"Estamos deitados num êxtase pós-coito sob as lanternas de papel rosa, flores silvestres e luzes coloridas que brilham nas vigas. À medida que a minha respiração diminui, aperto ainda mais Anastasia. Ela está em cima de mim com o rosto no meu peito e a mão pousada no meu coração acelerado. A escuridão desapareceu levada pela minha caçadora de sonhos… a minha noiva. O meu amor. A minha luz.
Poderia ser mais feliz do que sou neste momento?
Guardo a cena na minha memória: a casa dos barcos, o ritmo calmante da agitação da água, a flora, as luzes. Fecho os olhos e memorizo a sensação da mulher que está nos meus braços, o seu peso em cima de mim, o lento subir e descer da sua respiração, as suas pernas entrelaçadas em mim. A fragrância do seu cabelo enche-me as narinas acalmando-me os sentidos. Este é o meu lugar feliz. O Dr. Flynn ficaria orgulhoso. Esta mulher linda aceitou ser minha. Em todos os sentidos. Novamente.
– Podemos casar amanhã? – sussurro ao seu ouvido.
– Hum. – O som na sua garganta ecoa com um suave estremecimento pela minha pele.
– Isso é um sim?
– Hum.
– Um não?
– Hum.
Sorrio e noto que está cansada.
– Miss Steele, é incoerente? – Sinto o seu sorriso e a minha alegria irrompe numa gargalhada, enquanto a abraço com força e beijo o seu cabelo.
– Las Vegas, amanhã, então. – Ela levanta a cabeça, os olhos ainda semicerrados sob a luz das lanternas. Está sonolenta, mas saciada.
– Acho que os meus pais não iam ficar muito contentes com isso. – Ela baixa a cabeça e eu tamborilo as pontas dos dedos nas suas costas nuas, desfrutando delicadamente do calor da sua pele lisa.
– O que queres, Anastasia? Las Vegas? Um grande casamento com todos os extras? Diz-me.
– Grande não... Só amigos e familiares.
– Ok. Onde?
Ela encolhe os ombros e sinto que não pensou nisso.
– Podia ser aqui? – pergunto.
– Na casa dos teus pais? Eles não se importavam?
Rio-me. Grace adoraria a oportunidade.
– A minha mãe ficaria no sétimo céu.
– Então fazemos aqui. Tenho a certeza de que a minha mãe e o meu pai iam preferir assim.
E eu também.
Pelo menos concordamos. Sem discussões.
Será a primeira vez?
Suavemente acaricio-lhe o cabelo, ligeiramente desalinhado pelos nossos momentos de paixão.
– Então, já estabelecemos onde, agora falta decidir quando. – Deves ter de perguntar à tua mãe.
– Hum. Posso dar-lhe um mês, não mais. Quero-te demasiado para esperar.
– Christian, tu já me tens. Já me tens há algum tempo. Mas está bem... um mês, então. – Beija-me ternamente o peito e eu agradeço por a escuridão continuar longe. A presença dela afasta-a.
– É melhor regressarmos. Não quero que a Mia nos interrompa como da outra vez.
Ana ri-se.
– Ah, sim. Essa foi por pouco. A minha primeira vez de sexo com punição. – Passa os dedos pelo meu queixo e eu viro-me, levando-a comigo no gesto e apertando-a contra o tapete felpudo do chão.
– Não me lembres. Não foi um dos meus melhores momentos. Os seus lábios abrem-se num sorriso tímido e os olhos brilham de satisfação.
– No que toca à punição, foi bom. E consegui recuperar as minhas cuecas.
– Pois foi. Muito justo. – Beijo-a levemente e levanto-me, ainda a rir-me só de me lembrar. – Anda, veste as cuecas e vamos voltar para o que resta da festa.
Puxo o fecho do seu vestido verde-esmeralda e ponho-lhe o meu casaco sobre os ombros.
– Pronta? – Entrelaça os dedos nos meus e subimos as escadas da casa dos barcos. Para no topo e vira-se uma última vez para olhar para o nosso paraíso floral, como se estivesse a memorizar o local. – E as luzes e as flores?
– Não faz mal. A florista regressa amanhã para desmontar este caramanchão. Ficou muito bonito. Agora as flores irão para um lar de terceira idade.
Ela aperta-me a mão.
– És um bom homem, Christian Grey.
Espero ser suficientemente bom para ti.
