Sim, a pessoa que vê na imagem deste artigo é mesmo Renée Zellweger. A atriz de 52 anos submeteu-se a uma transformação radical (com recurso, claro, a próteses estéticas) para a nova série "The Thing About Pam", cuja estreia está marcada para 8 de março nos Estados Unidos.

A série, baseada em factos reais, será exibida no canal norte-americano NBC (para já, não há previsão de exibição em Portugal), e conta a história da norte-americana Pam Hupp, condenada a prisão perpétua pelo homicídio de Louis Gumpenberger, acusada de matar a melhor amiga, Betsy Faria e de incriminar o marido desta, e também suspeita da morte da mãe.

A minissérie de seis episódios baseia-se no podcast homónimo do programa de investigação da NBC "Dateline" e está a despertar curiosidade (a data de estreia foi revelada este domingo, 13 de fevereiro, na emissão especial da SuperBowl, transmitida este ano pela NBC), mas também já gerou críticas. Os produtores da trama foram questionados sobre o porquê de não terem escolhido uma atriz plus size para interpretar o papel de Pam Hupp, tendo Renée Zellweger usado um "fat suit" (um fato com enchimento que replica o corpo de uma pessoa com excesso de peso).

“Quando uma dupla vencedora de Óscares liga e diz 'estou obcecada com esta história e quero interpretar a Pam e produzir [a série], dizes 'sim, sim, sim'. O nosso trabalho, nesse momento, foi fazer com que a Renée e o resto do elenco tivessem as ferramentas necessárias para interpretar essas personagens", disse Chris McCumber, produtor executivo da série numa conferência organizada pela Television Critics Association (TCA).

A atriz, que ganhou dois Óscares pelos filmes "Cold Mountain" e "Judy", desvalorizou as críticas, dizendo que o "fat suit" faz parte das ferramentas de trabalho de um ator. "Quanto mais longe estamos de nós mesmos, mais seguros nos sentimos para explorar. O Josh [Duhamel], a Judy [Greer] e o Glenn [Fischer] também se submeteram a transformações incríveis para representar aquelas pessoas, não acham que essa é parte da diversão?", questionou Zellweger.

Além da atriz, a série da NBC conta como Josh Duhamel no papel de Joel Schwartz, advogado de defesa de Russ Faria, Judy Greer como Leah Askey, procuradora que julgou Russ Faria pelo homicídio da mulher, e Katy Mixon como Betsy Faria, a vítima do homicídio macabro.

A história de um crime que foram, na verdade, três

O fascínio do público norte-americano por crimes hediondos, com reviravoltas estranhas, é sobejamente conhecido. Mas poucos, na história recente daquele país, se tornaram uma obsessão nacional como o do homicídio de Betsy Faria. Neste momento, Pam Hupp está presa, condenada a prisão perpétua, mas a história da morte de Betsy tem caminhos tortuosos e, antes da verdadeira responsável ser presa (e não por este crime), um inocente foi parar à prisão.

Pam Hupp
Pam Hupp

Pam e Betsy eram amigas. Betsy Faria estava a lutar contra um cancro da mama em fase terminal. Fazia quimioterapia e encontrava-se fragilizada devido à doença. Ainda que se desconheçam as razões, Betsy fez de Pam a beneficiária do dinheiro do seguro de vida. Ou seja, caso a amiga morresse, Pam receberia 150.000 dólares (13.000€)

Após o Natal de 2011, Russ Faria entrava em casa, depois de uma noite com os amigos, para encontrar a mulher, esfaqueada até à morte. O que soube, dez anos depois, é que tinha sido Pam a levar Betsy a casa. Depois, esfaqueou-a, mergulhou as meias dela em sangue e esfregou-as pelo chão, para parecer que o corpo tinha sido arrastado pelo marido, num cenário que aparentaria violência doméstica.

Russ e Betsy Faria
Russ e Betsy Faria

Pam testemunhou em tribunal contra Russ e, em 2013, o viúvo de Betsy foi condenado a prisão perpétua. A decisão seria revogada em 2015, quando o advogado Joel Schwartz conseguiu provar em tribunal que Pam era a principal interessada e tinha motivos para matar Betsy.

Pelo meio há outro homicídio, aquele que mandou, de facto, Pam para a cadeia. Em agosto de 2016, matou a tiro Louis Gumpenberger. Alegou legítima defesa, dizendo que tinha sido atacada mas, mais tarde, veio a provar-se em tribunal que Louis fazia parte de um esquema de Pam para incriminar Russ Faria.

Em 2019, foi condenada a prisão perpétua, tendo chegado a um acordo denominado Alford Plea. Segundo a lei norte-americana, este tipo de acordo é uma admissão parcial de culpa, o permite reduzir a pena do réu. O réu não admite ter cometido o crime. mas sim que as provas apresentadas pela acusação são suficientes para convencer um juiz ou um júri além da dúvida razoável (in dubio pro reo, ou seja, na dúvida, a favor do réu).

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Este homicídio fez com que um novo procurador reabrisse o processo da morte de Betsy Faria e, em setembro de 2021, Pam Hupp, após ter sido formalmente acusada, deu entrada com o pedido de um novo acordo, o que fez com que as acusações criminais armadas fossem retiradas.

Há ainda outra morte, a da mãe de Pam. Shirley Mae Neumann morreu em 2013, após ter caído da varanda do lar onde vivia. A última pessoa a vê-la viva foi a filha, que a levou para jantar nesse dia e avisou o staff do lar para não esperarem pela mãe. Num primeiro inquérito, a polícia (que não entrevistou Pam) concluiu que Shirley, que sofria de demência e artrite, tinha caído da varanda devido à sua condição física, apesar de, na autópsia, ter sido detetada uma dose de um sedativo oito vezes mais alta do que a normal.

Apesar de uma nova investigação não ter sido aberta, há fortes indícios de que Pam poderá estar envolvida na morte da mãe, uma vez que existe um vídeo em que diz que a mãe "valia meio milhão de dólares" e que se quisesse mesmo esse dinheiro, "havia uma maneira mais fácil" de o obter do que lutar contra pessoas que eram mais fortes do que ela fisicamente (fazendo referência aos irmãos). Quando a mãe morreu, Pam Hupp e os irmãos receberam 120 mil dólares (106.000€) de investimentos, além de 10 mil dólares (8.850€) do seguro de vida.