Tiago Nacarato vai subir ao palco do EA Live, em Évora, já no próximo sábado, 24 de julho, num concerto que conta com a primeira parte assegurada pelo artista Buba Espinho. De acordo com o artista de 31 anos, o concerto de sábado será uma autêntica viagem entre o passado e o futuro da sua carreira. "Vou estar a testar reportório, com muitas músicas novas e com uma banda maravilhosa", composta por João Salsa Salcedo, Edmundo e Tomás Marques.
Com a cultura a meio gás há (demasiados) meses, Tiago Nacarato confessa estar "super agradecido" por todos os apoios que tem recebido – desde apoios para gravar o próximo disco a apoios de layoff ou da Sociedade Portuguesa de Autores.
O artista reconhece que nem todos os artistas têm acesso aos mesmos apoios, mas acredita que muitos músicos acabam por receber "por debaixo da mesa" e, por isso, torna-se complicado pedir qualquer tipo de benefícios. "Qual é a legitimidade de pedir um apoio quando foges quase sempre aos deveres?", admite.
Para Tiago, o facto de o Estado cobrar muito daquilo que é o lucro final pode contribuir para este tipo de práticas. "Para músicos que, se calhar, tocam uma ou duas vezes por semana é sempre melhor receber mais 20€ ou 30€", acrescenta, concluindo que, acima de tudo, "quem foge aos deveres" fá-lo por necessidade.
Em entrevista à MAGG, o artista do Porto revela que, também por questões monetárias e estratégicas, é fácil optar por criar música exclusivamente para passar na rádio. "Agora, estou a começar a desapegar-me dessa ideia, porque foi uma coisa que acabou por me modificar enquanto artista. Percebi os frutos que traz – a rádio é um veículo rentável e que dá um certo prestígio e dinheiro. Mas comecei a pensar muito nisso e acabou por não se tornar inspirador", revela Tiago.
Atualmente, o artista diz que não sabe ao certo quais são os ingredientes necessários para tornar uma música "radiofónica", mas acredita que a linguagem é um dos critérios mais importantes. "Para mim, o ideal é contar uma história que as pessoas percebam e queiram partilhar. Eu acredito que a linguagem mais direta seja a mais radiofónica. Nem tudo passa na rádio, porque nem tudo segue esse pré-requisito".
Neste contexto, com a promoção do single "A Dança", logo depois da participação no talent show da RTP1 "The Voice Portugal", Tiago Nacarato reconhece que a rádio contribuiu muito para aumentar o alcance que o programa previamente lhe proporcionou. "Foi assim uma rampa gigantesca de lançamento, chegou ao Brasil e já toquei em todo o lado em Portugal graças ao programa".
O artista portuense tem também raízes brasileiras e, por isso, o Brasil terá sempre um lugar especial no seu coração. Em 2018 e 2019, Tiago Nacarato esgotou vários concertos no Brasil, mas a pandemia acabou por lhe trocar as voltas e adiar o regresso ao país. O artista revelou à MAGG que as opções políticas acabaram por contribuir para que se afastasse dos palcos brasileiros.
"Segundo as opções políticas [de combate à pandemia], quando a tour estava marcada, tudo poderia decorrer normalmente. Só que nenhum artista no Brasil estaria disposto a tocar – e não havia concertos. Então eu seria o estrangeiro a erguer a bandeira quase ‘bolsonarista’ a dizer que tudo estava bem", admite.
Tiago acabou por cancelar a digressão, mas confessa ter esperança que, em 2022, tudo volte à normalidade. "Agora, mudei de agência, mudei para a Sons em Trânsito e já há expectativas de fazer Buenos Aires, por exemplo", revela o artista.
"Os astros alinharam-se e durante estes quatro anos foi tudo magnífico"
Tiago Nacarato ficou conhecido pela sua participação na quinta edição do "The Voice Portugal", em 2017, tendo sido eliminado antes da final. Mas o que poucos sabem é que a sua carreira musical não começou em 2017, com a mediática prova cega, onde conseguiu virar as cadeiras apenas 20 segundos depois de começar a cantar o tema "Onde Anda Você", de Vinicius de Moraes e Toquinho – que confessou à MAGG ser "a música que mudou a sua vida".