A minha família está na sala, a maltratar o pobre aparelho de karaoke. Kate e Mia dançam e cantam "We Are Family" e os meus pais assistem. Acho que estão todos um tanto tocados. Elliot está estendido no sofá a beber a sua cerveja e a murmurar a letra da canção.
Kate avista Ana e acena-lhe com o microfone.
– Oh, meu Deus! – grita Mia, sobrepondo-se à canção e agarrando a mão de Ana. – Olhem para esta pedra! Christian Grey, pediste-a em casamento!
Ana esboça um sorriso tímido enquanto Kate e a minha mãe se juntam para inspecionar o anel e demonstrar convenientemente a sua admiração. Sinto o meu ego rejubilar.
Sim. Ela gostou dele. Elas gostaram dele.
Portaste-te bem, Grey.
– Christian, posso falar contigo? – pergunta Carrick, levantando-se com uma expressão sombria.
Agora?
O seu olhar é inabalável, enquanto me leva para fora da sala. – Claro. – Lanço um olhar a Grace, mas ela evita-me. Será que ela lhe falou sobre Elena?
Foda-se. Espero que não.
Sigo-o para o escritório e ele acena-me para entrar, fechando a porta atrás de si.
– A tua mãe contou-me – diz ele, sem qualquer preâmbulo. Dou uma olhadela ao relógio… são 00h28. É demasiado tarde para este tipo de conversa… em todos os sentidos.
– Pai, estou cansado…
– Não. Não vais evitar esta conversa. – O seu tom de voz é sério e os seus olhos semicerram-se como se fossem alfinetes, mirando-me por cima dos óculos. Está zangado. Muito zangado.
– Pai…
– Cala-te, filho. Tens de ouvir. – Senta-se na extremidade da secretária, tira os óculos e começa a limpá-los com o pano que tira do bolso das calças. Estou na sua frente, como aliás já estive várias vezes. Sinto-me como se tivesse catorze anos e tivesse acabado de ser expulso da escola… outra vez. Resignado, respiro fundo e suspiro ruidosamente, pondo as mãos na cintura à espera da investida.
– Dizer que estou desiludido é muito pouco. O que a Elena fez foi criminoso…
– Pai…
– Não, Christian. Agora não podes falar – interpõe, observando-me com muita atenção. – Ela merece ser presa.
Pai!
Faz uma pausa para colocar os óculos.
– No fundo, acho que é a tua mentira que mais me desilude. Todas as vezes que saíste desta casa e impingiste a história de que ias estudar com os teus colegas… colegas que nunca conhecemos… estavas com esta mulher.
Cristo!
– Como é que posso acreditar em tudo o que nos disseste? – continua. Oh, caramba. Esta reação é totalmente exagerada.
– Posso falar agora?
– Não, não podes. Claro que me culpo a mim próprio. Pensei que te tinha dado alguma espécie de orientação moral, mas agora pergunto-me se consegui ensinar-te alguma coisa.
– É uma pergunta retórica?
Ele ignora-me.
– Ela era uma mulher casada e não respeitaste isso, e ainda por cima vais casar-te…
– Isto não tem nada a ver com Anastasia!
– Não te atrevas a gritar comigo – diz ele, com tal intensidade que me silencia de imediato. Nunca o vi tão zangado. Isto é muito sério. – Tem tudo a ver com ela. Estás prestes a comprometer-te seriamente com esta mulher. – O seu tom de voz suaviza-se. – É uma surpresa para todos nós, e estou feliz por ti. Mas estamos a falar da santidade do casamento. E se não respeitas isso, então não vale a pena casares.
– Pai…
– E se estás tão convicto dos votos sagrados que em breve assumirás, tens seriamente de pensar num acordo pré-nupcial.
O quê? Levanto a mão para o calar. Foi longe demais. Eu sou adulto, pelo amor de Deus.
– Não tragas a Ana para isto. Ela não é uma reles caçadora de fortunas.
– Não estou a falar dela – diz, levantando-se e avançando na minha direção. – Estou a falar de ti. Tens de assumir as tuas responsabilidades. Tens de ser uma pessoa decente e de confiança. Como marido!
– Porra, pai, eu tinha quinze anos! – gritei, e ficámos cara a cara, observando-nos mutuamente.
Porque está a reagir tão mal a isto? Sei que sempre fui um grande desapontamento para ele, mas nunca o manifestou de forma tão franca. Carrick fecha os olhos e belisca o nariz, e eu percebo que em momentos de stresse faço exatamente o mesmo. Este hábito vem dele, mas no meu caso a maçã caiu bem longe da árvore.
