Para quem é natural de Sesimbra ou costuma passar férias nesta vila do distrito de Setúbal, o grande edifício mesmo em frente à praia da Califórnia não é nenhum estranho. E apesar da fachada identificar o hotel Sana Sesimbra, os mais atentos (ou mais antigos) podem comprovar que, antes do hotel da cadeia hoteleira Sana, este era o lugar do antigo Hotel Espadarte.
Mas ninguém pense que aqui se querem esconder as origens. Muito pelo contrário, a história está bem presente em pleno ano de 2019, tanto que o restaurante principal desta unidade de quatro estrelas tem o nome de Espadarte, numa alusão ao hotel original, que foi inaugurado em julho de 1957 — embora ainda como pensão, dado que o alvará de hotel chegou anos depois, quando existiu um aumento de 60 para 80 quartos.
E já que estamos numa de regresso ao passado, apenas mais um ou dois dados históricos: o hotel ficou conhecido pelos seus bailes de Carnaval, uma época do ano muito forte em Sesimbra, mas após a revolução do 25 de abril de 1974, serviu de alojamento a muitos dos portugueses retornados das antigas colónias, o que acabou por quebrar o fluxo turístico.
O hotel Espadarte encerraria definitivamente em 1990, e acabou por ser demolido. E só dez anos depois é que a cadeia Sana construiu a unidade hoteleira que hoje conhecemos, inaugurando oficialmente o Sana Sesimbra em setembro de 2000, com 100 quartos, restaurante, uma piscina panorâmica e uma vista incrível do Oceano Atlântico.
Não há vista como esta — e acordar com o azul do oceano vale pela decoração
Depois da visita da MAGG ao Sana Sesimbra, em que tive a sorte de ser abençoada por São Pedro e por um fim de semana de sol e calor, podia elogiar a boa comida do restaurante, a confortável cama ou a simpatia do staff (já lá vamos), mas não há como ignorar o grande chamariz deste hotel: falamos da localização privilegiada, mesmo em frente à praia — e é mesmo em frente, basta atravessar a passadeira de peões —, que acaba por oferecer aos hóspedes que reservem um quarto vista mar uma das melhores paisagens de sempre.
Já tive oportunidade de visitar bastantes hotéis, turismos rurais e alojamentos locais, desde os de luxo às pousadas intimistas, e a uns poucos desastres que é melhor nem recordar.
O Sana Sesimbra é o melhor hotel em que já estive? Não, mas arrisco-me a dizer que a vista do quarto em que fiquei alojada é provável que mereça a medalha de ouro, e acaba por compensar outros aspetos, como o quarto não ser dos mais espaçosos, bem como a casa de banho, ou com uma decoração a destoar da localização do hotel.
Quando falamos de uma unidade em frente à praia, muito direcionada para os meses de verão, confesso que esperava encontrar quartos e espaços comuns em tons mais claros, que fizessem a ponte com a praia, mesmo ali ao lado. No entanto, troco de bom grado a vista e a varanda de frente para o mar por um papel de parede em tons neutros.
E por falar em varanda, a minha atenção focou-se num detalhe que pode parecer de pouca importância, mas que faz toda a diferença: dado que a fachada do hotel está virada para a marginal e para a praia da Califórnia, e que esta é uma unidade que vive muito do verão, existem discretos toalheiros nas varandas com uma mensagem a pedir para os hóspedes ali colocarem as toalhas de praia a secar. O que me levou a pensar que, na ausência desta mensagem ou da ferramenta, a fachada do Sana Sesimbra facilmente se tornaria no cenário ideal para um remake da "Aldeia da Roupa Branca", com várias toalhas estendidas nos parapeitos.
Outro aviso à navegação: embora a localização do hotel não se altere, e continue a ser um ótimo local para quem pretende um fim de semana ou uns quantos dias de praia e piscina (e está também no centro de Sesimbra, chegando em poucos minutos a pé a vários restaurantes e bares), tenho a opinião que o hotel perde metade do encanto caso não reserve um quarto com vista mar, sendo a alternativa os outros quartos virados para as traseiras e para outros prédios.
É verdade que as tarifas são mais altas para o alojamento virado para o oceano mas, caso tenha essa oportunidade, acordar com a vista do mar ou aproveitar a varanda e o som das ondas para relaxar ao final do dia valem a pena o investimento extra.
Sopa de meloa, camarão no ponto e uns churros dignos de Espanha: tudo é delicioso no Sana Sesimbra, menos o sumo de laranja
A praia e a piscina no topo do edifício são fatores de peso no Sana Sesimbra. E já que falamos nesta última, não sendo a piscina de grandes dimensões, o espaço circundante está muito bem aproveitado graças ao deque superior para permitir a colocação de dezenas de espreguiçadeiras, e a água aquecida conquistou-nos num verão em que a temperatura do mar quer rivalizar com as águas do norte do País.
Mas para além disso, e tendo de existir uma nota positiva para a simpatia e eficiência do staff do hotel (mesmo em época alta e com a unidade lotada), a comida surpreendeu muito pela positiva e até hoje ainda não esqueci muitos dos pratos que tive a oportunidade de provar naquele fim de semana.
Em relação ao pequeno-almoço, não há muito a assinalar. Aqui é servido um típico pequeno-almoço de buffet, que cumpre, com produtos de pastelaria frescos e os tradicionais ovos mexidos e bacon, entre muitas outras coisas. Apenas um ponto negativo para o sumo de laranja, que era instantâneo ou de pacote, com um sabor pouco agradável. É verdade que não servir sumo natural é um mal de muitos hotéis, mas é um detalhe que faz a diferença.
Porém, é nas refeições, sejam elas mais leves ou consistentes, que o Sana Sesimbra me fez esquecer o sumo insípido da primeira refeição do dia. Para além de opções como hambúrgueres, saladas e vários tipos de sandes na carta de snacks, que pode também ser consumida à beira da piscina, o restaurante Espadarte tem disponível o menu do chef, alterado diariamente, incluído na meia pensão (se reservar apenas a noite com pequeno-almoço, o menu tem um custo de 23€ por pessoa, sem bebidas), com duas opções à escolha de entrada, prato principal e sobremesa.
Nas duas noites em que jantei neste restaurante, entre outros pratos, consegui provar alguns dignos de estrelinha dourada. Entre eles, uma sopa fria de meloa e presunto que era a autêntica essência de um prato fresco de verão, uns camarões à la guilho com um molho superior ao de muitas marisqueiras, um robalo do mar com pasta fresca e vegetais que só queria conseguir recriar em casa e uns churros que me levaram de volta às melhores casas de churros madrilenas.
Para além do menu diário, que é servido também a não hóspedes, e das opções à carta, a grande novidade do hotel para este verão é a carta de petiscos, que pode ser apreciada todos os dias, das 12h30 às 22h30. Pode escolher entre o camarão flamejado em brandi, coentros e alho (14€), o pica-pau de vitela (9€), as amêijoas à Bulhão Pato (14€), e a tábua de presunto e queijo (11€), entre outras opções.
Para agosto, embora os preços das tarifas possam sofrer alterações consoante a ocupação do hotel, os valores de uma noite para duas pessoas em quarto standard começam nos 145€, e nos 191€, se preferir meia-pensão, com direito a jantar, para além do pequeno-almoço. Em quarto vista mar, os valores começam nos 175€ só com pequeno-almoço, e nos 221€ em regime de meia-pensão.