No dia 12 de outubro do ano passado, entrei na estação da Alameda em direção à Baixa-Chiado. Passavam poucos minutos das 9 horas e era uma sexta-feira igual a tantas outras, não fosse uma estranha sensação no peito que me incomodava ligeiramente. A carruagem não ia muito cheia, mas mesmo assim decidi ficar de pé. Alguma coisa não estava bem, mas naquele momento ainda não conseguia perceber o quê. Era apenas... uma sensação.

Quando as portas se fecharam, e o metro começou a andar, o meu coração disparou. Não foi apenas um acelerar dos batimentos cardíacos, ele parecia prestes a saltar-me para fora do peito. Comecei a sentir a cabeça zonza, como se pudesse desmaiar a qualquer momento, ao mesmo tempo que deixei de conseguir respirar. Ainda hoje imagino que cambaleei pela carruagem, mas não devo ter dado um único passo. Fiquei apenas ali, imóvel, petrificada, a acreditar genuinamente que ia morrer.

Naquele momento, eu percebi que ia morrer. Não sabia se ia morrer vítima de uma paragem cardíaca ou da falta de ar, mas ia morrer. A certeza absoluta de que não iria ver a próxima estação chegar não me largava, e nada era capaz de me convencer do contrário. Conseguia imaginar as ambulâncias, os paramédicos na plataforma, as tentativas de reanimação sem sucesso.

Não morri mas, quando o metro parou na estação seguinte, nos Anjos, corri para fora do metro como nunca tinha corrido na vida. Corri para me salvar, corri para voltar a conseguir respirar, corri, corri, corri. Quando saí da estação, tinha os ouvidos entupidos, a cabeça ainda zonza e o coração a bater a mil, mas já conseguia respirar, pelo menos um bocadinho. Dez minutos depois, estava em casa novamente. Não estava bem, mas estava melhor.

Este foi o meu primeiro grande ataque de pânico. Aconteceu quando eu tinha 29 anos, estava no auge da minha independência e extraordinariamente feliz no trabalho. Não fazia a menor ideia do que tinha acontecido, assim como só tinha ouvido falar de ansiedade pela boca da minha melhor amiga. Nunca tinha experenciado tal coisa, nunca tinha tido problemas deste género.

Perdi a conta à quantidade de ataques de pânico que tive nos dias que se seguiram. No auge do problema, não conseguia ter a televisão ligada, fazia meditação para me tentar acalmar (nunca fui nada destas coisas), tinha de pedir às pessoas para sussurrarem e não conseguia ler nada sobre ansiedade sem ficar ainda mais ansiosa.

Pedi imediatamente ajuda: sabendo que aquilo era demasiado grave para ser ignorado, marquei uma consulta num psiquiatra e outra num psicoterapeuta. Achei que estava prestes a enlouquecer mas, com a voz mais calma do mundo, o psiquiatra disse-me que sofria do síndrome de ataques de pânico mas que não tinha de me preocupar. Afinal, era a coisa mais normal do mundo em pessoas da minha idade. Mais: era mesmo o diagnóstico mais frequente nos jovens adultos.

"Mas é um problema da geração atual?", lembro-me de perguntar. O médico respondeu que não. "Sempre foi assim. Talvez agora se fale mais sobre o assunto, mas sempre foi assim".

Ainda hoje tenho dificuldade em aceitar isto. Quando resolvi o problema dos ataques de pânico comecei a lidar com a ansiedade, o que me tornou muito mais atenta e sensível às pessoas à minha volta. Ajuda-me também falar sobre o assunto sem vergonha, porque foi na vergonha que me refugiei no início e só me fez mal.

Isto mostrou-me uma realidade assustadora: se abrirmos os olhos, é preocupante a quantidade de pessoas à nossa volta que sofrem de ansiedade. Ainda esta sexta-feira estava com uma amiga de uma amiga e, já nem sei bem porquê, falei sobre o assunto. "Sei bem o que é isso", respondeu-me, com aquele olhar profundo que diz tudo.