– Tens razão. Eras uma criança vulnerável. Não entendes que o que ela fez foi errado, e continuas claramente sem entender porque ainda estás ligado a ela, não apenas como amigo da família, mas como parceiro de negócios. Andam os dois a mentir-nos há anos. E é isso que mais magoa. – O seu tom de voz baixa. – Ela era amiga da tua mãe. Pensávamos que era uma boa amiga. Mas é o oposto. Vais cortar todos os laços financeiros que tens com ela.
Desaparece, Carrick.
Queria dizer-lhe que Elena era uma força do bem, e que não teria continuado associado a ela se pensasse o contrário. Mas sei que ele nem me vai ouvir. Não quis ouvir quando tinha catorze anos e estava na escola e parece que também não me quer ouvir agora.
– Já terminaste? – As palavras silvam com azedume.
– Pensa naquilo que te disse.
Viro-me para sair. Já ouvi o suficiente.
– Pensa no acordo pré-nupcial. Vai poupar-te muitos dissabores no futuro.
Ignorando-o, saio do escritório e bato com a porta.
Que se foda!
Grace está à porta.
– Porque lhe contaste? – grito-lhe, mas Carrick seguiu-me, por isso ela não me responde. O seu olhar gélido dirige-se a ele. Vou buscar Ana para irmos para casa.
De mau humor, sigo o som de gemidos até à sala e encontro Elliot e Ana ao microfone a assassinar "Ain’t No Mountain High Enough". Se não estivesse tão zangado, ria-me. Os uivos desafinados de Elliot não podem realmente ser classificados como cantar, já que está a afogar a doce voz de Ana. Felizmente, a canção está quase no fim, por isso, sou poupado ao pior.
– Acho que Marvin Gaye e Tammi Terrell andam às voltas na campa – observo secamente quando terminam.
– Penso que foi uma prestação bastante boa – diz Elliot, fazendo uma vénia de forma teatral a Mia e a Kate, que se riem e aplaudem exageradamente. Estão todos mesmo embriagados. Ana ri-se, com umas belas faces coradas.
– Vamos para casa – digo-lhe.
Fica desapontada.
– Disse à tua mãe que ficaríamos.
– Disseste? Mesmo agora?
– Sim. Ela trouxe para baixo uma muda de roupa para nós. Eu estava desejosa de dormir no teu quarto.
– Querido, eu queria mesmo muito que ficasses. – É uma súplica da minha mãe, que permanece à porta, com Carrick atrás dela. – A Kate e o Elliot também vão ficar. Gosto de ter os meus filhotes todos comigo. – Estende a mão e agarra a minha. – E ainda esta semana pensávamos que te tínhamos perdido.
Murmurando um palavrão em voz baixa, mantenho a minha com postura. Os meus irmãos parecem completamente alheios ao drama que se desenrola na frente deles. Esperava esta ignorância de Elliot, mas não de Mia.
– Fica, filho. Por favor. – O olhar do meu pai penetra-me, mas aparenta ser bastante cordial. Até parece que não me acabou de dizer que sou um desapontamento total e completo.
Novamente.
Ignoro-o e respondo à minha mãe.
– Ok.
Mas é só porque Ana me olha com ar de súplica e eu sei que se sair com este mau humor isso vai manchar o dia maravilhoso que tivemos. Ana abraça-me.
– Obrigada – sussurra. Sorrio para ela e a nuvem negra que paira sobre mim começa a dissipar-se.
– Vamos, pai. – Mia atira-lhe o microfone para as mãos e arrasta-o para a frente do ecrã. – Última música! – diz ela.
– Cama, Ana! – Não é um pedido. Já estou farto da minha família por esta noite. Ela assente e entrelaço os seus dedos nos meus. – Boa noite a todos. Obrigado pela festa, mãe.
Grace abraça-me.
– Tu sabes que te amamos. Só queremos o melhor para ti. Estou tão feliz com a novidade. E tão feliz por estares aqui.
– Sim, mãe. Obrigado. – Afago-lhe o rosto com carinho. – Estamos cansados. Vamos dormir. Boa noite.
– Boa noite, Ana. Obrigada – diz ela, e dá-lhe um abraço rápido. Puxo a mão de Ana para sairmos quando Mia põe "Wild Thing" para Carrick cantar. Não quero de todo ver isso.
Acendo a luz, fecho a porta do quarto e puxo Ana para os meus braços, em busca do seu calor, numa tentativa de me distanciar da repreensão intensa de Carrick.
