Se isto não é História, então não sei o que é. Este sábado, 14 de agosto, um número assombroso de jovens com idades compreendidas entre os 16 e os 17 anos respondeu ao apelo e, de norte a sul do País, acorreu aos centros de vacinação para se inocular contra a COVID-19, cumprindo assim um dos mais elementares deveres de cidadania: o respeito pelo outro. Este domingo, a mega-operação continua.
Vacinar-se não é uma obrigação, a cada um cabe o direito de escolher. As dúvidas sobre um medicamento, mesmo vindas de quem não tem qualquer tipo de conhecimento científico e que usa argumentos como "fiz a minha pesquisa na internet", são legítimas. Como também é legítimo não acreditar no aquecimento global ou defender a teoria do terraplanismo.
Suspeito que as poucas dezenas de chalupas que, este sábado à noite, rodearam o vice-almirante Gouveia e Melo à porta do centro de vacinação de Odivelas, gritando insanidades como "assassino", e "ditador", usando máscaras brancas, estilo filme de terror, e empunhando cartazes a dizer o óbvio, "injeção não é obrigatória", façam parte desse grupo de pessoas que tivemos o desprazer de começar a conhecer há um ano e meio e que hão-de continuar por aqui por muito tempo, os negacionistas.
Sereno, como esteve desde o primeiro dia em que assumiu os comandos da task force responsável pelo plano de vacinação em Portugal, o vice-almirante Gouveia e Melo não só enfrentou os manifestantes como respondeu da única forma que era possível. Com a razão. "A pandemia é a verdadeira assassina e o obscurantismo pode ajudá-la". À saída, sem medos, voltou a passar por entre uma estranha multidão, fechando um dia que podemos considerar a vitória do planeamento, da cidadania e da razão sobre o medo.
A comparência em massa de mais de 100 mil jovens (esta segunda-feira, 16 de agosto, saberemos quantos foram vacinados este domingo) dá um claro sinal aos velhos do Restelo que (não sendo uma frase exclusiva desta geração) teimam em dizer que "a juventude está perdida". Afinal, não. Afinal os miúdos são mais do que esperávamos deles. Afinal são mais razoáveis, inteligentes, cidadãos do que muitos querem fazer deles. Eles são uma lição para a geração acima deles, que tantas vezes se perde em discussões inócuas, em devaneios pequeno-burgueses e que, quando é preciso chegar-se à frente, prefere ficar em casa, a perorar no Facebook, do que sair à rua e lutar. Porque - não tenhamos ilusões - esta pandemia é a batalha das nossas vidas. Cada um escolhe de que lado da História quer ficar.