Ainda nem sequer tinha bebido a minha primeira cevada do dia e já na televisão, João Tomé de Carvalho, pivô do "Bom Dia Portugal", dizia que Portugal, em 2018, "só reciclou 12% do plástico dos resíduos urbanos". Notei até que baixou o tom de voz, que ninguém gosta de gritar ao mundo as vergonhas de um País.

Ligo o computador e essa percentagem ridícula já tomava conta do meu feed de Facebook. Pego no telemóvel e reparo que já me tinham enviado por WhatsApp essa mesma notícia com vários emojis tristes. Decido trocar a cevada por um chá de camomila — que números destes são capazes de me dar cabo dos nervos — e sento-me a pensar no que poderá estar a correr mal.

Portugal só recicla 12% das embalagens de plástico — mas um novo pacto promete mudar isso
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Não faltam imagens de tartarugas perfuradas por palhinhas ou estômagos de peixe cheios de plástico. Não faltam ecopontos na cidade e, em Lisboa, na sua maioria, a recolha até é feita porta a porta. Não faltam caixotes azuis, amarelos e verdes na rua e nos escritórios para que o jornal não vá para o mesmo sítio do que a lata de Coca-Cola. Mas sabem o que não faltam também? Desculpas.

"O ecoponto é muito longe". Correm-se maratonas, mas andar 50 metros para deixar um saco de lixo não.

"Dá muito trabalho". Dá. De facto, perder meio segundo antes de pôr o papel no azul e o plástico no amarelo dá muito trabalho.

"Vai tudo para o mesmo sítio". Essa é um clássico. Mas na recolha seletiva existem veículos bicompartimentados, que permitem recolher mais do que um tipo de material, que vão ser depositados nos centros de triagem em áreas de tratamento diferentes.

"A reciclagem não tem assim um impacto tão grande". Desde que a Sociedade Ponto Verde apareceu, há 20 anos, já foram encaminhadas para reciclagem mais de 7,5 mil milhões de toneladas de embalagens de papel, plástico, metal e vidro. Coisa pouca.

Crónica. Não vai conseguir acabar com o plástico da noite para o dia, ok?
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"Não tenho espaço nem dinheiro para ter um ecoponto caseiro". Ora era aí que eu queria chegar, já que poupança de dinheiro e de espaço é a minha área.

Vivendo sozinha em Lisboa, é sabido que não sobra ordenado para luxos nem metros quadrados para grandes instalações de tratamento de lixo. Mas nem é preciso.

A minha cozinha só tinha um caixote do lixo e é esse que fica para o plástico. É que ainda que o tente reduzir, ele existe e é sempre aquele que ocupa mais espaço. Aliás, reciclar é um bom exercício para perceber a quantidade e o tipo de lixo que cada casa produz. Apostamos todas as fichas em como é o saco do plástico que se enche mais rápido.

Continuando neste tetris da reciclagem, uso um saco de papel, daqueles que normalmente nos dão nas lojas, para o cartão, e o orgânico — o saco que mais lentamente se enche — vai num balde mínimo daqueles que também podiam servir para os miúdos brincarem na praia.

Já o vidro, como é mais raro, vai comigo na mão até ao vidrão mais próximo.

E pronto, é isto. Tanta coisa para uma solução tão simples, não é? Se calhar nem valia a pena ter lido este texto até ao fim, certo? Ainda assim insisto, com a esperança de que no meio de um Portugal que continua a fazer orelhas moucas à realidade, haverá alguém a quem esta informação chegue. E se a minha imagem resmungona estiver na cabeça dessa pessoa quando hoje ela estiver num vai não vai para deitar plástico ao lixo, já me sinto uma Wonder Woman da sustentabilidade.

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