– Ei, estás bem? – pergunta ela num murmúrio. – Estás aborrecido. – Só estou irritado com o meu pai. Mas isso não é nada de novo. Ele ainda me trata como um adolescente.
Ana abraça-me com mais força.
– O teu pai ama-te.
– Bem, hoje ele está muito desapontado comigo. Outra vez. Mas não quero falar disso agora. – Beijo-lhe o cocuruto e ela lança a cabeça para cima, olhando-me com compaixão e compreensão e eu sei que nenhum de nós quer reavivar o espectro de Elena neste momento… Mrs. Robinson.
Lembro-me do início da noite quando Grace, em toda a sua glória vingadora, pôs Elena na rua. Interrogo-me sobre o que teria dito a minha mãe se, nos velhos tempos, me tivesse apanhado com uma rapariga no meu quarto. Subitamente sinto-me estimulado pela mesma excitação juvenil que tive quando Ana e eu viemos para aqui às escondidas no último fim de semana durante o baile de máscaras.
– Tenho uma rapariga no meu quarto – gracejo.
– O que lhe vais fazer? – O sorriso de Ana é sedutor. – Hum. Tudo o que queria fazer com raparigas quando era adolescente. – Mas não podia. Porque não suportava ser tocado. – A não ser que estejas muito cansada. – Passo com o nó dos dedos pela suave curvatura da sua face.
– Christian, estou exausta, mas também excitada.
Oh, querida. Beijo-a e fico com pena dela.
– Talvez seja melhor dormirmos. Foi um longo dia. Vem. Eu aconchego-te na cama. Vira-te.
Ela obedece e abro o fecho do vestido.
Enquanto a minha noiva adormece ao meu lado, envio a Taylor uma mensagem a pedir que nos traga uma muda de roupa do Escala pela manhã. Deitado ao lado de Ana, foco-me no seu perfil, maravilhado por ela já ter adormecido… e por ter concordado em ser minha.
Alguma vez serei suficientemente bom para ela?
Serei material para marido?
O meu pai parece duvidar disso.
Suspiro e deito-me de costas, a olhar para o teto.
Vou provar-lhe que está errado.
Ele sempre foi severo comigo. Mais do que com Elliot ou Mia. Maldito. Ele sabe que não sou boa rês. Enquanto revivo a nossa conversa na cabeça, vagueio até o sono me reclamar.
Braços para cima, Christian. O papá está muito sério. Está a ensinar- -me a mergulhar na piscina. É isso mesmo. Agora curva os dedos dos pés sobre a extremidade da piscina. Isso. Arqueia as costas. Isso mesmo. Agora atira-te. Eu caio. E caio. E caio. Mergulho. Na água fria e transparente. No azul. Na calma. Na tranquilidade. Mas as minhas asas de água puxam-me para receber ar. E procuro o papá. Olha, papá, olha. Mas Elliot salta-lhe para cima. E caem no chão. O papá faz cócegas a Elliot. Elliot ri-se. E ri-se. E ri-se. E o papá beija-lhe a barriga. O papá não me faz isso a mim. Eu não gosto. Estou na água. Quero estar ali em cima. Com eles. Com o papá. E estou junto às árvores. A ver o papá e a Mia. Ela dá risadas de alegria enquanto ele lhe faz cócegas. E ele ri-se. E ela contorce-se e salta para cima dele. Ele atira-a ao ar e apanha-a. E eu permaneço junto às árvores sozinho. A ver. A querer. O ar cheira bem. Cheira a maçãs.
– Bom dia, Mr. Grey – murmura Ana quando abro os olhos. O sol matinal brilha através das janelas e eu estou enrolado a ela como uma videira. O nó da saudade e da tristeza, provavelmente evocado por um sonho, desfaz-se ao vê-la. Estou encantado e excitado e o meu corpo ergue-se para a cumprimentar.
– Bom dia, Miss Steele. – Ela está linda, apesar de estar a usar a t-shirt I Ƅ Paris da Mia. Agarra-me o rosto com os olhos a brilhar e o cabelo selvagem e brilhante sob a luz matinal. Passa o dedo pelo meu queixo e faz-me cócegas na barba por fazer.
– Estava a ver-te dormir.
– Estavas?
– E a olhar para o meu belo anel de noivado. – Estende a mão e mexe os dedos. O diamante capta a luz e lança pequenos arco-íris sobre os meus antigos cartazes de filmes e de kickboxing pendurados nas paredes. – Oh! – murmura ela. – É um sinal.