É impressionante a quantidade de vezes que ouvi isto nos últimos tempos. De repente, apercebo-me que, seja ou não a doença do século, seja ou não cada vez mais frequente, a ansiedade e os ataques de pânico atingem uma parcela muito significativa da minha geração. Uns têm perfeita consciência disso, outros negam até ao fim. Mas ela está lá, como um bicho silencioso que nos devora aos poucos — se deixarmos.

Não sou nenhuma especialista em ansiedade e ataques de pânico. Mas viver isso na pele tornou-me numa pessoa, bem, informada sobre o assunto. Além das conversas com especialistas e outras pessoas que sofrem com este problema, li muito. Algumas coisas foram úteis, outras nem por isso.

Deixo-vos algumas coisas que aprendi com a ansiedade e ataques de pânico.

1. A psicoterapia consegue ser incrível — e logo a seguir devastadora

A primeira consulta foi aterradora. Lembro-me de estar sentada pela primeira vez com a psicoterapeuta e de não conseguir parar de abanar a perna, ao mesmo tempo que fixava o olhar no chão. Senti-me completamente despida antes de dizer a primeira palavra. Não queria falar sobre mim, não queria interagir com aquele estranho, só queria que a ansiedade acabasse.

Ainda hoje há dias em que me sinto constrangida quando entro no consultório. Mas a ajuda da psicoterapia foi fundamental para lidar com a ansiedade, arranjar estratégias para as fases negras e fazer as pazes com o que tinha acontecido.

Os ataques de pânico são períodos de ansiedade extrema, com uma dimensão sintomática a nível físico (palpitações, taquicardia, diaforese, dispneia, sensação de opressão torácica, tonturas, náuseas), acompanhada de vivências alteradas a nível psíquico (desrealização, despersonalização, medo de morrer, de perder o controlo, de não dispor de ajuda ou de enlouquecer) e que surgem de forma súbita, atingindo habitualmente uma intensidade máxima em 10 a 15 minutos.

Houve consultas em que saí feliz e contente, como se fosse a rainha do mundo. Noutras, fui a arrastar-me até casa, num mal-estar que me acompanhou a semana inteira. Faz parte: há alturas em que vamos mais fundo nos problemas, o que nos deixa bastante mais sensíveis. Não é um retrocesso, é apenas parte do caminho.

Não vou dizer que a terapia é essencial em todos os casos. Para mim foi uma ajuda imensa, para outras pessoas se calhar não. Mas não custa tentar. Eu tive sorte à primeira, mas não forcem se não sentirem empatia com a psicóloga ou psicoterapeuta. Passem para outra. Tentem falar dos problemas aos poucos, porque se abrirem o saco de repente vão ter de lidar com dezenas de coisas ao mesmo tempo. Priorizem.

Última dica: tentem não marcar nada a seguir a uma consulta. Nunca se sabe como vão sair.

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2. Não vale a pena ter vergonha

No início quis esconder o problema de toda a gente. Morria de medo só de pensar que os meus colegas de trabalho pudessem saber o que se passava. Ou os meus amigos. Ou os meus chefes. Ou qualquer ser humano que respirasse, verdade seja dita. Queria viver aquilo sozinha, sem ninguém à minha volta com consciência do que se passava.

A ansiedade é uma emoção caracterizada por sentimentos de tensão, preocupação, insegurança, normalmente acompanhados por alterações físicas como o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, sudação, secura da boca, tremores e tonturas.

Em condições normais, a ansiedade pode ser útil, na medida em que ajuda a identificar situações de perigo e permite uma melhor preparação para as enfrentar. Quando bem controlada, a ansiedade atua sobretudo como estimulante. Em excesso, a ansiedade causa sofrimento desnecessário.

Foi um disparate. Felizmente foi um disparate curto porque, assim que cheguei ao trabalho e tive um ataque de ansiedade por uma colega estar a falar alto (ela ainda hoje jura que estava no tom normal), tive que explicar o que se passava. Não podia pedir às pessoas que falassem baixo, mais devagar ou com menos entusiasmo sem lhes explicar que havia uma razão lógica para isso.

Além disso, tive alguns dias sem conseguir pegar em temas "pesados" — mortes, acidentes, traições, crimes, tudo isto dava-me cabo dos nervos. Portanto, também tive de informar os meus diretores na altura de que tinha de trabalhar menos e numa perspetiva, bem, digamos que mais feliz.

