Olá, leitora!
O mundo às vezes parece estar a tornar-se numa barricada. De um lado, os “pró isto e aquilo”, do outro, os “contra isto e aqueloutro”.
Não seria tudo muito mais simples se cada um empregasse na sua vida a básica (mas eficaz) filosofia do “vive e deixa viver”? Mas não, as pessoas continuam a preferir, em muitas ocasiões, serem simplesmente (ou complicadamente?) chatas como a potassa.
E já se sabe… Natal é época de encontros alargados em família, o que pode ser sinónimo de rabanadas, peru assado, olhos revirados e… sapos engolidos. Sobretudo para quem (especialmente se for mulher) supostamente não tiver “isto” e nem “aquilo”, como por exemplo aquilo refere: “não casei nem tenho filhos”. Perguntas da praxe, já se sabe, mas que podem gerar azia, mal-estar, irritação e vontade de socar.
Perguntas e mais perguntas. As pessoas são curiosas. Ou inconvenientes, como lhe preferir chamar. E o pior, nestes casos, é que estas perguntas parecem vir sempre acompanhadas por um certo grau de crítica velada ou pressão, não é?
Pode até haver pressão, mas outra coisa é a leitora deixar que isso lhe cause opressão. Explico.
Os incómodos ou constrangimentos derivados da pressão psicológica variam muito de pessoa para pessoa, pois, afinal, o que causa as complicações não são as cobranças em si, mas sim o quanto cada um se preocupa com elas. Por isso é que duas pessoas que vivam a mesma situação de pressão (seja de um chefe, e um familiar ou do vizinho do lado) podem desenvolver níveis diferentes de stress, por exemplo.
Essa opressão de que falo, que seleciona as mulheres entre as boas como esposas e mães e as más como "solteironas encalhadas" é realimentada por todos nós de cada vez que uma pessoa ao invés de, quando “pressionada”, simplesmente aparentar demência ou limitar-se a retorquir à letra do comentário, se sente pressionada e atarantada, sem saber o que fazer.
Querida, olhe aqui a minha cara de preocupação quando há anos atrás, inopinadamente, me faziam esse tipo de perguntas:
E foi mais ou menos este o semblante que os maiores chatos de plantão me punham quando, por fim, me viram casada e com filhos (o que para mim só confirmou que a sua “curiosidade” na verdade não passaria de uma “leve” inspeção periódica, vulgo, mecanismo sociocultural poderoso de repetição de ideias preconcebidas).
No entanto, e tal como escrevi aqui neste artigo, felizmente, hoje todas as mulheres têm a opção de não se casar, não ter filhos e viver feliz dessa maneira.
Supondo que de um lado da barricada, que comecei por lhe falar, estão os que não admitem esta possibilidade (de uma mulher não casar, ter filhos e ser feliz), de que formas acha que os seus “auto-reguladores” de alívio de tensão se dão? No espiar a vida alheia, perguntando coisas incómodas, como casar e ter filhos, que a meu ver, confesso, é uma pergunta quase tão íntima como “se pratica sexo oral?”, por exemplo, pois só à pessoa e eventual companheiro lhes compete saber. Mas vá, imagine que isto tem como fim último obedecer a um “ímpeto” em prol do estímulo à preservação da espécie (contudo, não ponho as minhas mãos no fogo).
Por outro lado, talvez a leitora não tendo casado ou tido filhos, talvez defenda isso como um apanágio de uma qualquer e derradeira “modernidade” ou “liberdade” que reivindica para si, e tanto melhor isso soará quanto mais consciência acarretar. Porém, será que (secretamente que seja) julga as pessoas que fazem escolhas diferentes das suas? Por exemplo, julgar uma pessoa pelo simples facto de ela trazer um saco de plástico nas mãos? Ou por comer um bife de vez em quando? Ou por ver alguém a dar um linguado à sua frente numa sala de cinema?
Tal como o “mecanismo poderoso” de pertença e aprovação social, que os chatos de plantão usam e abusam especialmente em épocas natalícias, existe um outro “mecanismo poderoso” que é passado de geração em geração e que domina subliminarmente a nossa vontade "própria".
Frequentemente vejo pessoas absolutamente convencidas que são muito diferentes dos seus pais e, ao longo da terapia, percebem que são versões repaginadas com novas gírias de preconceitos antigos.
Adotam posturas extremistas, só que na outra ponta da balança.
Por exemplo, quantas pessoas a leitora conhece que agem como “hippies” por terem pais “yuppies” ou workaholics e defendem a comida vegan com o mesmo radicalismo que o pai defende o mercado de acções ou o negócio da carniça? Muda o conteúdo mas o modus operandi é o mesmo.
Preferimos muitas vezes imaginar que somos “livres pensadores”, e podemos continuar a idealizar-nos dessa forma, mas de modo geral somos apenas replicadores de ideias pré-concebidas. E quando sentimos a pressão a corroer-nos os calcanhares trememos como varas verdes, aprisionados ao medo do “ai, ai, e o que os outros vão pensar?”, permitindo-nos (a nós mesmos!) colapsar ante um conjecturado patamar prá-frentex pretensamente já adquirido. Nada muito original.
