Em 2005, a comédia romântica "Hitch - A Cura para o Homem Comum", protagonizada por Will Smith, deixava-nos a pensar. Afinal, não seria mais simples se existisse realmente alguém com as ferramentas necessárias para encontrar o amor da nossa vida por nós? A boa notícia é que existe — e é portuguesa.
Finais absolutamente felizes podem não ser garantidos, mas a procura pelo companheiro ideal pode ser realmente mais certeira com a ajuda de Tânia Líbano, dating coach. A portuguesa de 32 anos, que também trabalha na área de eventos mas quer dedicar-se à consultoria em relacionamento a tempo inteiro, falou com a MAGG sobre o início deste projeto.
Foi no ano de 2017, quando morava em Londres, que foi convidada a trabalhar na agência Kezia Noble, onde organizava cursos intensivos de uma semana, que tinham o objetivo de ajudar homens com ansiedade a ganharem coragem para falar com mulheres.
Mais recentemente, decidiu trazer este serviço para Portugal, onde não existem muitas ofertas semelhantes. De momento, conta com acompanhamento presencial em Lisboa e Londres, sendo que para os que se encontram noutros pontos do Mundo, tem disponível o acompanhamento online.
Como é que começou a trabalhar como dating coach?
Foi uma oportunidade que me bateu à porta, convidaram-me. Já desde muito cedo que saía à noite com amigos rapazes, sempre tive muitos amigos rapazes. Apresentava-os a imensa gente, estava sempre a fazer casalinhos. E quando estava em Londres, até foi uma amiga que me disse que devia experimentar fazer isso profissionalmente. Nós já conhecíamos dois rapazes que trabalhavam como dating coaches, então um deles decidiu fazer-me uma entrevista, eu acabei a dar-lhe uma sessão e ele aí recomendou-me à agência onde trabalhava.
Que tipo de formação é que existe nesta área?
Eu estudei relações públicas. Isto do dating não exige uma área concreta. Não se vai para a faculdade estudar coach de relacionamentos, que de certa forma, até é uma coisa recente. A pessoa ou tem jeito ou não tem.
A Kezia [proprietária da agência] já faz cursos para treinar dating coach, mas lá está, são dating coaches antigos que agora começaram a criar cursos. Podemos tirar psicologia, sociologia, relações públicas ou áreas relacionadas com a comunicação, que ajudam a ensinar os skills sociais, mas acho que isto é muito à base da empatia. Os cursos só estão a começar a surgir agora. Ter empatia, ser bom ouvinte e saber fazer amigos rápido são os skills principais para dar estas sessões. Isto claro, além de ter muita paciência.
O que é que procuram as pessoas que requerem os seus serviços?
Sou mais procurada por homens que têm ansiedade quando falam com mulheres. Alguns têm mesmo ansiedade social, em geral. Mas, maioritariamente, são homens que em termos de trabalho são muito bons naquilo que fazem, não têm qualquer problema em comunicar no que toca ao seu trabalho, mas no que toca à parte social falta-lhes aquela empatia normal.
O que eu faço concretamente é um “step by step”, consoante o nível de socialização de cada aluno. Isso pode ir desde pedir direções na rua, a “apenas” conseguir o sorriso de alguém desconhecido.
Trabalho com abordagens diretas e indiretas. As diretas podem ser, por exemplo, irem ao pé de uma mulher na rua e dizerem que a acham bonita ou que gostavam de a convidar para um café. Uma abordagem indireta é quando não colocam logo as intenções em cima da mesa. É perguntar uma direção ou pedir ajuda com qualquer coisa.
O que eu faço é, dependente de quem está à minha frente e do nível de socialização que tem, adaptar as minhas aulas. Além das duas abordagens de que já falei, faço o “day game”, que consiste em ir com os meus alunos à rua e levá-los a interagir com estranhos, e o “night game”, que implica levá-los a bares, discotecas e ambientes mais noturnos, onde as outras pessoas também estão mais predispostas a socializar. O intuito é tentar ajudá-los a desbloquear conversas nos diferentes meios.
Já tem o seu próprio projeto?
Em Londres, trabalho com uma agência, a Kezia Noble. Em Portugal, estou a trabalhar por conta própria, mas também tenho alunos que me chegam através da agência e que posteriormente querem continuar o acompanhamento comigo.
Só trabalha com pessoas do sexo masculino?