Um bom sinal, Grey. Esperemos.
– Nunca mais o tiro.
– Boa! – Mexo-me de modo a tapá-la. – Estás a observar-me há quanto tempo? – Esfrego o meu nariz no dela e beijo-a. – Não, não. – Ela empurra os meus ombros e a minha sensação de desapontamento é real, mas depois vira-me para cima e instala-se sobre mim. Sentada, tira a t-shirt num movimento fluido e atira-a para o chão. – Estava a pensar em acordar-te como deve ser. – Sim? – O meu pénis e eu rejubilamos.
Antes de conseguir mexer-me, ela inclina-se e beija-me suavemente no peito. O seu cabelo castanho cai sobre nós e os seus olhos azuis brilhantes espreitam-me.
– A começar aqui. – Beija-me novamente.
A minha respiração acelera.
– Depois passando para aqui. – A sua língua percorre uma linha descendente na direção do meu esterno.
Sim.
A escuridão permanece longe, submissa à deusa em cima de mim ou à minha líbido prestes a rebentar. Não sei a qual.
– Sabe muito bem, Mr. Grey – sussurra ela contra a minha pele. – Fico feliz com isso. – As palavras soam roucas na minha gar ganta.
Ela lambe-me e mordisca-me o peito, e os seus seios deslizam sobre o meu estômago provocando-me arrepios de prazer.
Ah!
Uma vez, duas vezes, três vezes.
– Ana! – Aperto-lhe os joelhos, comprimindo-os à medida que a minha respiração acelera. Mas ela contorce-se em cima das minhas ancas, por isso, deixo-me ir. Ela ergue-se, deixando-me excitado com tanta expectativa. Acho que ela me vai possuir. Ela está pronta.
Eu estou pronto.
Foda-se, estou tão pronto.
Mas ela continua a descer pelo meu corpo. Beija-me o estômago e a barriga, a sua língua desliza pelo meu umbigo, passando de seguida pelo pénis. Mordisca-me mais uma vez e sinto-a no meu pénis. Ah!
– Aí estás tu! – murmura ela, olhando com cobiça para o meu pénis sedento e depois para mim, lançando-nos um sorriso lascivo. Lentamente, com os olhos presos nos meus, enfia-o na boca. Meu Deus.
A cabeça dela sobe e desce, com os dentes escondidos atrás dos lábios, e enfia o pénis cada vez mais fundo. Os meus dedos encontram o seu cabelo e afastam-no do caminho para poder apreciar a visão da minha futura mulher a apoderar-se do meu pénis. Aperto as nádegas e empurro as ancas, à procura de mais profundidade. Ela aceita, pressionando a boca em redor de mim.
Mais fundo.
Ainda mais fundo.
Ah, Ana. Sua deusa do sexo.
Ela apanha o ritmo e fecha os olhos. Agarro-lhe o cabelo com força. Ela é tão boa nisto.
– Sim – silvo entredentes, e perco-me nas subidas e descidas da sua boca maravilhosa. Estou a atingir o clímax.
De repente, ela para.
Maldição. Não! Abro os olhos e vejo-a mover-se por cima de mim. Depois, mergulha muito devagar no meu pénis prestes a rebentar de prazer. Gemo, desfrutando de cada precioso centímetro. O cabelo cai- -lhe sobre os seios nus e ergo-me para o acariciar, deslizando os meus dedos pelos seus seios duros, vezes sem conta.
Ela liberta um longo gemido, esmagando os seios contra as minhas mãos.
Oh, querida.
Depois inclina-se para a frente, beijando-me. A língua dela invade a minha boca e sinto o meu sabor salgado na sua boca doce. Ana.
Coloco as mãos nas suas ancas, ergo-a para fora de mim e, logo a seguir, puxo-a para baixo ao mesmo tempo que levanto os meus quadris. Ela grita, agarrando-se aos meus pulsos.
E faço-o novamente.
E mais uma vez.
– Christian – grita ela para o teto, numa súplica, enquanto nos juntamos em uníssono e nos movemos ao mesmo tempo. Como um. Até ela se desmoronar em cima de mim, arrastando-me com ela e despoletando o meu clímax.
Aninho-me no seu cabelo e passo os dedos pelas costas. Ela deixa-me sem fôlego.
Isto ainda é recente. Ana no comando. Ana a tomar a iniciativa. Gosto.
– Esta é a minha ideia de culto de domingo– murmuro. – Christian! – Ela encosta a cabeça à minha, os olhos muito abertos em desaprovação.
