Passar o Natal sem frio, mantas e uma lareira ou, no mínimo, aquecedor aceso não é concebível para muitas famílias. Natal que é Natal tem de ser em casa com a família, mas não é assim que pensam Susana Vale e Valeria Pereira Gomes. Aliás, não só não pensam, como há vários anos não praticam a forma mais tradicional de celebrar o Natal.

Nesta altura do ano, Susana anda sempre em viagem com o marido, Márcio Parente, e o filho Magno — nome que talvez lhe seja familiar. É um dos três são os protagonistas do blogue e Instagram Mundo Magno, nos quais partilham todas as aventuras e fotografias inspiradoras de viagens à volta do mundo, sempre carregadas de paisagens de natureza. Magno, atualmente com 7 anos, passa o Natal desde pequeno em viagem, tal como faz durante todo ano desde que tinha apenas um mês de vida.

"Há sete anos, com exceção de um ano em que fomos passar o Natal a Portugal, que passamos o Natal e também o Ano Novo em viagem. Este ano continuaremos com esta quase tradição familiar e voltaremos a viajar nesta época", diz à MAGG Susana Vale.

Os destinos são sempre variados e a mãe de Magno afirma que "não podiam ser mais ecléticos". "Já passámos a noite de Natal em sítios tão diferentes como em Berat, na Albânia, em Chamonix com vista para as montanhas, no deserto Sossusvlei na Namíbia, na Tailândia ou nas termas de Saturnia, em Itália", enumera. Não procuram ver as iluminações de Natal, mas não raras vezes a neve faz parte da viagem na altura do Natal.

Mas porque é que nem no Natal a jurista, o marido head of technology da empresa de serviços financeiros UBS e o filho no ensino primário ficam por Portugal? "A logística familiar fica muito complicada quando se tem família em pontos diferentes do País. Mas compensamos visitando a família no início de dezembro e fim de janeiro. Sei que não é a mesma coisa, mas tem resultado para nós", explica Susana.

Podem não ter uma mesa enorme para juntar a família à mesa, mas se estiverem a viajar de autocaravana (um dos principais meios que usam para andar pela Europa), os típicos pratos da consoada não falham. Já noutro tipo de viagens, adaptam-se ao local. "Tentamos saber o que se come tradicionalmente nesses dias no país onde estamos", diz a mãe de Magno. Por falar nele, vive intensamente o Natal como qualquer criança graças ao trabalho dos pais. Quer dizer. Do Pai Natal.

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"Em viagem fazemos tudo tal qual estivéssemos em casa. Há troca de presentes e o Pai Natal visita o Magno durante a noite, com direito a bolachas, leite e cenouras para as renas. Costumamos dizer ao Magno que enviámos uma mensagem ao Pai Natal com as nossas coordenadas GPS e que ele dará connosco direitinho. Nunca falhou. Até costumamos deixar as meias de Natal penduradas na janela do hotel ou autocaravana", conta Susana.

As crianças são um dos principiais motivos pelos quais o Natal em família tem mais emoção, o que não quer dizer que os adultos não o consigam também vivê-lo intensamente. É o caso de Valeria Pereira Gomes e do marido, Rodrigo Gomes.

Passar o Natal com os pés mergulhados em água límpida

Por uma questão de dias, a apresentadora Carolina Patrocínio não vai passar o Natal no Brasil vestida de branco e a comer lentilhas, como manda a tradição, segundo a Agência Brasileira de Turismo (Embratur). Já Valeria Pereira Gomes, contabilista brasileira, de 38 anos, fica pelo país, mas nunca na terra natal. Costuma passar o Natal em viagem, sem saber que tradições vai cumprir — é que no final, a ceia ainda pode ser uma sandes.

"Como o meu marido é professor e as férias dele são em julho ou em dezembro/janeiro, e eu sou contadora [contabilista] e em janeiro não consigo sair, só nos resta esta semana para viajar", conta Valeria à MAGG. Apesar de ser uma altura de época alta e colocar alguns constrangimentos em termos de preços e disponibilidade de reserva, desde que casaram, há 15 anos, Valeria e Rodrigo habituaram-se a ir para fora e tornou-se "uma rotina".

Com exceção dos últimos três anos em que foram acompanhados dos pais de Rodrigo Gomes, o Natal é sempre a dois, algo que nunca incomodou Valeria, nem a família. "Como já fazemos isto há 15 anos, até a nossa família já se habitou", diz.

Lá fora não trocam presentes, pelo menos físicos, uma vez que a própria viagem acaba por ser o que calha no sapatinho um do outro. "Acabamos por nos presentear com os momentos. Pensamos assim: 'aquela viagem é o nosso presente de Natal'". E não é uma viagem qualquer. Como destino, optam sempre por locais dedicados ao ecoturismo e praias desertas.

"Gostamos das praias do nordeste [do Brasil], mais desertas, com natureza", assume Valeria, acrescentando que, mesmo nestes destinos, as cidades e os próprios hotéis têm decorações e iluminações natalícias, o que faz com que vivam o espírito distantes da terra Natal.

Já a Consoada, difere de local para local: uns oferecem "grande ceia de Natal" e outros, como já aconteceu a Valeria, têm tudo fechado. "Já viajámos para lugares em que no dia de Natal estava tudo fechado e tivemos de pegar um pãozinho no mercado ou fazer um lanche no hotel", recorda.

Este ano ainda não sabem o que lhes espera para comer na Consoada, está apenas garantido o destino: Caraíva, no nordeste do Brasil, onde ficam até antes da passagem de ano.