões e ganhar clareza sobre si próprio. Tal como o baralho, também aqui não há respostas certas ou erradas.