Já existe uma mesma plataforma online onde pode comprar artigos de várias marcas portuguesas. Chama-se Cirelle e foi criada pela influenciadora digital Mafalda Carvalho. Este marketplace conta com dezenas de negócios nacionais e até com marca própria.
Inicialmente, a Cirelle era apenas um blogue. Mafalda criou-o em 2017 e era lá que publicava os artigos "muito simples" que escrevia sobre moda e que hoje já não se encontram online. Começou também a organizar eventos físicos no Porto, de onde é natural, nos quais juntava algumas marcas portuguesas. Surgia o Cirelle Market, ainda associado ao blogue.
"Experimentei no Shopping Cidade do Porto, depois fiz no MAR Shopping, de Matosinhos. Era mesmo um mercado. Montávamos vários stands, workshops de moda e maquilhagem ao longo do fim de semana, sempre tudo gratuito", disse-nos Mafalda Carvalho sobre estes eventos que aconteciam na primavera, no verão e no natal. Toda a gente podia inscrever-se para participar.
Cirelle, o marketplace que já tem produção própria
Em 2020 já estavam organizados eventos maiores, mas surgiu a pandemia, pelo que foi tudo cancelado. Veio então a ideia de criar um marketplace online. "Ao passar para o online queria algo mais permanente, que as pessoas pudessem comprar. Não algo que só acontecesse em determinadas datas", recordou.
"Falei com as marcas que iam participar nesses eventos e perguntei se não estavam interessadas em juntar-se numa plataforma online. E foi assim que começou a Cirelle", contou-nos a sua fundadora. Para se juntarem a este marketplace, as marcas tinham de corresponder a certas caraterísticas: "tinham que produzir em Portugal, não aceitávamos marcas que revendiam artigos".
Neste marketplace existem mais de 20 marcas cujos produtos vão desde joalharia a vestuário, calçado, biquínis e até decoração. Tentam que os negócios integrantes sejam "bastante diferentes entre si", procurando que, "quando entra uma marca nova, seja para combater uma falha" e não para criar concorrência.
Decorrido um ano, em 2020, a Cirelle passou a ter produção própria. "Começámos a lançar coleções produzidas por nós, em Portugal", recordou a jovem responsável pela marca. Estas coleções cápsula surgem com modelos limitados. "Tentamos repor, mas, esgotando, depois lançamos outra coleção diferente", explica a criadora de 25 anos.
Optam por lançar cápsulas para cada estação em vez de apostar numa única coleção, sendo que as peças são todas produzidas num ateliê no norte do País. "Quase todos os nossos fornecedores são de lá. Acabamos por centralizar tudo", explica Mafalda. A coleção mais recente da Cirelle, Señorita, foi lançada a 23 de julho.
Para esta coleção cápsula de verão, inspiraram-se em cocktails. Queriam ter vestidos que pudessem ser usados tanto de dia, como de noite. E "nada muito pesado". Há dois modelos de vestido, sendo que ambos estão disponíveis em três cores: fashionista e margarita, nos tons strawberry (morango), lime (lima) e blueberry (mirtilo).
Para o inverno, no qual já estão a trabalhar, vão apostar "nos brilhos, em peças mais arrojadas, em party collection". "As pessoas este ano querem muito ir a festas, a jantares. Pelo menos, é o que nos têm pedido muito", revela a responsável pela marca. Esta coleção ideal para as festividades deverá ser lançada "em meados de outubro".
Como um marketplace transcende o digital
De momento, algumas peças presentes neste marketplace estão à venda no SEEN Lisboa, um dos restaurantes do chef Olivier da Costa, aberto todos os dias. É para lá que encaminham quem pretende "fazer uma compra imediata". É também possível conhecer e até experimentar as peças no showroom da Cirelle, em Lisboa.
Apenas funcionam por marcação, abrindo agenda. "As pessoas vão marcando consoante a nossa disponibilidade. Vamos atendendo uma cliente de cada vez. Nunca recebemos mais pessoas ao mesmo tempo. O atendimento é mais personalizado", explicou-nos Mafalda Carvalho.
