O novo ano lectivo está quase aí e são muitas as preocupações que invadem as cabeças dos pais nesta altura do ano. As crianças voltam à escola para começar uma nova rotina, com horários e aprendizagens. São estas que entram em mais um ano desafiante, mas são os pais quem se preocupam mais. Principalmente aqueles cujos filhos frequentam o primeiro ciclo.
Uma preocupação frequente é a mudança de professor, entre anos, durante o primeiro ciclo. É uma altura em que os alunos ainda estão a perceber qual é a dinâmica da vida escolar e o professor tem um papel essencial. A descoberta e o início das aprendizagem podem ser assustadoras para as crianças, que acabam por ver no professor alguém em quem podem confiar. É com o professor que passam a maior parte do dia e é nele que os medos e as esperanças são depositadas.
Se o professor tem um papel essencial na vida dos alunos, será ou não benéfica esta mudança acontecer na transição de anos durante o primeiro ciclo? Fomos ouvir os dois lados.
Não, o professor deve manter-se
Segundo a psicóloga clínica Nathalie Marques, a continuidade do professor ao longo dos quatro anos do primeiro ciclo permite que este estabeleça uma relação de segurança com o aluno. É uma fase de adaptação para os mais novos e “o facto de se manter o mesmo professor ao longo do ciclo ajuda a que esta confiança das aprendizagens se mantenha mais segura”, esclarece à MAGG.
No entanto, explica como a mudança não é necessariamente má visto que os alunos têm a oportunidade de conhecer outras formas de aprender. "A verdade é que ao longo da nossa vida também temos de nos habituar a mudanças e a alterações”, salienta a especialista.
Embora não haja uma resposta exata, para Nathalie Marques é “sempre mais vantajoso” existir um professor fixo durante o primeiro ciclo por ser uma altura em que os alunos se estão “a adaptar emocionalmente a um novo método”.
Sim, a mudança é benéfica
Para a psicóloga infantil Rita Jonet, a mudança de professor durante o primeiro ciclo permite que as crianças sejam outras e que mostrem características diferentes que cada professor pode trazer ao de cima. Segundo a especialista, é algo “muito positivo e muito construtivo” que ajuda os alunos na transição do primeiro para o segundo ciclo.
Rita Jonet trabalha na área há 40 anos e explica como a sua opinião se baseia em experiências. “Temos feito de todo o tipo. Três anos seguidos, quatro anos seguidos, de dois em dois anos, e achamos que mais de dois anos com o mesmo professor é demasiado, para o bom e para o mau”, refere.
Mais de dois anos com o mesmo professor pode ser mau se a relação entre professor e aluno for muito forte, o que irá provocar uma transição ainda mais difícil para o 5º ano. O contrário também acontece: se a relação entre professor e aluno for difícil, criam-se expectativas piores quando se pensa a longo prazo, nos quatro anos do ciclo.
A mudança de professor não tem de ser repentina. É um aspecto que precisa de ser trabalhado para que as crianças reajam bem e se saibam adaptar a um novo professor. ”Estas transições preparam-se. Há coisas das quais eu acho importante irmos preparando e irmos dando as ferramentas para eles lidarem com a mudança”, explica a psicóloga, acrescentando ainda que é também um trabalho que deve ser feito pela escola.
"Vamos tentando dosear para que os miúdos tenham acesso a professores diferentes e a maneiras diferentes de ensinar, porque achamos que isso também é muito rico. E se começarem a trabalhar isto gradualmente, têm muito mais facilidade depois na adaptação do que se estiverem sempre ligados à mesma professora", acrescenta a psicóloga educacional do colégio O Nosso Jardim, em Lisboa.
Pais e encarregados de educação, a resposta pende para os dois lados: resta perceber qual é a melhor opção para cada aluno.