Tive conhecimento da condução de um inquérito aplicado aos alunos do 5º ano no contexto da disciplina de Cidadania que aconteceu na Escola Francisco Torrinha, no Porto. Nada de anormal, atendendo a que durante o ano letivo existem diversos questionários que são colocados aos nossos filhos, sempre sujeitos à aprovação dos encarregados de educação. Porém, confesso que, na qualidade de mãe, fiquei algo boquiaberta, quando li as referidas questões, que passo a transcrever:

“- Namoras actualmente?  Sim:  Não.

- Já namoraste anteriormente?  Sim:  Não:

- Sinto-me atraído(a) por: Homens:  Mulheres:  Ambos:”

Sou mãe de duas filhas, uma já adulta e a outra quase a atingir a maioridade. A mais velha andou nesta Escola do 5º ao 9º ano. A nossa experiência com esta escola foi positiva e os poucos percalços que tivemos foram resolvidos com cuidado e eficazmente. Em suma, guardamos boas recordações.

Dou por mim ainda de boca aberta a questionar-me por que motivo, num questionário escolar a alunos do 5º ano, que, em média, terão cerca de nove a dez anos,  colocariam perguntas destas. Como esperam que as crianças interpretem e ainda, como esperam que as crianças respondam?

Deram conhecimento aos encarregados de educação do teor do questionário? Informaram quais os objetivos por trás do mesmo? Qual o objeto do estudo? Falemos de competências: quem elaborou as perguntas? Como será feita a análise e avaliação das respostas e, mais importante ainda, com que objetivo?

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Agora falemos de responsabilidades: apuro que a Direção Geral de Educação não tinha conhecimento e que declina qualquer responsabilidade e o Ministério da Educação informou que é um caso isolado e que está já a ser investigado. A Escola Francisco Torrinha optou por não prestar qualquer declaração.

O esclarecimento desta situação é urgente e deve ser feito de forma adequada, não bastando para isso simplesmente não prestar declarações. Uma justificação terá de ser dada e brevemente, na minha opinião.

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Na minha opinião, este questionário não foi preparado, explicado ou contextualizado o suficiente para que os encarregados de educação compreendessem ou aceitassem o mesmo. Efetivamente, tudo me leva a concluir que foi um estudo mal preparado e as consequências não foram devidamente ponderadas.

Entendo que as escolas se deparem com novas questões, diferentes e diversos posicionamentos e procurem novas formas de os abordar, porém têm de existir profissionalismo, equipas multidisciplinares, razoabilidade, ética e responsabilidade.

A sociedade é viva, imparável, está sempre a mudar. As escolas têm de arranjar novas formas de se adaptar e inovar a sua atuação, porém não nos devemos esquecer que por trás de um aluno está um educador, uma família, um grupo social, a sociedade e todos devem coexistir de forma equilibrada.