Dou uma gargalhada.
Isto alguma vez deixará de ter graça? Conseguir chocar Miss Steele? Abraço-a com força, viramo-nos e ela fica por baixo de mim. – Bom dia, Miss Steele. É sempre um prazer acordar consigo. Ela afaga-me o pescoço.
– E consigo, Mr. Grey. – O seu tom de voz é suave. – Temos de nos levantar? Gosto de estar aqui no teu quarto.
– Não. – Olho para o relógio na mesa de cabeceira. São 09h15. – Os meus pais devem estar na missa. – Mudo-me para o lado dela. – Não sabia que eles eram do género de ir à igreja.
Faço uma careta.
– Sim, eles são católicos.
– E tu?
– Não, Anastasia.
Deus e eu seguimos caminhos separados há muito tempo. – E tu? – pergunto, sabendo que Welch não conseguira encontrar afiliações religiosas durante a verificação do seu passado. Ela abana a cabeça.
Está um pequeno saco de couro à porta do meu quarto. Taylor entregou roupa limpa. Verifico o saco e fecho a porta. Ana está embrulhada numa toalha, com gotas de água a brilharem nos ombros. Tem a atenção focada no meu quadro de avisos, com o olhar fixo na fotografia da prostituta. Vira a cabeça na minha direção, com um olhar inquisitivo na sua bela face… uma pergunta à qual não quero responder. – Ainda a tens – diz ela.
Sim, ainda tenho a foto. Qual é o problema?
À medida que a sua pergunta paira no ar entre nós, o sol matinal acentua o crescente brilho dos seus olhos, bebendo de mim, suplicando- -me para dizer algo. Mas não consigo. Não quero ir por aí. Por um instante, lembro-me do murro no estômago que senti quando Carrick me deu aquela fotografia há muitos anos.
Maldição. Não vás por aí, Grey.
– Taylor trouxe-nos uma muda de roupa – murmuro, atirando o saco para cima da cama. Segue-se um silêncio demasiado longo antes de ela responder.
– Ok – diz, encaminha-se para a cama e abre o saco.
Estou a abarrotar. Os meus pais regressaram da missa e a minha mãe cozinhou o seu brunch tradicional: um prato delicioso capaz de causar enfartes, com bacon, salsichas, batatas fritas, ovos e queques. Grace está muito calada e suspeito que deve estar de ressaca.
Durante a manhã evito o meu pai.
Não lhe perdoei por ontem à noite.
Ana, Elliot e Kate discutem ardentemente, entre todas as coisas importantes da vida, sobre o bacon, e debatem quem deve comer a última salsicha. Estou meio a ouvir, divertido, enquanto leio, na edição de domingo do The Seattle Times, um artigo sobre a taxa de fracasso dos bancos locais.
Mia guincha e reclama o seu lugar à mesa, agarrada ao computador portátil.
– Vejam só. Há um artigo nas páginas sociais do site Seattle Nooz Web acerca do teu noivado, Christian.
– Já? – observa a mãe, surpreendida.
Estes idiotas não têm nada melhor para fazer?
Mia lê a coluna em voz alta.
– “Aqui no Nooz ficámos a saber que o solteiro mais cobiçado de Seattle, o Christian Grey, foi finalmente apanhado, e que há sinos de igreja prestes a badalar.”
Observo Ana. Está pálida, alternando o seu olhar triste entre mim e Mia.
– “Mas quem será a jovem sortuda?” – continua Mia. – “O Nooz está a investigar. De certeza que ela está a ler uma data de condições pré-nupciais.” – Mia começa a rir-se.
Olho para ela. Cala a boca, Mia.
Ela para e comprime os lábios. Ignorando-a e a todos os olhares ansiosos trocados à mesa, viro a minha atenção para Ana, que fica ainda mais pálida.
– Não – digo, tentando tranquilizá-la.
– Christian – diz o pai.
– Não vou voltar a discutir este assunto – rosno-lhe. Ele abre a boca para dizer algo. – Não há acordo pré-nupcial! – digo com tanta veemência que ele fecha a boca.
Cala-te, Carrick!
Voltando a olhar para o jornal, dou por mim a ler, vezes sem conta, a mesma frase do artigo sobre o sistema bancário. Sinto-me irritado. – Christian – murmura Ana. – Eu assino qualquer coisa que tu e Mr. Grey queiram.
Encaro-a e ela está a suplicar-me. O brilho de lágrimas por derramar assoma aos seus olhos.
