Em 1978, Ron Stallworth, um polícia americano de 25 anos, viu num jornal local um anúncio que procurava membros para o Ku Klux Klan em Colorado Springs, nos Estados Unidos da América. O grupo racista, antissemita, homofóbico, anti-comunista e defensor da supremacia branca, apenas pedia que os interessados enviassem uma carta e, foi o que Stallworth fez, com o objetivo de expor o movimento. Nela escreveu que odiava todo o tipo de pessoas que não fossem de raça ariana. Apenas duas semanas depois, recebeu uma resposta do presidente do Ku Klux Klan de Colorado, Ken O'Dell, a pedir uma reunião.
Havia apenas um problema. Como é que um homem negro se ia infiltrar num movimento de supremacistas brancos que, desde a sua criação, em 1886, desenvolveu um clima de terror, sobretudo no sul dos Estados Unidos da América, ameaçando, agredindo, perseguindo e matando não só negros mas também os brancos que se opusessem ao KKK? Stallworth definiu logo uma estratégia ao arranjar um polícia branco, com o nome fictício Chuck, que assumisse a sua identidade.
Mais tarde, Ron Stallworth contactou David Duke, o líder nacional do KKK, a perguntar quando receberia o seu cartão de membro, que era suposto chegar nas duas semanas após ter integrado o grupo. Este acabou por ser enviado pelo próprio Duke mais tarde. Hoje, o ex-polícia continua a ter o cartão que recebeu em janeiro de 1979, juntamente com o certificado de membro do Ku Klux Klan e outros documentos assinados por Duke, segundo revelou ao site "Business Insider".
Havia militares americanos membros do KKK
A investigação durou sete meses e meio e teve como principal objetivo recolher toda a informação possível sobre os membros do KKK: quem eram, onde estavam, quantos eram. Durante a mesma, Stallworth conseguiu evitar três "cross burnings", o ritual onde se queimam cruzes como forma de intimidação de negros ou outros grupos, e uma das grandes descobertas que fez foi o facto de haver membros do exército dos EUA no KKK, não só em Colorado, como no resto do país. Quando o nomearam para ser o presidente local do grupo, o chefe da polícia terminou a investigação afirmando que já tinha ido "longe demais". Stallworth cortou o contacto total com o Klan, mas chegou a ficar com dois cadernos repletos de informações.
Apenas em 2006, em entrevista ao jornal "Deseret News" de Salt Lake City, é que revelou todos os detalhes sobre a sua infiltração. Foi então que contou que alguns membros do Klan eram militares nas Forças Armadas dos EUA, sendo que dois eram membros do Comando de Defesa Aeroespacial da América da Norte (NORAD), que controlavam armas nucleares.
Em 2014, Stallwork publicou o livro "Black Klansman", sobre a sua experiência no KKK.
O filme de Spike Lee "BlacKkKlansman: O Infiltrado"
Quando os produtores do filme, Charlie Wachtel e David Rabinowitz, descobriram o livro, estes entrevistaram Ron Stallworth em 2015. Mais tarde, o filme foi adquirido pela QC Entertainment, também co-produtora do filme "Foge" (2017). Com Spike Lee na realização, "BlacKkKlansman" tem no elenco principal John David Washington (filho de Denzel Washington), Adam Driver, Laura Harrier, Topher Grace e Alec Baldwin.
Em abril deste ano, o filme competiu para a Palma de Ouro no Festival de Cannes e já tem uma aprovação de 97% no Rotten Tomatoes e uma pontuação de 7.8 no IMDb. À revista "TIME", Ron Stallworth afirmou que o filme fez justiça à história em que se baseia o seu livro. "BlacKkKlansman: O Infiltrado" tem estreia marcada para 6 de setembro nos cinemas em Portugal.