Como a minha vida social diminuiu drasticamente, uma vez que me metia imensa confusão estar rodeada por muitas pessoas, também tive de explicar aos amigos mais próximos e distantes o que é que se passava. Conclusão: no espaço de duas semanas, toda a gente sabia o que é que se passava. E foi ótimo, porque isto permitiu criar uma rede de segurança à minha volta. Não tinha de ter medo por não pegar num tema forte, pedir para falar baixo ou sair a correr do trabalho porque não estava a sentir-me bem. Nos momentos piores, consegui subir degrau a degrau, em vez de me forçar a entrar num elevador avariado.

Não houve uma única pessoa que me julgasse. Pelo contrário, toda a gente me contou "uma história". Não tenham dúvidas de que toda a gente tem uma história, seja a sua ou de alguém à sua volta.

Dica: Se não estiverem a conseguir falar com as pessoas que vos são próximas, procurem fóruns e comunidades de pessoas que lidam com ansiedade. Às vezes falar com estranhos ajuda. Se souberem o que estamos a passar, ainda melhor.

3. As estratégias para lidar com a ansiedade ou ataques de pânico são diferentes de pessoa para pessoa

Toda a gente me mandava respirar. "Foca-te na respiração, é muito importante. Quando deixas de respirar, o cérebro não recebe oxigénio suficiente". Ouvi estas frases até à exaustão, mas não havia volta a dar: eu simplesmente não conseguia concentrar-me na respiração porque isso só me deixava mais nervosa. Quando começava a respirar fundo achava que não ia conseguir voltar a puxar mais ar para os meus pulmões, por isso caldo entornado, estava mais nervosa do que quando tinha começado.

É preciso entender que cada pessoa tem as suas estratégias. E isso é algo que se aprende por tentativa-erro, é verdade, mas não se forcem a fazer algo se virem que não resulta convosco. Nos momentos de ansiedade, agarro no telemóvel e começo a jogar. Se estiver mesmo mal, começo a pensar por etapas: agora vou à casa de banho; agora vou descalçar-me; agora vou comer cereais — está aqui a taça, a colher, o leite. Pequenos passos são o suficiente para me acalmar.

O truque é sempre desviar a atenção para outra coisa. Se respirar não ajuda, pronto — façam outra coisa. Uma dica: anotem num caderno todas as coisas que vos ajudam em momentos de ansiedade. Quando estiverem a ter uma crise, vai ser mais fácil agarrar no caderno e saber o que fazer.

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4. Aprender a dizer "Olha, e se fosses à merda?"

Cada pessoa tem ansiedade ou ataques de pânico pelas suas razões. No meu caso, havia uma enorme tendência para acumular tudo, como se os sentimentos e emoções fossem coisas em que podemos agarrar e meter dentro de um saco. E nunca mais lá ir mexer, claro.

Quando o saco rebentou, foi preciso lidar com muita coisa. E, acima de tudo, parar de meter mais coisas dentro de um saco já rasgado. Isso fez com que, de repente, alguém que estava habituado a satisfazer as crises de toda a gente antes da sua, tivesse que se pôr em primeiro lugar.

Foi difícil. É muito difícil dizer a uma amiga que não consigo ouvir os seus problemas agora ou que é impossível continuar a conviver naquele bar porque o barulho está a dar cabo de mim. Mas com o tempo fica cada vez mais fácil. O importante é responder às nossas necessidades sem priorizar os outros, até porque nesta coisa da ansiedade não há mesmo como ignorar os sintomas.

Houve alguém que me disse: "Tens que combater isso. Tens que te esforçar, tens que insistir". A única resposta para esta frase é: "Olha, e se fosses à merda?". Ninguém melhor do que nós sabemos quando é que devemos insistir e quando é que devemos recuar. O resto é ruído.

Dica: Estas palavras são sagradas, e podem salvar vidas. Acreditem. É só repetir a seguir a mim: "Olha, e se fosses à merda?".

