Discutir pode ser uma coisa muito boa. Quando as brigas de um casal não ultrapassam os limites do respeito mútuo e são apenas momentos de diálogo mais aceso, a verdade é que podem contribuir de uma forma positiva para a comunicação de um par e até fazer maravilhas pela saúde de uma relação.

Do outro lado do espectro, existem casais que raramente discutem, o que apesar de parecer um paraíso, poder ser na verdade um pesadelo, e demonstrativo de falta de paixão e cumplicidade. Mas será que todos os casais que nunca discutem já perderam o interesse um pelo outro, ou serão apenas mais eficazes a gerir os conflitos?

Flávia Adriano, agente de viagens, 25 anos, conta à MAGG que as discussões em casal são algo raro na sua relação e acredita que o segredo está no relativizar. Numa relação há oito anos e a viver com o parceiro há cerca de seis, Flávia Adriano afirma que sempre houve muita cumplicidade entre o casal.

“Sempre nos demos muito bem, somos mesmo a outra metade da laranja um do outro. Nunca tivemos tabus e falamos de tudo”, recorda a agente de viagens, que salienta que sempre que existe algo que inquieta um dos elementos do casal, “é para se falar e resolver”.

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Mesmo depois de Flávia Adriano e o companheiro se tornarem pais de um rapaz, o que aconteceu há dois anos, as discussões não ganharam espaço neste relacionamento, apesar da fase mais cansativa e difícil.

“Estamos a ultrapassar bem o desafio, não me lembro da última discussão que tivemos. Não damos importância a certas coisas que, se calhar, no início da relação dávamos. Relativizamos muito as coisas, tentamos perceber se vale a mesmo a pena ficarmos chateados por aquele motivo”, explica, garantindo que o que faz com que não discuta com o parceiro (e vice-versa) é o facto de se conhecerem muito bem e saberem os limites de tolerância de cada um nos mais diversos assuntos.

Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, concorda que a relativização das pequenas diferenças é algo crucial para a redução das discussões em casal. “Os casais que sentem que não discutem são aqueles que acabam por relativizar as divergências do dia a dia”, explica a especialista, que avança que se devem evitar os ataques gratuitos à personalidade de cada elemento do casal, mas sim optar por “mostrar desagrado ou desacordo em situações específicas, numa base de diálogo e não de monólogo”.

O segredo de zero discussões? Entender as diferenças

Raquel, 23 anos, está numa relação com a namorada há quatro anos e raramente discutem. “Cada uma é como é, e percebemos logo que não valia a pena tentarmo-nos mudar uma à outra”, conta a produtora, que explica que têm como regra enquanto casal falarem sempre a seguir a uma discussão.

“Como somos um bocado preguiçosas, passamos logo para o conversar. A verdade é que vivemos juntas há quatro anos e não somos aquele casal de alternar fases boas com más”, salienta Raquel, dando primazia à estabilidade.

Filipa Jardim da Silva salienta que os casais que não lutam contra as diferenças, mas as aceitam, podem ter a ideia de que não discutem: “Quando os casais se mantêm focados no que os une, as diferenças conseguem ser geridas com mais calma e segurança. Assim, muitos casais tenderão a percecionar que não existem brigas nem conflitos, mesmo existindo naturalmente divergências saudáveis”.

Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica

Também Joana Catarino, 29 anos, orgulha-se de uma relação sem discussões. Num relacionamento há cerca de sete anos, cinco deles de vida em comum, afirma sem medos que não se recorda de ter tido mais de duas discussões com o marido — e nada tem a ver com a anulação de personalidades.

“Para nós não há repressão de sentimentos ou opiniões, existem é limites e cedências bem definidas”, conta a responsável de eventos, que divide muito bem a sua vida da do marido. Não partilham contas bancárias, não se intrometem nos gastos um do outro e tentam manter uma vida social ativa, quer juntos, quer individualmente.

“Não somos dependentes um do outro, até porque as nossas vidas profissionais não o proporcionam. Temos uma gestão eficiente das tarefas domésticas, em que quem estiver menos ocupado nessa semana assume a maior carga, e fazemos um esforço para que todas as semanas haja uma noite só para nós os dois”, relata Joana Catarino, que acredita que “ajuda muito ir conversando sobre os temas conforme vão aparecendo e relativizar, claro”.

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No entanto, Filipa Jardim da Silva alerta que a ausência de qualquer tipo de discordância será de estranhar. “Tal pode remeter para a anulação ou submissão de um dos elementos, falta de espaço e segurança à individualidade de cada um, dificuldades na comunicação ou desinteresse”, explica a especialista.

“A base de uma relação bem sucedida não passará por avaliar o número de discussões que um casal tem, mas sim a qualidade dessas discussões e a forma como são encaradas e resolvidas”, conclui a psicóloga clínica.

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