"I see dead people". A frase é tão conhecida que nos obriga a escrevê-la na sua forma original, embora a tradução signifique "Eu vejo pessoas mortas". E se ainda não reconheceu as famosas palavras proferidas pelo ator Haley Joel Osment em "O Sexto Sentido", corra para o videoclube da sua televisão e alugue o filme.
A obra mais conhecida e popular do realizador M. Night Shyamalan, que também assina o argumento do filme, estreou nos Estados Unidos há 20 anos, a 2 de agosto de 1999. Em Portugal, o filme só chegaria aos cinemas no ano seguinte, a 14 de janeiro, mas também foi um sucesso por cá.
"O Sexto Sentido", protagonizado por Bruce Willis, a par de um Haley Joel Osment ainda criança, é até hoje um dos filmes mais "sérios" do ator, com muitas vozes a indignarem-se contra o facto de o norte-americano não ter recebido sequer uma nomeação para o Óscar pelo papel do psicólogo infantil Malcolm Crowe. Mas também há quem garanta que a Academia nunca iria considerar o ator de "Assalto ao Arranha-Céus" para este prémio devido ao seu historial como estrela de ação.
O filme, como o próprio nome indica, foca-se no sentido muito especial do jovem Cole Sear, que consegue comunicar com pessoas mortas. Com dificuldades em acreditar no próprio filho, o filme faz-nos crer que a mãe de Cole procura a ajuda do especialista interpretado por Bruce Willis, mas tal é uma ilusão criada por M. Night Shyamalan, dado que nunca vemos a personagem de Toni Collette a interagir com o psicólogo.
E há uma muito boa razão para isso (alerta spoiler, embora esteja com 20 anos de atraso): Malcolm Crowe, o psicólogo, esteve morto desde o início do filme, depois de ser assassinado por um antigo paciente — e é apenas mais uma das almas que procura a ajuda de Cole, embora só se aperceba da sua condição no final do filme.
Esse é o verdadeiro plot twist de "O Sexto Sentido", que foi, ao mesmo tempo, "o sucesso e a desgraça de M. Night Shyamalan", tal como afirma a cronista Alexandra Pollard no "The Independent". A partir da estreia do filme, o nome do realizador ficou sempre ligado à ideia de reviravoltas inesperadas nas suas produções, embora nem sempre tenham sido apreciadas pelo público.
E se "O Protegido", "Sinais" e "A Vila", lançados nos cinco anos seguintes à estreia de "O Sexto Sentido", apresentaram reviravoltas que faziam sentido e conseguiram surpreender minimamente o público, "A Senhora da Água", "O Acontecimento" e "Depois da Terra" já tinham perdido os espectadores a meio, quanto mais conseguir deslumbrá-los com um plot twist original.
Em 2019, M. Night Shyamalan regressou aos cinemas com "Glass", um filme que unia as histórias de "O Protegido" e "Fragmentado", produção que correu bem na bilheteira e foi apontado como o regresso do realizador ao bom caminho. No entanto, "Glass" não surpreendeu e, apesar de esta classificação ter uma validade aberta a interpretações, tem apenas uma avaliação de 6.7 no iMDb.