Daqui a um ano, estaremos todos aqui (espero) para provar que errei algumas previsões e que, infelizmente, acertei em muitas.

Nacional

  • Luís Montenegro será o primeiro-ministro da omnipresença invisível. Ninguém pára para pensar nele, mas ele está lá, a dominar a narrativa. O grande trunfo do primeiro-ministro é a sua falta de carisma, um contraste com o excesso de personalidade de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, que dominaram a agenda política da última década;
  • O PSD consolidará condições para, em 2026, havendo eleições legislativas antecipadas, conquistar uma maioria absoluta (com ou sem CDS-PP, logo se verá). Essa maioria será alcançada com a continuidade da "política das perceções" implementada por Luís Montenegro, coadjuvada com mais ações policiais como a que vimos no Martim Moniz, em Lisboa, em 2024. O objetivo será implementar no inconsciente coletivo uma sensação geral de insegurança e medo, seguindo a narrativa anteriormente criada pelo Chega, e esvaziando assim o partido de André Ventura de um dos seus propósitos;
  • O Chega vai passar por uma crise interna, encostado à parede pelo aumento de popularidade do PSD de Luís Montenegro, face à política das perceções, assente em temas como a insegurança associada à imigração. Serão criadas fações dentro do partido, abrindo caminho a uma futura disputa pelo poder em 2026;
  • Diferendos internos levarão Pedro Nuno Santos a sair da liderança do PS, abrindo uma luta pelo poder e crise sem precedentes no partido, o que conduzirá à criação de um novo partido de centro-esquerda;
  • PCP e Bloco de Esquerda tornar-se-ão ainda menos relevantes, o que será ainda mais evidente nas eleições autárquicas. O crescimento do Chega a nível local será histórico;
  • Lisboa e Porto serão as grandes incógnitas das autárquicas. A nove meses de distância, é impossível adivinhar quem poderá suceder a Rui Moreira. Na capital, também não é certo que Carlos Moedas seja reeleito, uma vez que existem demasiadas divisões numa cidade cada vez mais desnivelada a nível social e económico e com uma população flutuante e difícil de definir. Mesmo que o trabalho feito por Carlos Moedas seja sancionado, não se afigura, pelo menos para já, quem poderá, do lado do PS, querer candidatar-se a este cargo (e tenha força política para isso).

Internacional

  • A aliança entre Donald Trump e Elon Musk será sol de pouca dura, mas irá durar o tempo suficiente para causar danos irreversíveis nos Estados Unidos em questões como a saúde e a economia, com consequências imprevisíveis (mas negativas) para os mercados internacionais;
  • A Ucrânia irá chegar a um acordo de cessar-fogo com a Rússia, pressionada por Donald Trump;
  • Israel continuará a ofensiva na Faixa de Gaza;
  • Na Europa, repetir-se-á, à semelhança da década de 1930, a consolidação dos movimentos de extrema-direita e ascensão dos mesmos ao poder, como poderá acontecer na Alemanha e em França, que terão eleições antecipadas em 2025. O Reino Unido, embora com uma liderança frágil, servirá de almofada perante os embates extremistas vindos de Oeste e de Este.

Entretenimento / Digital

  • O progressivo cansaço provocado pelo excesso de oferta de conteúdos das grandes plataformas de streaming originará uma procura por serviços mais pequenos, de oferta regional e / ou conteúdos especializados;
  • A desconexão voluntária (não usar smartphone, não ter televisão nem internet em casa, estar online apenas por motivos profissionais) terá cada vez mais adeptos;
  • Desistir das redes sociais (ou reduzir a presença a apenas uma) será uma tendência em crescimento, sobretudo nas gerações Z e alpha;
  • O Facebook continuará a ser a rede social mais usada pela população mais velha e o TikTok aumentará o número de utilizadores em todas as faixas etárias;
  • O X tornar-se-á a plataforma de comunicação oficial da extrema-direita e do governo de Donald Trump. O algoritmo bloqueará progressivamente vozes dissidentes à narrativa cada vez mais extremada de Elon Musk.

Televisão nacional

  • A SIC vai atravessar um período difícil, com perda de audiências e talvez o consequente fim de programas / contratos importantes;
  • Com o fim progressivo da publicidade na RTP, além das rescisões amigáveis, acontecerá o provável fim de um dos canais (RTP2 ou RTP Memória). Programas mais dispendiosos como "The Voice Portugal", "Taskmaster" ou "Masterchef", e talvez um dos formatos de daytime, poderão também desaparecer da antena da RTP1;
  • A CMTV vai consolidar a liderança no cabo, o NOW irá crescer, deixando a CNN Portugal e a SIC Notícias a lutar por um auditório cada vez mais reduzido. Os dois canais de informação irão apostar cada vez mais no comentário divisivo, polémico e de satisfação dos apetites das "perceções", contribuindo também para a narrativa de insegurança;
  • A RTP3 continuará o seu caminho em direção à irrelevância.

Desporto

  • O Sporting vai ser bicampeão;
  • O FC Porto vai atravessar um período prolongado de reestruturação e maus resultados;
  • O futebol mundial irá iniciar um período prolongado sem estrelas de renome, com o ocaso das carreiras de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo e o crescimento de popularidade de desportos como a Fórmula 1 e o ténis junto das gerações Z e alpha;
  • Ruben Amorim será despedido do Manchester United no final da época.