5. Ter ansiedade pode ser uma coisa maravilhosa

No seguimento do ponto anterior, tenho de vos dizer que a ansiedade me trouxe coisas maravilhosas. A principal foi mesmo pôr-me em primeiro lugar: há momentos em que continuo a insistir ficar no bar quando já só me apetece ir para casa, e certamente que não saio do trabalho sempre que me apetece. No entanto, há outras alturas em que simplesmente não dá para insistir mais. Não dá e não quero.

A melhor parte disto é que hoje posso simplesmente dizer: "Estou com ansiedade". Ninguém vai dizer "Fica e bebe mais um copo" depois de ouvir esta frase, até porque a maioria das pessoas acha que nos vamos passar e começar aos berros. Nota: não vamos. Mas ignorem esta parte, às vezes até é bom que achem isso.

As minhas amigas dizem que sou a rainha do copo meio cheio, mas a sério, façam este exercício — o que é que mudou para melhor?

6. As coisas nunca mais vão voltar ao que eram

Durante meses, tudo aquilo que eu queria era voltar ao "normal". Houve um dia em que a minha psicóloga me encostou à parede e me disse: "A ansiedade faz parte de si neste momento. Muito provavelmente vai estar sempre aí". Durante 12 segundos quis apertar-lhe o pescoço, no 13.º estava a fazer as pazes com o assunto. Estava tão focada em querer voltar ao que era que nunca tinha pensado nas coisas boas que a ansiedade me tinha trazido.

Será que queria voltar a ser a pessoa que era antes da ansiedade? A resposta é não. Sou muito mais consciente de mim e das minhas necessidades hoje. Sou muito mais empática com os outros. Sou mais forte, também. Se queria voltar atrás? Nem por isso. Gosto muito mais de mim assim.

7. Somos todos uma tribo

Não tenham vergonha de falar porque, acreditem, vão ficar surpreendidos com a quantidade de pessoas que sofrem do mesmo problema. E a melhor parte é que, com isso, autênticos estranhos podem tornar-se nos vossos melhores amigos. Há um laço que se cria no momento em que alguém diz "Eu tenho ansiedade" e alguém responde "Eu sei o que isso é".

Somos mesmo uma tribo.

8. O self-care pode ser incrível

Nunca na minha vida tinha feito self-care. A sério, é verdade — havia uma série de coisas que eu encarava como etapas, mesmo que fosse para cuidar de mim. Com a ansiedade tive de mudar o chip, e isso significou encarar pequenas coisas como self-care e não etapas.

Exemplos: arranjar as unhas, fazer uma máscara para a cara, tomar banho a ouvir música ou tirar uns 20 minutos de manhã só para contemplar o dia e beber um café com calma. Parecem coisas insignificantes mas podem fazer toda a diferença. Hoje é dia de fazer máscara para o cabelo. E sabem que mais? Mal posso esperar por isso.

9. Está tudo bem. Vamos dar uma gargalhada, ok?

Viver é a coisa mais incrível de sempre. Acredito piamente nisto, tanto que dou por mim a pensar muitas vezes no que será chegar ao fim da vida. Do que é que nos vamos arrepender? Eu tenho a certeza de que será de tudo o que não fizemos. Se eu ficar presa a uma cama, quero recordar as coisas maravilhosas que fiz, as aventuras e desventuras, as dores e alegrias. Quero ter a certeza de que fui feliz.

Quando comecei a ter ataques de pânico, houve um momento em que senti que a vida já não era vida. Não havia como viver aventuras ou ser feliz se de em cinco em cinco minutos achava que ia morrer. Foram momentos assustadores, mas foram exatamente (só) isso: momentos.

Uma das formas que encontrei para lidar com isto foi rir-me. E não sou hipócrita, há dias em que ter ansiedade é uma merda — no último feriado passei o dia inteiro a limpar a casa, porque achava que ia conseguir descansar mas tive um ataque de ansiedade; nada feito, tens de te pôr a mexer. É uma porcaria? É. Mas passa. No dia a seguir já estava melhor, e fartei-me de fazer piadas com isso. A minha ansiedade tem um nome, uma voz fina e aguda e consegue ser uma chata do caraças. Mas faz parte da minha vida e há que lhe dar um espaço para existir — um pequenino, claro, mas um espaço. Afinal, ela também é uma parte mim.

Está tudo bem. Está tudo mesmo bem.