A verdade é que Tiago já tinha sucesso no Porto e fazia parte de uma orquestra – a Bamba Social – que esgotava e tocava quase sempre para casas cheias. No entanto, admite estar grato pelo programa da RTP1.
Ao recordar o seu período enquanto concorrente do "The Voice", Tiago admite que o ideal é que as pessoas entrem já com um reportório e estética definidos. "Se vais para lá sem experiência de palco, é muito fácil que te percas pelo caminho e sigas a voz dos outros e isso não é fixe", remata.
Apesar de ter noção de que ainda há um certo preconceito em relação a artistas que ganham projeção em talent shows, acredita que se conseguiu distanciar desse rótulo relativamente depressa. "Lancei logo o single 'A Dança', que foi nomeado para um Globo de Ouro, fiz um dueto com o Salvador Sobral e tudo isto acabou por me dar outro tipo de credibilidade", conta.
Tiago Nacarato deixa um conselho a todos aqueles pensam entrar num programa como o "The Voice". "O melhor é as pessoas irem para os bares e tocarem muito para conseguirem definir o seu reportório e a sua estética. Depois, digo para trabalharem muito e servirem-se do programa para conseguirem fazer coisas caras, porque até fazer um vídeo seja do que for é muito caro. E foi isso que eu pensei."
"Os astros alinharam-se e durante estes quatro anos foi tudo magnífico", acrescenta o cantautor. Depois do álbum de estreia lançado em 2019 – que conta com êxitos como "A Dança" ou o "Segredo" –, o artista do Porto conta que está a preparar o próximo álbum, com data de lançamento prevista para 2022 e que já está em processo criativo. Tiago confessa que já tem cerca de 20 músicas para o álbum e que em 2021 vai começar a fazer "triagem" para perceber quais serão eleitas para o projeto final, cujo nome ainda não revela.
"A cultura é uma fatia essencial na característica de um povo – engloba a música, a culinária, a língua e não só. Sem a cultura não somos nada"
Recentemente, Tiago Nacarato uniu-se à artista IRMA e juntos fizeram o tema "Vejo-te Aqui" – cuja história revela à MAGG. "A história com a IRMA foi gira. Nós conhecemo-nos num concerto dos Black Mamba, no Coliseu, e trocámos pequenas impressões – e fiquei a pensar 'um dia, vou ser amigo desta pessoa'".
Posto isto, as redes sociais fizeram a sua parte e uma mensagem no Instagram acabou por resultar neste tema que, com apenas um mês, já está praticamente a atingir as 200 mil visualizações no Youtube. “A IRMA mandou-me uma mensagem pelo Instagram a dizer que tinha uma canção e que queria que eu a terminasse. Eu ouvi a canção, gostei muito e fiz a minha parte”, acrescenta.
Ainda este ano, vamos poder encontrar Tiago Nacarato em concertos um pouco por todo o país. Por enquanto, pode contar com dois concertos a solo – o primeiro será já no próximo sábado, dia 24 de julho, em Évora; e o próximo em Caminha, dia 21 de agosto. Nos entretantos, Tiago fará ainda um concerto com a artista Bárbara Tinoco, dia 30 de julho, em Guimarães; e na Figueira da Foz, previsto para dia 14 de agosto.
Para convidar os portugueses a (voltar a) confiar na cultura, Tiago Nacarato garante que "os ambientes nos concertos são muito controlados" e, mais uma vez, reforça a importância da cultura. "A cultura é uma fatia essencial na característica de um povo – engloba a música, a culinária, a língua e não só. Sem a cultura não somos nada".
Ainda é possível adquirir os bilhetes para o concerto de Tiago Nacarato no Festival EA Live, em Évora, através da bilheteira online BOL. O bilhete custa 30€ e inclui tanto o concerto – de aproximadamente 120 minutos – como a degustação de vinhos, na Adega Cartuxa.
*entrevista realizada por Bruna Gonçalves, editada por Raquel Costa