A ModaLisboa foi testemunha, mais uma vez, da convergência entre a moda e a tecnologia, nomeadamente a Inteligência Artificial. Depois do desfile da Decenio, para o qual Matilde Mariano, criadora da MOLNM, foi convidada para fazer uma coleção cápsula tendo a ajuda desta ferramenta, foi a vez de outro criador assumir as rédeas de uma outra marca portuguesa, a Lion of Porches.
José Sobral, um arquiteto de formação que sempre teve o bichinho da moda, começou a brincar com a Inteligência Artificial ainda antes de esta estar no centro das atenções – e, fundamentalmente, preocupações – do mundo. Em 2023, sagrou-se vencedor da AI Fashion Week, que decorreu em Nova Iorque, Estados Unidos, e as suas criações fizeram com que rumasse até Los Angeles para que estas fossem vendidas na marca Revolve.
Foi nesse mesmo ano que criou a sua marca, Paatiff. E, para sua surpresa, foi também por essa altura que lhe bateu à porta um convite para regressar a Portugal. "Quando estou nos processos finais de lançar a minha coleção [com a Revolve], que não tem muito a ver [com a da Lion], porque é só roupa feminina, é aí que ele surge", conta à MAGG.
"Queria muito voltar a fazer coisas em Portugal, lançar coisas em Portugal", assume, desde logo, José Sobral. Mas houve uma questão que pairava no ar. "Como é que vamos encontrar uma sinergia de duas estéticas? À partida, é difícil começar a imaginar", diz-nos, acrescentando que este foi o maior desafio que se impôs no seu percurso. "Mas assim que começámos a alinhar o workwear, a construção das peças e as cores, conseguimos avançar muito mais rápido", frisa.
Apesar de o início do processo ter tido mão humana, com a discussão de algumas ideias em que estiveram envolvidos os tradicionais blocos de notas e sketches, no sentido de alinhar as estéticas vanguardista de José Sobral e a mais tradicional (mas cada vez mais urbana e moderna) da Lion of Porches, a ajuda da Inteligência Artificial vem acelerar o processo. Especialmente no que diz respeito à criação de protótipos.
"A Inteligência Artificial encurta isso para mostrar, de repente, imagens virtuais de peças que estivemos a discutir", explica. No entanto, é um processo que gera desperdício, porque as primeiras imagens "vão sempre para o lixo" – mas não é um desperdício nocivo. "Não vão para um lixo físico, não se perdeu tempo, não se perdeu material, não se poluiu, não há um green washing. Não é uma revolução da sustentabilidade, mas ao mesmo tempo é, porque foi tudo lixo digital", afiança.
"Depois de isto tudo estar finalizado e de já termos uma visão muito perfeita de todos os pormenores, entra a parte gira, que é a parte física, e é para isso que estamos aqui", afirma. E o resultado foi o que se viu na ModaLisboa, este sábado, 9 de março: uma coleção de workwear, na qual a ganga é a protagonista – não tivesse este tecido sido utilizado no século XIX pelas pessoas que tinham profissões mais exigentes –, que está em linha com a tentativa de modernização da Lion of Porches (da qual a coleção com o artista português Killa Was Here também é exemplo).