Quando eu era criança, o auge da ecologia era plantar uma árvore na escola no primeiro dia de Primavera. Hoje, as crianças crescem a ver tartarugas a morrer com palhinhas espetadas na garganta. É normal, por isso, que sejam os primeiros a ditar que a reciclagem seja obrigatória em casa.
Dos mais velhos, com a habitual resistência à mudança, não se esperam comportamentos tão proativos e sabemos que ali, há que martelar muito na diferença entre o azul, o amarelo e o verde.
Pelo meio ficam os de vinte, trinta e quarenta anos. Aqueles que plantaram a tal árvore do dia 21 de março, que perceberam o que era reciclagem com um macaco chamado Gervásio e que nunca esperaram ter nas mãos a missão de fazer a mudança. Esta geração com síndrome de filho do meio, é a mesma que bebe copos na rua, que usa hashtags no Instagram, que usa glitter quando vai a festas do Revenge of the 90's, que usa phones sem fios, relógios que medem o ritmo cardíaco e que se deslocam em trotinetes elétricas. E são esses seres tecnológicos e todos cheios de modernidade os mesmos que não conseguem andar mais do que dez metros para pôr o lixo no caixote certo.
Generalizações são perigosas, bem sei, e acredito que há uma percentagem de gente iluminada capaz de distinguir o amarelo do azul e capaz também de se deslocar uns metros na cidade sem ter que chamar um Uber.
Mas a verdade é que nas últimas semanas tenho levado com cada chapada de luva de plástico dada por millenials que até fiquei zonza. Uma diz-me que até começou a reciclar, mas depois ouviu dizer ia tudo para o mesmo sítio e desistiu. Outro diz que não tem espaço em casa para um ecoponto. Outra diz-me que não faz porque não tem paciência. Assim. "Não tenho paciência". Respiro fundo dez vezes.
Já aqui escrevi sobre as desculpas mais usadas por quem não recicla. À falta de paciência só me apetece responder com outra chapada, só tenho dúvida se esta seria de luva de plástico. A quem acredita que vai tudo para o mesmo sítio respondo com isto: os camiões têm compartimentos no interior para onde vão os diferentes resíduos. Por isso, não, não vai tudo para o mesmo sítio.
E a quem se queixa de falta de espaço, garanto que não precisa de todo um ecoponto para reciclar em casa. Basta um saco de papel e outro de plástico e não deixar acumular demasiado até deitar no ecoponto mais perto.
"Mais perto?! Mas eu não tenho nenhum ecoponto perto". É que até parece que já estou a ouvir esta frase dita em voz estridente — sempre que imaginamos algo desagradável, tem que ser dito em voz estridente.
Para todos os que dizem que há poucos ecopontos no País, aqui vai disto: existem mais de 52 mil espalhados pelo País. São três vezes mais ecopontos do que multibancos. E nunca vi ninguém deixar passar o dia 8 do mês para pagar a renda porque não tinha um ecoponto na rua.
Por isso, saiam de casa e deem uma volta ao bairro. Não vos dou mais do que cinco minutos até encontrarem um ecoponto. Sete vá. Na dúvida, podem sempre aceder ao site www.omeuecoponto.pt e procurar por área de residência. E melhor, se acha que mesmo assim falta um ecoponto na sua viinhança, pode sugerir um local. Agora venham-me com desculpas e eu digo-vos. Em voz estridente.