Ora, se até agora nós entendemos como a aprovação social é um elemento muito poderoso nas nossas escolhas, o mesmo será dizer que não tem nada de exclusivamente biológico no “chamado” para casar e ser mãe. Mais do que o constrangimento pelas perguntas ou comentários indesejados nas reuniões familiares ou de amigos, a loucura que assola muitas mulheres é serem consideradas "inaptas" por não terem sido capazes de encontrar um parceiro e/ou que fosse digno de ser o pai dos seus filhos.
Se é chato lidar com a pressão familiar, mais chato ainda será a opressão em que a leitora se acomete a partir do momento que se permite sofrer com isso.
A cobrança pode até existir, mas só fazem connosco aquilo que nós permitimos.
Os ideais de amor por vezes suscitam comportamentos e crenças tão enérgicos que se uma mulher sem um parceiro é vista imediatamente como amargurada. Já os homens que não se casam até aos 40 são vistos como “espertos” e agraciados pela sorte de “curtir a vida” como solteiros convictos. Neste meu artigo, descrevo um pouco de que formas (como esta e outras) podemos encontrar esta mentalidade do “machismo feminino”, cujos paladinos – contrariamente ao que se possa imaginar – não são só os homens, mas também as próprias mulheres, que acabam por perpectuar este tipo de cobrança.
No caso dos homens existe a opção explicitada no adjetivo "convicto", ele escolheu ficar solteiro. Será?
Já as mulheres que "passaram do ponto" são vistas como indesejáveis pelos homens e vítimas de ‘fofocas’ pelas amigas "bem casadas". Neste artigo, tentei dar pistas sobre o que será hoje em dia, afinal de contas, uma mulher dita “independente”.
Sincera e pessoalmente, acho meio cruel esse tipo de perspetiva que pressiona as mulheres a casarem desgovernadamente, o que muitas vezes as faz (por seu turno) pressionarem os seus companheiros a casamentos sob ameaça psicológica.
Obviamente, minha querida, se não sente que está nesse momento pessoal, não há porque abraçar esse delírio coletivo de forma cega.
Agora, realmente acha que está preparada para essa jornada que é ser adulto(a) e conseguir desenvolver maturidade emocional (neste artigo falo das dificuldades que muitas pessoas sentem em “lidar com a vida adulta”)? Se sim, não espere perguntinhas fáceis, respostas certas, dizeres opacos e ensaiados colados à boca, percursos lineares, preto no branco e paninhos quentes. É preciso abrir espaço para a contradição, para a “loucura”, inclusive para a estranheza, e por vezes, para a falta de sincronia e uma dose, quiçá, de infelicidade. Se espera a vida perfeita então talvez seja interessante fazer como algumas pessoas no Japão que preferem conviver com um robô.
Para além disso, não tenho de ser eu, enquanto psicóloga, a colocar na sua boca aquilo que poderá (e deverá) ser a leitora a dizer. Neste artigo, assim como neste outro artigo procurei esclarecer quanto a uma série de mitos a esse respeito que fazem com que as pessoas permaneçam numa postura infantilizada diante da (própria) vida, por falta de auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal.
Com seres humanos, inevitavelmente, deve preparar-se para se saber desapontar, sem nenhuma ansiedade ou pessimismo nisso, mas apenas a consciência dessa beleza no descaminho, pois é nas curvas “erradas” que fazemos que nos confrontamos com a nossa própria verdade, coragem e heroísmo também.
Assim, vai ajudá-la saber posicionar-se perante estes diálogos de forma serena e focada e não tanto em modo crispado de “guerrilha”. Para além disso, não tem de responder a tudo o que lhe perguntam diretamente, e é aí que residirá o seu campo de poder e liberdade, e não tanto em evitar a pergunta “do outro lado”.
Apegados num certo desejo secreto de que o mundo fosse um “mar de rosas”, totalmente adequado, correto, polido, justo e equilibrado, muitas pessoas sofrem por perceber as mazelas da vida e, dentro das suas cabeças, começam a criar uma teoria da conspiração. E o pior de tudo é que andam com um orgulho tonto no peito, tal qual um Dom Quixote, a tentar corrigir o mundo baseado nos 10 mandamentos que inventaram na sua mente “esclarecida”.
Bem, eu não tenho 10 mandamentos, mas para si, com jeitinho, posso aventar 5 para ajudar a leitora a, como diz, “lidar com a pressão familiar no Natal”:
1) Perceberás que cedo ou tarde as pressões ou as “dores de crescimento” nos afetam a todos.
Esse acumular de carga negativa pode prejudicar integralmente a vida de uma pessoa. A sua criatividade fica comprometida, assim como o seu raciocínio lógico, concentração e dedicação. Em casos mais graves, acaba diagnosticando-se como ansiedade e pode vir a gerar gastrites, enxaquecas e até problemas mais graves de saúde.
2) Partilharás as tuas idiossincrasias ou mesmo bizarrias com aqueles que não podem fugir de ti, ou seja, os teus familiares.