"Normalmente, pergunto sempre o que é que a pessoa quer experimentar, para garantir que tenho cá as peças", adianta. "Se forem peças nossas, há possibilidade de ajustar e, se a pessoa tiver tempo para aguardar, também conseguimos produzir para ela, nos próprios tamanhos", acrescenta, referindo o tempo mínimo de três semanas para este último caso.
E quem são os consumidores da Cirelle? Por norma, "pessoas acima dos 25 anos, público que trabalha em serviços, escritório, com algum poder de compra. Não se importam de investir um bocadinho mais numa peça que tenha qualidade". São pessoas "que procuram peças diferentes, para festas, casamentos, jantares, mais premium".
As caixas nas quais seguem as encomendas da Cirelle são feitas de cartão reciclado. O plástico não entra nem nesta nem noutras equações e, por produzirem de forma limitada e não em massa, têm "muito pouco" desperdício de tecidos. Efetuam trocas e devoluções e fazem envios para o estrangeiro. Têm ainda uma secção de promoções no site.
Quem está por detrás da Cirelle?
A equipa da Cirelle é constituída por quatro pessoas: duas que se focam da produção das peças, uma que ajuda em termos de packaging e social media, um programador, que trata do site, e Mafalda, que a criou. "Comecei a gostar de moda porque a minha mãe é costureira, então eu cresci no meio da roupa", explicou à MAGG sobre este interesse.
"Quando era miúda já fazia roupas para mim, já as alterava. Comprava casacos e fazia coletes, comprava calças e fazia calções. Eu via fazer isso em casa, então replicava", continuou, tendo-se apercebido, de forma "natural", de que estava ali a sua vocação. "Sempre gostei muito. Sempre fui aquela pessoa que gostava de preparar os looks para ir para a escola", garantiu-nos.
Mafalda Carvalho tem 25 anos e estudou Comércio Internacional no Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (ISCAP). "Já pensava, há algum tempo, criar uma marca no futuro. Escolhi um curso mais geral, que me desse bases em relação a isso", justificou.
"Estudávamos muito a gestão de um negócio, exportação, importação", continuou, revelando que não concluiu os estudos pois recebeu uma proposta de trabalho da RTP. "Foi uma coisa totalmente diferente daquilo que estava a fazer, mas aceitei e acabei por deixar o curso pendente", adiantou-nos.
Foi nessa altura que se apercebeu de que "aquilo que queria fazer de área profissional não tinha muito que ver com o que estava a estudar". O curso garantiu-lhe "algumas" bases teóricas úteis para a criação da Cirelle, como direito fiscal e contabilidade. "Depois é tudo um bocadinho a pôr as mãos na massa", crê.
Enquanto estudava fazia também gestão de redes sociais, que foi o que suscitou o convite por parte da RTP. Mafalda iria gerir as redes sociais da "Praça da Alegria", programa no qual começaria, depois, a fazer produção de conteúdos durante três anos. Apenas abandonou o cargo, que desempenhava no Porto, para ir morar para Lisboa e para se dedicar a 100% à Cirelle.
"Percebi que as nossas vendas eram maioritariamente para Lisboa e que o poder de compra estava cá", relembrou, tendo decidido procurar um espaço na capital para o qual se pudesse mudar — algo que aconteceu no início de 2021. Desde então, apesar de o foco residir neste marketplace, tem continuado a trabalhar na sua imagem pessoal e na moda.
"Gostávamos de, um dia, abrir uma loja própria. É um projeto de futuro", revelou-nos. Quanto a objetivos a curto prazo, além de continuar a fazer novas coleções, Mafalda Carvalho ambiciona aumentar a oferta da Cirelle, com mais marcas portuguesas a integrar o projeto.
Ainda este ano pretende também regressar aos eventos físicos, retomando o Cirelle Marketing, que parou devido à pandemia. Este evento decorreria em Lisboa, pela primeira vez. Para terminar, ambicionam estar presentes em mais lojas do mesmo segmento. "Tentamos encontrar lojas onde o cliente procure este tipo de peças e consiga dar resposta", explica-nos Mafalda.