Ana. Para.
– Não! – exclamo, implorando-lhe para esquecer o assunto. – É para te proteger.
– Christian, Ana… Parece-me que deveriam discutir isto em privado – avisa Grace, e olha carrancuda para Carrick e Mia. – Ana, a questão não és tu – murmura o pai. – E, por favor, trata- -me por Carrick.
Não tentes compensá-la agora. Estou a ferver por dentro. Subitamente Kate e Mia levantam-se para limpar a mesa e Elliot agarra rapidamente a última salsicha com o garfo.
– Eu não tenho dúvidas, prefiro salsichas – diz ele, com uma frivolidade forçada.
Ana está a fitar as próprias mãos. Parece cabisbaixa.
Meu Deus. Pai. Olha o que fizeste.
Inclino-me e agarro-lhe as mãos, murmurando para que só ela me possa ouvir: – Para com isso. Ignora o meu pai. Ele está chateado por causa da Elena. Tudo aquilo foi para me atingir. Quem me dera que a minha mãe tivesse ficado calada.
– Ele tem razão, Christian. És muito abastado e eu não trago nada para este casamento, a não ser as dívidas do meu empréstimo universitário.
Querida, eu quero-te de qualquer forma. Tu sabes isso!
– Anastasia, se me deixares, bem podes levar tudo. Já me deixaste uma vez. Sei o que me faz sentir.
– Isso foi diferente – murmura ela, e franze o sobrolho mais uma vez. – Mas… tu podes querer deixar-me.
Agora ela está a ser ridícula.
– Christian, sabes que sou capaz de fazer alguma coisa excecionalmente estúpida… e tu… – Ela para.
Ana, acho que isso é bastante improvável.
– Para. Para já. Este assunto está encerrado, Ana. Não vamos voltar a discuti-lo. Não há acordo pré-nupcial. Nem agora, nem nunca. Luto com os meus pensamentos, tentando agarrar-me a alguma coisa e a inspiração atinge-me. Viro-me para Grace, que está a remexer as mãos e a olhar ansiosamente para mim, e pergunto: – Mãe, podemos fazer o casamento aqui?
A sua expressão altera-se. Passa de alarme para alegria e gratidão.
– Querido, isso seria maravilhoso. – E acrescenta, como se tivesse pensado nisso depois: – Não querem um casamento na igreja? Olho para ela de lado e ela capitula de imediato.
– Adoraríamos que se casassem aqui. Não achas, Cary? – Sim, sim, claro. – O meu pai sorri benignamente para Ana e para mim, mas não consigo olhar para ele.
– Tens uma data em mente? – pergunta Grace.
– Quatro semanas.
– Christian. Isso não chega.
– É muito tempo.
– Preciso de pelo menos oito!
– Mãe. Por favor!
– Seis? – suplica ela.
– Isso seria maravilhoso. Obrigada, Mrs. Grey – afirma Ana e atira-me um olhar de aviso, desafiando-me a ousar contradizê-la. – Seis será – declaro. – Obrigado, mãe.
Ana está silenciosa na viagem de regresso a Seattle. Provavelmente está a pensar na minha explosão com Carrick esta manhã. A nossa discussão da noite anterior ainda me causa ressentimento – a sua desaprovação ainda me irrita. No fundo, estou preocupado por ele poder ter razão. Talvez eu não tenha sido feito para marido.
Raios. Vou-lhe provar que está errado.
Não sou o adolescente que ele pensa que sou.
Olho para a estrada à minha frente, desanimado. Tenho a minha miúda ao meu lado, temos uma data para o nosso casamento, e eu devia sentir-me fantástico, mas estou sob o efeito dos restos da tirada zangada do meu pai sobre Elena e sobre o acordo pré-nupcial. Por outro lado, acho que ele sabe que fez asneira. Tentou compensar-me quando partimos esta manhã, mas a sua tentativa desastrada e inconveniente para fazer as pazes ainda magoa.
Christian, eu sempre fiz tudo o que podia para te proteger. E falhei. Devia ter estado lá para ti.
Não o quis ouvir. Ele devia tê-lo dito ontem à noite. E não o fez. Abano a cabeça. Quero sair desta depressão.
– Ei, tenho uma ideia. – Inclino-me e aperto o joelho de Ana.
Talvez a minha sorte esteja a mudar: há um lugar de estacionamento no exterior da catedral de St. James. Ana espreita por entre as árvores para o majestoso edifício que domina todo o quarteirão na Quinta Avenida, depois vira-se para mim com um ar de interrogação.
