O livro que Salman Rushdie, um dos escritores britânicos mais conhecidos dos últimos tempos, prometeu escrever depois do ataque que sofreu em agosto de 2022, que fez com que perdesse um olho e sofresse danos nos nervos da mão, está a chegar a Portugal, depois de ter sido lançado em vários países em abril. É já nesta terça-feira, 14 de maio, que os portugueses vão ter acesso aos relatos em primeira mão do dia em que Salman Rushdie, de agora 76 anos, foi atacado, e quase morto, por um jovem com uma faca.

Salman Rushdie a recuperar do ataque. Escritor já não está ligado a um ventilador e consegue falar
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É dessa mesma arma que vem o nome deste novo livro, “Faca, Meditações na Sequência de uma Tentativa de Homicídio”. É aqui que o escritor conta a história do dia 12 de agosto de 2022, uma sexta-feira que parecia banal quando, já no palco pronto para iniciar uma palestra em Nova Iorque, EUA, é esfaqueado 15 vezes por um jovem norte-americano de origem libanesa. Na altura, o agente do escritor, Andrew Wylie, falou com a imprensa acerca do estado de saúde do escritor e revelou que este ia perder um olho, assim como ia sofrer danos nos nervos do braço e no fígado, segundo o jornal “Observador”.

O suspeito do ataque, Hadi Matar, um homem de 24 anos, foi a tribunal no dia seguinte, declarando-se inocente. No entanto, segundo a Comunidade de Cultura e Arte, Hadi Matar era suspeito de ser simpatizante da República Islâmica do Irão, país que ofereceu uma recompensa de três milhões de dólares a quem assassinasse o escritor, de acordo com o “Observador”

Isto porque, em 1988, Salman Rushdie publicou a obra "Os Versículos Satânicos", uma história que se passa na Índia e em Inglaterra e acompanha as aventuras de duas personagens que sobrevivem a um ataque terrorista à bomba durante uma viagem de avião. Apesar de ter sido muito bem recebida pela crítica, no Irão, no entanto, a reação foi muito mais violenta, e Khomeini, Líder Supremo do Irão, lançou uma fatwa (um decreto religioso islâmico) condenando o escritor à morte.

Desde então que Salman Rushdie já sobreviveu a várias tentativas de homicídio, inclusive em em 1989, onde um homem pretendia entregar um livro com uma bomba ao autor, mas este explodiu antes do previsto e acabou por matar o terrorista.

Assim, em “Faca, Meditações na Sequência de uma Tentativa de Homicídio”, o escritor britânico de origem muçulmana indiana fala pela primeira vez, “e com memorável pormenor, dos traumáticos acontecimentos” do dia 12 de agosto, como se lê em comunicado. “Compreendi que tinha de escrever o livro que o leitor agora lê antes de poder passar a qualquer outra coisa. Escrever seria a minha maneira de possuir o que acontecera, assumir o seu controlo, torná-lo meu, recusar-me a ser uma mera vítima. Responderia à violência com a arte”, disse Salman Rushdie no comunicado.

"Faca", traduzido por José Teixeira de Aguilar e já se encontra em pré-venda por um custo de 16,92€.

Salman Rushdie é autor de uma vasta obra, da qual se destacam os romances “Os Filhos da Meia-Noite”, que conquistou vários prémios, "O Último Suspiro do Mouro" e "Grimus". Também o próprio escritor foi distinguido com inúmeros prémios, entre eles o Prémio Aristeion de Literatura da União Europeia e o Prémio James Tait Black, um dos mais antigos e importantes prémios literários britânicos.

Segundo a editora Dom Quixote, que publica o livro, está ainda prevista a ida de Salman Rushdie ao Porto, no final de setembro, a convite da Livraria Lello, para participar na iniciativa “Autor do Mês” e falar sobre o mais recente livro, que tem entrada gratuita. O evento estava inicialmente marcado para 17 de setembro de 2022, mas foi cancelado na sequência do ataque ao escritor, segundo o jornal "Público".