Sapatilhas com bolor, com manchas que não sabemos como as fizemos, com um buraco à frente que não é possível esconder tal como fazemos com as meias ou uma sola amarelada. Tudo isto pode ser resolvido, basta levar o calçado velho a uma espécie de doutor dos sapatos chamado Re-shoes, com uma loja física no Parque das Nações, em Lisboa.
O projeto foi criado em 2018 por Luís Pedro Ferreira, 36 anos, designer de formação e há muitos anos familiarizado com a limpeza de têxteis, dado que os pais sempre tiveram lavandarias, e como quando era militar tinha muito tempo livre, acabava por ajudá-los. Tirou depois uma formação em têxteis, abriu uma lavandaria própria e foi quando se apercebeu que neste ramo não havia ninguém a focar-se na limpeza dos ténis.
Pôs pés à obra e deu vida ao projeto Re-shoes, focado em três serviços: limpeza clássica do exterior, interior e sola (a partir de 20€), a limpeza com restauro (30€) — a mais pedida — que "leva alguns toques de pintura, tingimentos de têxteis, desoxidações de sola para tornar, por exemplo, o amarelo em branco outra vez", explica Luís, e existe ainda a limpeza à Re-shoes (45€), que já vai às costuras e permite fazer personalizações.
Existem ainda serviços adicionais, como limpeza profunda de atacadores (3€) e aplicação de ambientador e antibacteriano (3€), e também é possível comprar sapatilhas usadas ou novas na loja.
"Grande parte são ténis usados que tinha ou que comprei ou troquei, mas o cliente também pode alojar os seus ténis usados aqui. A única coisa que faço é cobrar a limpeza e temos um mês de venda. Normalmente, os clientes que têm posto cá vendem sempre os ténis", refere o fundador do Re-shoes.
E não admira. É que após o trabalho feito no Re-shoes, qualquer tipo de sapatos parecem como novos. Para isso é usado um produto químico chamado percloro, água, vaporização, um produto secreto criado por Luís e outras ferramentas necessárias durante o processo para chegar ao resultado final que está à vista.
Através do Re-shoes é possível prolongar a vida das sapatilhas, até porque esse foi um dos propósitos com que nasceu. Para reforçar essa vertente, o projeto vai estar presente na Cidade do Zero (evento organizado no âmbito da loja sustentável de Catarina Barreiros, Do Zero), que decorre de 8 a 10 de julho, entre as 10h e as 19h, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
Entre workshops para a família e palestras inspiradoras, vai estar Luís Pedro Ferreira a mostrar como faz este trabalho. Outra forma de perceber melhor é deixar mesmo os sapatos nas mãos de Luís, no evento ou na loja.
Há sapatos impossíveis de ganharem nova vida?
Apesar de haver uma certa beleza numas sapatilhas All Star velhas e cheias de história — beleza essa que foi recentemente valorizada em mais de 1.400€ numas sapatilhas novinhas em folha lançadas pela marca de luxo Balenciaga — chega a um ponto em que torna-se quase vergonhoso andar com buracos e solas que parecem ter estado numa batalha.
Mesmo nestes casos, é possível recuperar, mas é também preciso perceber quando vale ou não a pena. E Luís dá uma ajuda nesse sentido.
"Até agora conseguimos fazer tudo, mas há sapatos que aconselhamos a não o fazer porque estruturalmente estão danificados. Ou seja, às vezes ficam bons, mas não faz bem à saúde. E porque, se a estrutura está danificada, o preço é alto comparando com uma sapatilha nova. Avisamos sempre que não vai ficar perfeito e não vai fazer bem aos pés", alerta o fundador do Re-shoes.
Contudo, pode fazer sentido para colecionadores ou por uma questão emocional de quem não quer desfazer-se dos sapatos pelo quais se tem "amor platónico", brinca Luís, ou se quer guardá-los porque fizeram parte de um momento marcante.
Seja qual for o fim, quem vai à Re-shoes sai de sapatilhas velhas como novas e também de barriga cheia.
"Em grande parte do tempo das pessoas que iam lá, em conversa, ou íamos beber um cafezinho ou comer alguma coisa lá ao lado. E assim, como a minha mulher sempre teve este gosto de abrir um cafezinho com coisas boas, foi isso que fizemos. Como a loja é grande, unimos os dois conceitos", refere Luís.
No mesmo espaço, pode deixar ou levar os sapatos no Re-shoes e comer algo leve e mais saudável da carta recheada de "coisinhas malucas", diz entusiasmado o marido de Diana Ferreira, 33 anos. É Diana que prepara tudo, desde os salgados, como a tosta aberta de pão alentejano, queijo cabra, nozes, mel e tomilho (7,50€) e o bagel de cereais, salmão fumado e rúcula (7,50€), até aos doces.
Aqui inclui-se tosta em pão escuro, com manteiga de amendoim, banana, chia e mel (4€), bowl de açaí (5,50€) e panquecas, como a de iogurte e mel (5,20€).