Cristina Ferreira foi vestida de meme à Gala dos Globos de Ouro e sabe disso. É o chamado falem de mim, bem ou mal, mas falem. Ou façam montagens na internet, não interessa.

Mas Cristina Ferreira não foi só vestida de meme. Foi vestida de rolhas de cortiça, porque "estamos todos muito virados, ou devíamos estar, para a proteção ambiental", justificou, no discurso que deu início à cerimónia.

Também Bárbara Bandeira decidiu seguir a linha ambientalista e levou "um vestido feito com garrafas de plástico recolhidas da terra", como explica no post do Instagram no qual revela a criação da estilista Micaela Oliveira.

Tudo muito bonito, tudo muito instagramável, tudo muito HashtagSaveThePlanet. E tudo muito falso.

É que ainda que Cristina vá vestida de cortiça, saberá em que ecoponto deita as rolhas do champanhe que certamente abriu para brindar à noite? E Bárbara Bandeira, que depois da gala pediu um bom e velho McDonalds para jantar? O story que fez do momento foi curto, mas deu para ver que a Coca-Cola não vinha, certamente, servida com palhinha de bambu.

Sou atenta? Sou. Picuinhas? Às vezes. Crítica? Sempre. E não o digo num ato de autoflagelação. É que o perfeccionismo é um trabalho sujo, mas alguém tem que o fazer. E eu não me esqueço daquela vez em que a Joana Barrios, cozinheira de serviço nos programas da manhã, propôs levar no programa seguinte uma receita vegetariana. Cristina Ferreira só faltou atirar-se para o chão em birra. Elevou ainda mais o tom de voz para gritar um não e disse que ali no programa "só queria coisas boas" e que, aos vegetarianos, "é melhor dizer para irem comer espinafres".

Não digo que minha avó Leonor, lá em casa, não tenha ficado a pensar que raio será aquilo da sustentabilidade que a Cristininha está para ali a falar. Ou que a página BandeirinhasFãs ou Forever_Barbara_Bandeira — elas existem mesmo e são mais 150, no mínimo — não tenha ficado ao rubro com o potencial de encher o feed com várias perspetivas daquele vestido feito em plástico amarelo. Mas tudo isto é pensado, muito bem pensado, e nós, deste lado, devemos ir à gaveta procurar os óculos que usámos para ver o sol naquele eclipse de 1998. É que nestes casos, o filtro nunca é demais.

As marcas sabem que o verde vende e não podemos pensar que por detrás de cada empresa está um pequeno buda, sentado em posição de lótus, a conectar-se com os deuses da sustentabilidade. Não. Quem lá está é um CEO a fazer contas de somar. Eu sei que é assim que o mundo gira mas, por favor, não me tomem por parva.

Não se veste com rolhas uma pessoa que nem pensa em diminuir o consumo de carne, ou de plástico quem a seguir bebe de palhinhas descartáveis. Assim como também não se vende uma "National Geographic" sobre sustentabilidade envolvida num saco de plástico ou se enchem os silos dos produtos a granel com os saquinhos embalados que estão nas prateleiras. Para quem não se recorda, a MAGG apanhou o Go Natural em flagrante a fazer isso e foram às dezenas os comentários de leitores a dizer que essa pouco franca forma de vender a granel era prática comum noutros supermercados.

Não peço que deixem de ver os programas da Cristina Ferreira,  — até porque a minha avó não me perdoaria —, não peço que não ouçam a Bárbara Bandeira — isso é lá convosco, mas podemos debater o assunto —, nem tão pouco que façam boicote à "National Geographic" e muito menos à tão digna venda a granel. Agora, se é para ser sustentável, façam-no com olho crítico.

E já que é de marketing que falamos, alerta restaurantes vegetarianos. Mandem um Uber Eats vegetariano a casa da Bárbara ou convidem a Cristina para jantar fora. E não lhe sirvam espinafres, como ela espera que aconteça. Cozinhem-nos bem, que a resposta não se quer fria — como a vingança. Quer-se superior e, já agora, servida num prato cheio de caril de grão.

As coisas MAGGníficas da vida!

Siga a MAGG nas redes sociais.

Não é o MAGG, é a MAGG.

Siga a MAGG nas redes sociais.