"Você é rijo, você aguenta!", disse uma senhora de idade a António Costa, naquele célebre passeio pelas ruas do Peso da Régua, onde decorreram as comemorações do Dia de Portugal, e que incluiu trocas de galhardetes, cartazes de gosto duvidoso e uma certeza: o Portugal que não é sexy gosta de políticos como António Costa. Rijos.
E, já que falamos de rijeza, falemos Pedro Nuno Santos. O ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, que se demitiu em dezembro de 2022, regressou ao Parlamento para uma dupla atuação – peço desculpa, audição. Emagreceu, está mais atlético, com ar descansado, e com mais tempo para não perder a paciência. O tema continua a ser a TAP, que o fez tombar e o remeteu para um exílio forçado (temporário até quando?), mas a exaustão com o assunto, que virou um verdadeiro folhetim de guião estafado e repetitivo (que, tal como as novelas, só teve piada nos primeiros 110 episódios) faz-nos (faz-me?) concentrar noutro aspeto.
A forma. Não menosprezo a capacidade dos portugueses de discernirem o bom do mau mas creio que, quando chega a altura de votar, se vota pouco com a razão e mais com a emoção. Com a empatia. E Pedro Nuno Santos retemperou-se para regressar ao Parlamento empático q.b.. Uma espécie de bulldozer fofinho, com voz de trovão mas que vai dizendo umas coisas com graça, falando enfaticamente, com as mãos, com energia e polvilhando as suas explicações com reconhecimento de culpas e pedidos de desculpa. E o que é que as explicações sobre um tema que não vai ser resolvido nem agora nem nunca interessam se a forma satisfaz? Se, ao ouvirmos, não com demasiada atenção, Pedro Nuno Santos, ficamos com a sensação que ele é um gajo que faz coisas. E isso dá tesão. E uso esta palavra mais coloquial aqui, não no sentido sexual, mas no vital. O que é que nos estimula? Alguém que decida. Que faça. Que avance, mesmo que erre, que não esteja parado a pensar se deve fazer ou dizer. Alguém que tome decisões ou as queira muito tomar, mesmo que, depois, pareça que não as tomou porque não o deixaram. E Pedro Nuno Santos é muito isso. Um político com tesão por fazer.
E se há uma semana Pedro Nuno Santos se autoelogiou (para regozijo um pouco patético de certos comentadeiros, que o abominam por não ser um arrumadinho do eixo Lisboa-Cascais), esta quinta-feira, 15 de junho, veio mais explicativo, mais conversador, menos 'eu' e mais 'nós'. Ao contrário de João Galamba, que devia estar a cravar as unhas nas mãos para não se descontrolar, Pedro Nuno Santos surgiu descontraído, a falar com o corpo todo, o tom de voz fluido, a deixar de vez em quando vir ao de cima o sotaque da Beira Litoral, que ele sabe que importa e que o coloca numa posição de privilégio em termos eleitorais, numa região muito importante para o País e que se sente subrepresentada, entalada entre os interesses do Porto e o centralismo de Lisboa.
O ex-ministro e potencial próximo primeiro-ministro (alguém consegue vislumbrar um outro candidato neste País, além de Pedro Passos Coelho, que é ansiado pelo PSD mas que não me parece querer voltar a entrar nessa máquina trituradora de almas que é São Bento?) é o equivalente ao marido ou namorado que, sem que ninguém lhe peça, arregaça as mangas e troca a lâmpada fundida que está no hall de entrada ou monta aquele móvel do IKEA sem dizer 500 asneiras ou beber 10 minis. Visão machista? É verdade. Mas a política, aqui e no Mundo, ainda é assim, profundamente machista e patriarcal, não perdoa fragilidades e está assente nessa ideia viril de força.
E tudo isto até podia parecer uma opinião deslumbrada com Pedro Nuno Santos. Mas é exatamente o contrário. Há um esvaziamento completo de conteúdo na política e nos políticos portugueses. O que nós deveríamos ter eram Servos do Povo, pessoas que executavam o seu trabalho de forma digna e discreta, sem que tivéssemos de passar todas as semanas a pensar neles, se estão a portar-se bem ou a portar-se mal. Os políticos ideais seriam aqueles que não se fazem notar a não ser quando deixam os seus cargos, de preferência no final dos mandatos. Mas não é o que temos, nem sei sequer se é isso que queremos, na nossa orfandade por líderes de punho firme e voz de trovão. Enquanto não olharmos os políticos como nossos pares, enquanto não lhes exigirmos explicações pelo trabalho do dia a dia (e isso passaria por exigirmos critérios mais rigorosos nas escolhas dos representantes para os círculos eleitorais), o que vamos continuar a ter é isto. Tesão, que inevitavelmente acaba em desilusão.