A Direção Geral de Saúde (DGS) ainda não anunciou as normas para o acompanhamento da gravidez e do parto no âmbito da pandemia de COVID-19, mas Colégio de Ecografia Obstétrica Diferenciada anunciou algumas recomendações, de acordo com o que avança o jornal "Público". Uma delas é  uma possível priorização das ecografias do primeiro e segundo trimestre de gravidez, deixando cair a realização da ecografia do terceiro trimestre. Para perceber se esta será ou não uma medida segura para as grávidas, a MAGG falou com um o ginecologista e obstetra Fernando Cirurgião.

O médico começa por esclarecer que esta não é uma nova prática, uma vez que noutros países europeus a ecografia do terceiro trimestre não é priorizada, havendo uma maior aposta nas duas primeiras ecografias — a do primeiro trimestre, por volta das 12 semanas, e a chamada ecografia morfológica, por volta das 21 ou 22 semanas.

"Eles assumem que essas duas ecografias são essenciais e desde logo, não tendo sequer que ver com o período que estamos a passar, não fazem mais nenhuma ecografia. Portanto, é isso que o serviço nacional destes países promove e já faz", refere o especialista evidenciando que culturalmente estas são já práticas naturais lá fora.

Já em Portugal é algo que não se pratica e a possibilidade de esta nova medida avançar representa "abdicar de algo que estava instituído". Contudo, a ser aplicada, é uma forma de evitar que as grávidas tenham de se dirigir um maior número de vezes ao hospital, ainda que, de acordo com a DGS, "nos trabalhos científicos publicados, não existe informação sobre a suscetibilidade de mulheres grávidas ao COVID-19".

No entanto, todo o cuidado é pouco já que a gravidez pode tornar as grávidas mais suscetíveis a infeções respiratórias virais, incluindo a COVID-19, uma vez que estas sofrem alterações imunológicas e fisiológicas. Além das medidas de segurança já conhecidas — como lavar as mãos frequentemente, evitar contacto com pessoas doentes ou casos suspeitos e manter o distanciamento social — resta compreender em que é que a exclusão da última ecografia de gestação pode proteger as futuras mães.

Qual a importância da ecografia do terceiro trimestre?

A ecografia do terceiro trimestre, realizada entre as 28 e as 32 semanas, é essencialmente uma ecografia que avalia o crescimento fetal. Daí podem também ser tiradas várias conclusões, como a quantidade de líquido, o crescimento da placenta em termos de maturação ou a própria posição do bebé se está cefálico ou pélvico.

Atualmente, algumas consultas externas estão a ser feitas de forma não presencial, o que poderia colocar em hipótese a avaliação de alguns parâmetros analisados nesta ecografia através dessas mesmas consultas online ou por telefone.

Contudo, o obstetra Fernando Cirurgião esclarece que essa opção não é viável: "A única coisa que se pode fazer é avaliar os parâmetros mais usuais, como se o bebé mexe, a tenção arterial, o peso corporal, enfim, aquilo que são as coisas de rotina que corresponde normalmente às consultas intercalares. Agora, quanto às consultas que são próximas do final do gravidez  e a avaliação ecográfica no primeiro e segundo trimestre, continuam a ser imprescindíveis para avaliar o desenvolvimento do feto".

Uma vez que estas avaliações têm de ser mantidas, outra das recomendações do Colégio de Ecografia Obstétrica Diferenciada é que dentro das unidades de saúde os circuitos, zonas de internamento, blocos de partos e profissionais sejam separados entre zonas para grávidas sem e com a infeção (ou que tenham estado em contacto com alguém doente).

A medida pode não ser aplicada em todos os casos

O ginecologista e obstetra Fernando Cirurgião refere que podem acontecer algumas exceções à medida sugerida pelo  Colégio de Ecografia Obstétrica Diferenciada, uma vez que há gravidas com patologia obstétrica associada e nesses casos pode ser necessário particularizar as ecografias.

"Pode ser o caso de uma grávida hipertensa, diabética, grávidas em que haja algumas restrições do crescimento do bebé previamente ou patologias detetadas nas primeiras ecografias", refere o especialista, evidenciando que no fundo vai-se continuar a privilegiar as ecografias do terceiro trimestre de acordo com a situação individual de cada grávida.

Algo que não seja detetado na ecografia do terceiro trimestre pode ter implicações no futuro?

Dado o panorama atual de pandemia, o ideal será sempre proteger o mais que possível a mulher grávida. Evitar idas ao hospital é uma das formas, mas é preciso também ter em conta a segurança do desenvolvimento do feto. Poderá haver implicações ao não realizar a última ecografia do período de gestação?

"Usualmente não posso dizer que há impossíveis, mas aquilo que havia para ser detetado em termos de avaliação morfológica, deveria ter sido detetado na esmagadora maioria das situações logo no segundo trimestre, na ecografia morfológica", refere o especialista Fernando Cirurgião.

Podemos então dizer que, a ser aplicada, é uma medida segura?

"É seguro para as grávidas não patológicas, para as grávidas em que se trata de uma gravidez que está a evoluir normalmente e que apenas tem como objetivo a avaliação do crescimento fetal e como tal, perante esta situação, a ecografia [terceiro trimestre] pode ser prescindida", esclarece o especialista.

O objetivo da medida será limitar as deslocações das grávidas ao hospital, bem como melhorar a capacidade de resposta dos serviços. E uma vez que a terceira ecografia poderá ser prescindida mediante indicação médica, o obstetra Fernando Cirurgião refere que não há motivos para preocupação: "Ao mesmo tempo que muitas não irão fazer não tendo patologia, sendo uma gravidez normal não precisam de ficar preocupadas, aquelas que terão essa indicação formal os serviços serão dados".

Aquilo que não será viável aplicar é prescindir da primeira e segunda ecografia uma vez que são estas que permitem avaliar, vigiar, e despitar anomalias, sendo por isso essenciais.