– Igreja – atiro-lhe, em jeito de explicação.
– É grande para uma igreja, Christian.
– É verdade.
Ela sorri.
– É perfeita.
De mãos dadas, entramos por uma das portas principais para a antecâmara e continuamos até à nave da igreja. Por instinto, aproximo- -me da pia de água benta para me abençoar, mas paro a tempo, sabendo que se um raio me atingisse, seria agora. Apanho Ana boquiaberta de surpresa, mas desvio o olhar para admirar o impressionante teto enquanto espero pelo julgamento de Deus.
Não. Nada de raios hoje.
– Velhos hábitos – murmuro, um pouco embaraçado, mas aliviado por não ter sido transformado num monte de cinzas ao entrar. Ana vira a atenção para o magnífico interior: os tetos grandiosamente ornados, as colunas de mármore com tons ferrugem, o elaborado vitral, os raios de sol que entram, num feixe constante, através do óculo na cúpula do transepto, como se Deus estivesse a sorrir para este local. Ouve-se um silêncio murmurado que enche a nave, envolvendo-nos numa calma espiritual que apenas é perturbada pela tosse ocasional de um dos poucos visitantes. É tranquila, um refúgio do burburinho de Seattle. Já me tinha esquecido de como é serena e bela, mas também já aqui não entro há anos. Sempre adorei a pompa e cerimónia da missa católica. O ritual. As respostas. O cheiro do incenso. Grace certificou-se que os seus três filhos eram versados em todas as coisas relacionadas com o catolicismo, e houve uma época em que fazia qualquer coisa para agradar à minha nova mãe.
Mas a puberdade chegou e tudo isso se perdeu. A minha relação com Deus nunca recuperou, e mudou a relação com a minha família, especialmente com o meu pai. Andávamos sempre às turras um com o outro quando fiz treze anos. Sacudo a memória. É dolorosa.
Agora, no esplendor da nave, fico assoberbado por uma familiar sensação de paz.
– Vem. Quero mostrar-te uma coisa. – Caminhamos pela coxia do lado direito. O som dos saltos de Ana soa por cima das lajes, até chegarmos a uma pequena capela. As paredes douradas e o chão escuro constituem o cenário perfeito para a requintada estátua de Nossa Senhora, rodeada de velas acesas.
Ana arqueja quando a vê.
Sem dúvida que este ainda é um dos mais belos santuários que já vi. A Virgem, de olhos baixos para o chão, demonstrando modéstia, segura o filho no alto. A sua roupa dourada e azul brilha à luz das velas a arder.
É espantosa.
– A minha mãe costumava trazer-nos aqui às vezes para a missa. Este era o meu lugar preferido. O Santuário da Abençoada Virgem Maria – murmuro.
Ana absorve a cena, a estátua, as paredes, o teto escuro coberto de estrelas douradas.
– Foi isto que inspirou a tua coleção? As tuas Madonas? – pergunta ela com admiração na voz.
– Sim.
– Maternidade – murmura ela e olha para mim.
Encolho os ombros.
– Já vi fazerem-no bem e fazerem-no mal.
– A tua mãe biológica? – pergunta ela.
Aceno com a cabeça, e os olhos dela abrem-se muito, revelando alguma emoção profunda que não quero reconhecer. Desvio o olhar. É demasiado.
Coloco uma nota de cinquenta dólares na caixa de ofertório e entrego-lhe uma vela. Ana agarra as minhas mãos, com gratidão, e depois acende a vela numa das outras. Coloca-a num aplique de ferro na parede e a vela fica a brilhar entre as suas companheiras. – Obrigada – diz ela baixinho a Maria, e abraça-me pela cintura, pousando a cabeça no meu ombro. Juntos permanecemos em calma contemplação num dos santuários mais impressionantes do coração da cidade.
A paz, a beleza e estar com Ana restaura o meu bom humor. Para o inferno com o trabalho esta tarde. É domingo. Quero divertir-me com a minha miúda.
– Vamos ao jogo? – pergunto.
– Jogo?
– Os Phillies jogam contra os M’s no Safeco Field. A GEH tem um camarote lá.
– Claro. Parece divertido. Vamos. – Ana brilha de entusiasmo. De mãos dadas voltamos ao R8."
"Mais Livre" (PVP 20,90€) chega às livrarias portuguesas a 8 de junho. É editado em Portugal pela LeYa / Lua de Papel e é traduzido do inglês por Paula Oliveira Antunes