O Tio João que adora a sua vida dupla, já a prima Clara que adora resmungar. O irmão Filipe que acha que foi o melhor contador de anedotas de sempre e a Avó Maria que é obcecada em ofertar peúgas às pessoas, todos os anos. Se não podemos diferenciar-nos de alguma maneira face à “unidade” que a genética nos deu, então poderemos face a quem?
3) Aprenderás que é nestas horas de maior pressão que precisamos de uma válvula de escape.
Biologicamente falando, um “punzinho carregado”. Algo que a possa deixar mais leve, a ponto de esquecer os problemas ou as cobranças e recarregar as baterias. Um "get away"!
Logicamente que estas dicas não são soluções. Apenas funcionam como um alívio temporário e muitas delas (especialmente, a 3ª) não estão cientificamente comprovadas). O ideal é que a instiguem a fazer crescer as tamanquinhas para enfrentar o problema de frente, para aí sim, ver-se livre de tudo. Ou “lixar-se” de vez. Com efeito (e agora um pouco mais a sério):
4) Responderás atendendo às tuas necessidades e limites.
E, ao mesmo tempo, procurarás também um compromisso de algum respeito e atenção para com quem as faz. Isso poderá ser feito com o auxílio de uma resposta “âncora” que se diga e repita, as vezes que forem necessárias, não alimentando diálogos acessórios.
5) Colocarás alguns limites a estas perguntas, pois elas podem tornar-se desgastantes.
Mas saberás aproveitar a inquietação gerada para um sempre atualizado questionamento acerca das opções de vida. Caso contrário, tal poderá também gerar conflitos e até alguns comportamentos de evitamento.
Mais do que “receitinhas” genéricas de bolo que lhe possa dar, o meu trabalho como psicóloga é manter a minha curiosidade viva sobre a pessoa e lentamente fazer com que ela também comece a ser curiosa acerca de si mesma.
As pessoas emocionalmente doentes não são curiosas de si mesmas, aceitam o óbvio e ficam a repetir constantemente os mesmos clichês sobre a sua própria personalidade.
As pessoas não são treinadas a perguntar ou a questionar como se isso fosse uma ofensa. É uma ofensa para as pessoas que se acham inquestionáveis. Mas há coisas que não se podem adivinhar.
No entanto, mesmo quando gostamos muito de alguém e somos próximos dessa pessoa, é importante respeitar a sua privacidade e antes de questionar seja o que for, convém ponderar se a questão é adequada da maneira como está a ser colocada.
O questionamento dá-nos a oportunidade de criar, de nos reinventar.
- “Mas, Sara, reinventar-me, como assim?”
Neste vídeo, que poderá ver em baixo, falo um pouco acerca do processo de reinvenção pessoal, que muitas pessoas sentem especialmente nesta fase do ano, propícia aos recomeços ou às transformações, processo este que descrevo num momento em que lia uma frase inspiradora de uma pessoa (ou melhor, de um Pessoa…) muito especial. ;)
Reinventar é o mesmo que se transformar, é sair da zona de conforto, sair da rotina, é criar novas possibilidades. Algumas pessoas acreditam que reinventar-se é permitir-se viver novas experiências, é buscar coisas novas para fazer, é não se contentar com o fácil, é desafiar-se. Outras acreditam que reinventar-se é o mesmo que se desapegar daquilo que já não é necessário, é mudar a forma de pensar, desenvolver vários tipos de habilidades (entre as quais a gestão das emoções e do stress) e saber adaptar-se a novidades, a imprevistos e a mudanças. Reinventar-se a cada dia é estar em constante transformação, tal como a vida, tantas vezes, nos pede – ou melhor, nos intima – para fazer!
Será que estamos preparados para passar ao próximo nível? Será que estamos preparados para nos tornarmos ainda melhores? Assista ao vídeo que fiz para si e confira o que tenho para partilhar consigo no dia de hoje. Afinal, o bem-estar ou o sucesso (seja ele qual for) nada mais é do que a soma de pequenos esforços, repetidos dia após dia.
Vivemos todos em sociedade e, dessa forma, estamos sujeitos a pressões por todo o lado. Pressões que, muitas vezes, acabam por afetar e perturbar o nosso diaa dia e as nossas relações com os outros.
Desta forma, o anseio por um mundo e pessoas ideais e perfeitamente corretas, lustrosas, adequadas, higienizadas, organizadas, catalogadas, equilibradas pode gerar um tipo de intolerância que causa mais problemas do que ajuda. A chatice e a frustração constantes que amargam uma pessoa podem muitas vezes advir desse tipo de purismo desmedido.
Mas lembre-se que com os níveis de cortisol muito altos aumenta o depósito de gordura abdominal. Além disso, também contribui para a hipertensão, diabetes, depressão e ansiedade. Mal por mal, atire-se à mesa dos sonhos e filhoses e encha a cara de um sorriso sereno mas seguro, que as pessoas sintam vir de alguém que sabe quem é.
Partilhe com aquele amigo(a) ou aquele(a) familiar que PRE-CI-SAM lembrar-se de quem são, do seu verdadeiro potencial, do que vieram fazer a este mundo e do poder das suas verdadeiras escolhas. A vida é sempre para a frente, então, vamos embora! ♡
Até para a semana.