Não é preciso chegarem as férias do Natal para os miúdos ficarem horas à frente do computador a jogar "FIFA", "Need For Speed", ou tantos outros títulos que fazem parte dos gastos anuais dos pais, ou até mesmo para conversarem com os amigos através do tablet.
Isso já acontece durante todo o ano sempre que chegam a casa da escola e conseguem o tão esperado "sim" para se agarrarem às tecnologias.
Tudo isto tem influência no sono, no sedentarismo e também na coluna. Porquê? Porque "o estar sentado coloca a porção lombossagrada [união do sacro à bacia pela coluna vertebral] da coluna em maior stresse mecânico, leva ao descondicionamento das grupos musculares, e consequentemente provoca um impacto negativo sobre as estruturas que compõe a coluna", explica à MAGG Jorge Alves, ortopedista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV).
Mas afinal o que é a coluna? É composta por ossos, discos intervertebrais e ligamentos. Pela descrição, nada teria que ver com os grupos musculares indicados pelo especialista, mas o facto é que sem a ação desses, a coluna não conseguiria realizar as funções de modo adequado.
O uso dos ecrãs é apenas uma das consequências para a coluna dos miúdos, mas há mais: o sedentarismo, além de estar relacionado com a permanência de tempo excessivo à frente dos ecrãs, acontece quando as crianças e jovens passam o dia sentados nos estabelecimentos de ensino, levando à atrofia dos músculos.
É precisamente no ensino que encontramos ainda outra das causas de problemas na coluna: "O carregamento de mochilas com cargas superiores a 10-15% do peso corporal", que acontece muitas vezes devido ao facto de terem de carregar diariamente vários manuais necessários para as disciplinas que compõem a carga horária escolar.
Estes fatores, de acordo com o especialista, não afetam apenas a coluna, mas também outros segmentos do corpo.
Como é que as crianças e pais podem atuar no sentido da prevenção?
O sedentarismo em sala de aula é algo que não se pode evitar, e "se o local não estiver bem preparado do ponto de vista ergonómico, essas consequências ainda são mais nefastas", alerta o ortopedista Jorge Alves.
A longo prazo, a má postura e as agressões da coluna que as crianças sofrem hoje em dia podem mesmo determinar a qualidade de vida. Dor, sintomas relacionados com a compressão de nervos (como a dor ciática) ou a perda de força e/ou de sensibilidade numa parte dos braços ou das pernas, são alguns dos exemplos das consequências.
Mas há uma forma de reverter a situação: o exercício físico. "Promove o bom funcionamento dos componentes musculares e, além disso, permite o controlo do peso corporal, evitando assim a sobrecarga mecânica sobre a coluna".
Esta é uma atividade que surge da iniciativa das crianças em conjunto com a motivação dos pais, tal como a adoção de uma alimentação saudável que o especialista recomenda de forma a equilibrar todos os fatores que podem prejudicar a coluna dos jovens.
O ortopedista Jorge Alves refere ainda uma outra forma de os pais intervirem para minimizar os riscos da coluna das crianças: "Cuidados posturais e a ergonomia do local de estudo também são importantes", conclui o especialista.