Não é a primeira vez que escreve, até porque a sua vida foi toda passada a escrever, mas é o seu primeiro livro editado e a verdade é que, pelas críticas já feitas, certamente não será o último. “A (In)Felicidade de Sara Lisa” é o primeiro projeto de Ana Portocarrero com a SUMA, chancela da Penguin Random House, e conta com uma história tão leve quanto inspiradora, que promete fazer refletir sobre o verdadeiro significado da felicidade.

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Aqui, o leitor fica então a conhecer Sara Lisa, uma jovem alegre e decidida, que quer ser escritora, mas que sente que precisa de alguma infelicidade na vida para conseguir escrever uma história que se tornará um sucesso - isto porque todos os seus professores lhe disseram isso. “Esta é uma ideia que já me acompanha, se calhar, desde sempre, mas que eu não sabia. Só há pouco tempo é que tive consciência dela, porque o que acontece com a Sara Lisa aconteceu-me a mim”, começou por dizer à MAGG.

“Eu também sou uma pessoa bem disposta, otimista e feliz, não posso dizer que não. E sempre ouvi que a arte vinha daquele lugar de sofrimento, que a boa arte tinha de vir do uso desses sentimentos mais obscuros, desses traumas, dessa nostalgia, e eu nunca me senti assim”, explicou a escritora. Desta forma, Sara Lisa espelha este sentimento de Ana Portocarrero, e procura encontrar algum tipo de sentimento mais obscuro, trauma, nostalgia, para contar uma história incrivelmente sentimental.

É nesta procura que a jovem encontra Gael, um sem-abrigo de nacionalidade francesa que vive no lado mais obscuro e sujo da cidade do Porto - e esta dualidade entre a felicidade de Sara Lisa e a poluição do estilo de vida de Gael foi propositada, uma vez que Ana Portocarrero se baseou um pouco nas diferenças que existiam na Avenida dos Aliados e na zona da Ribeira há muitos anos, quando pareciam dois mundos diferentes dentro da mesma cidade. 

“Eu precisava de alguém que ajudasse a Sara Lisa na sua demanda. E, portanto, a primeira coisa que me ocorreu foi que tinha de ser alguém com uma vida miserável. Para ela lhe pedir ajuda, para ele a ensinar a ter essa vida miserável também, uma vez que ela procurava, lá está, a infelicidade. E quando uma pessoa pensa em vida miserável pensa em pobreza extrema, e aí surgiu a ideia do sem-abrigo”, descreveu a escritora. “Mas, de repente, quando o meti a falar, percebi que não era um sem-abrigo qualquer”.

“Eu percebi que ele tinha de ter mais alguma sabedoria sem ser esta da vida miserável. Ele tinha de ter mais qualquer coisa, porque a Sara Lisa também não precisa só disso, não é? A Sara Lisa não precisa só da visão externa do que é ser uma pessoa traumatizada”, continuou. Assim, Gael chega como uma das primeiras pessoas na vida de Sara Lisa que lhe diz as coisas exatamente como elas são, sendo um total choque de identidades.

Ana Portocarrero
Ana Portocarrero Ana Portocarrero créditos: Instagram

“A Sara Lisa é uma mulher, lá está, com sorte na vida, com uma vida feliz e com uma família e amigos que a apoiam. Isto não quer dizer que eles não sejam genuínos, mas ela precisava de ter alguém que lhe dissesse as coisas da forma como ele lhe diz. É isto que ela precisa para se conhecer a si própria”, continuou. Assim, ao longo da narrativa, o leitor vai ficar a conhecer de onde veio Gael e qual será o seu grande papel na história, explorando também a forma como Sara Lisa vai encontrar esta infelicidade.

No entanto, não pense que tudo foram rosas na vida da jovem. Apesar de ser uma mulher feliz, a verdade é que Sara Lisa também já teve os seus problemas, nomeadamente quando era mais nova e as crianças gozavam com o seu nome. Ana Portocarrero quis, na verdade, colocar logo no início do livro um capítulo sobre isso mesmo, com o objetivo de mostrar a todos os leitores que nenhuma vida é perfeita. 

Acho que todos nós passámos por algo de uma forma ou de outra, mais intensamente ou menos. E eu não queria que a Sara Lisa fosse uma pessoa que tivesse crescido numa bolha, completamente isenta de tudo o que se passa à nossa volta. Ela também teve as suas coisas, teve os seus momentos de receio, de adolescência. Mas isso não faz dela uma pessoa infeliz e ela não usa isso para escrever”, explicou Ana Portocarrero.

Assim, a moral da história é apenas uma: perceber que há sempre uma felicidade que pode existir em todas as circunstâncias. “Há uma série de sentimentos que a Sara Lisa tem: a raiva, a tristeza, o descontrolo. Ela sente verdadeiramente e genuinamente tudo isso, mas não é por isso que se torna infeliz. A infelicidade é uma coisa muito maior do que isso”, disse. “E eu acho que a felicidade é, muitas vezes, um sentimento um pouco menosprezado”, acrescentou. 

E porquê? “Porque, lá está, se a arte vier de um lugar feliz, se calhar vai ser considerada um bocadinho menos válida aos olhos dos outros. E não tem de ser, eu pelo menos gostava que não fosse assim. Toda essa reflexão de que a arte é humana tem de vir de um complexo de emoções, e não só daquele ou do outro lugar. Portanto, eu queria mostrar que pode vir de qualquer lado. Todas as emoções são válidas”, concluiu Ana Portocarrero. 

“A (In)Felicidade de Sara Lisa” já está disponível em todas as livrarias, e tem um custo de 14,99€. Por agora, este é o único livro editado da escritora, mas o seu objetivo é que não seja o último - e até já tem um bem pensado.