Com a agência sim, e para onde me estou a direcionar em Portugal também. Mas também acabo por ajudar as minhas amigas, embora de forma não oficial. De futuro, gostava muito de me posicionar para o público feminino até porque nós, mulheres, somos mais complexas.
É procurada por pessoas mais novas, mais velhas?
Tenho de tudo. Já tive pessoas de 18 anos e o aluno mais velho que tive tinha 79. Em termos de idade é muito geral, mas posso dizer os tipos de padrão que encontro.
Há três perfis de homens que se destacam mais. O primeiro são os que namoraram ou foram casados durante muito tempo e que chegam a este novo cenário de dating com aplicações, onde toda a gente anda a correr e é super exigente com o próximo parceiro. De repente encontram-se num cenário onde não se identificam. Isto tem evoluído tudo muito depressa e para aquelas pessoas que estavam confortáveis numa relação, isto afeta-lhes muito a autoestima e a segurança.
O segundo perfil é o tipo de homem que negligenciou a parte social para se dedicar ao trabalho. Só se focou na profissão e depois chega aos 40/50 anos e vê-se sem família e sem grandes amigos. Este tipo de pessoas já procura relações a longo prazo.
Agora começou a surgir um novo tipo de perfil – o pós-covid. Muita gente começou a trabalhar remotamente e começou a habituar-se a falar com pessoas só no online ou em videojogos. Para estas pessoas está a custar sair de casa e socializar. É uma faixa etária que está principalmente entre os 20 e os 30 anos.
Faz algum tipo de seleção dos clientes? Por exemplo, aceita todos ou só os que estão à procura de uma relação mais séria?
Os alunos que me chegam e que estão à procura de “soluções penso rápido” são os alunos a que eu por norma não dou continuidade. Ajudo-os no que posso em termos de mindset e de melhorarem as relações interpessoais, mas não dou grande prioridade à parte da relação, porque eles querem sair e estar com várias mulheres. Não vou ensinar um homem a magoar uma mulher ou a agir de má forma.
Numa altura onde é tão fácil utilizar aplicações para conhecer um parceiro, como é que o seu serviço permanece relevante?
Tenho notado cada vez mais que toda a gente está à procura de um parceiro, mas ninguém quer fazer o trabalho pessoal de melhorar. Querem alguém que preencha a “checklist” toda, mas depois esquecem-se que também têm de ir ao encontro da checklist de alguém. As pessoas querem o melhor modelo, mas não querem elas próprias ser o melhor. É nesse sentido que eu também ajudo, não só na parte dos casais.
O meu serviço é muito virado para a comunicação entre pessoas e a empatia, que é o que falta cada vez mais. Estes homens estão a fazer o trabalho de melhorar a empatia para com a outra pessoa e eles próprios serem melhores pessoas.
O acompanhamento que faz é sempre pré-relação ou tem continuidade mesmo que os clientes encontrem um parceiro?
Tenho alunos que acompanhei desde o princípio, onde estavam à procura de alguém, conseguiram essa pessoa e continuo a fazer o acompanhamento. Aliás, tenho alunos em que acompanhei mesmo até eles terminarem a relação. É legítimo a pessoa querer terminar, mas há diferentes maneiras de o fazer. Por isso, também faço esse acompanhamento de ajudá-los a terminar, para que fiquem bem, dentro do possível, e para que ninguém saia traumatizado. Faço o acompanhamento desde o início ao fim.
Quais são os valores do seu acompanhamento?
Tenho o acompanhamento online, onde cada sessão dura 1h30, e cobro 60€. As sessões são sempre individuais e com muita discrição. Tenho o serviço presencial (que está disponível em Lisboa e Londres), onde o mínimo são duas horas, porque já faço exercícios e o acompanhamento dos clientes na rua ou em bares. Cobro 80€ pelas duas horas.
E vou começar agora um novo serviço de acompanhamento de mensagens. Ou seja, os alunos têm de me mandar as mensagens que estão a trocar com outra pessoa, e eu ajudo-os a iniciar conversas, a mantê-las ou até mesmo a fechá-las. E digo fechar no sentido de irem um passo à frente, irem para um encontro.
O que é que homens e mulheres devem fazer num primeiro encontro?
Quanto às mulheres, peço para não serem tão rápidas a julgar a pessoa com quem estão a falar. Aos homens, não importa o que dizem, importa sim como o dizem. A atitude é tudo. Se tiverem a atitude certa, forem respeitadores e souberem o seu valor, vão ser automaticamente atraentes.