“É muito importante termos consciência de que a vida a dois pode trazer mudanças na nossa intimidade. O convívio diário pode apaziguar o desejo e outras responsabilidades podem sobrepor-se. A rotina, como todos já ouvimos dizer, é uma erva daninha que temos de saber controlar”, explica à MAGG Vânia Beliz, psicóloga clínica e da saúde e sexóloga.

Se este cenário não lhe é estranho e muito menos uma novidade, um estudo vem comprovar que uma relação estável e duradoura é quase sempre inimiga do desejo sexual — principalmente para o sexo feminino.

Segundo este estudo britânico, tanto homens como mulheres admitiram que o seu desejo sexual foi diminuindo à medida que os anos de um mesmo relacionamento aumentavam. Este estudo questionou 4.839 homens e 6.669 mulheres sobre as suas atitudes face ao sexo. Dos dados recolhidos, 15 por cento dos elementos do sexo masculino e 34 por cento do sexo feminino afirmaram que perderam interesse nas relações sexuais com o avançar da relação.

De acordo com a mesma pesquisa, e apesar de ambos os sexos confirmarem a redução do desejo à medida que um relacionamento evolui, a rapidez com que essa situação se verifica é bastante maior nas mulheres. Segundo estes dados, os elementos do sexo feminino perdem interesse na vida sexual após um ano de relação.

Comunicar e passar à ação

São várias as razões que podem levar à diminuição de momentos íntimos entre um casal: cansaço físico e mental, falta de ligação a nível emocional, stresse e falta de comunicação, entre muitas outras.

Mas, diz o estudo, os parceiros que comunicam abertamente sobre a sua vida sexual são também os que mantêm a chama mais acesa. “Falem sobre a vossa vida sexual, as fantasias, as preferências e os desejos de cada um. Pensar em sexo é o melhor afrodisíaco natural”, aconselhou, em declarações ao Observador, Fernando Mesquita, psicólogo clínico e terapeuta sexual.

Casais que falam sem pudor sobre o que gostam ou não durante o sexo, posições preferidas e tantos outros detalhes são também pessoas com mais desejo sexual pelo parceiro. De acordo com o estudo, no caso das mulheres, esta linha de comunicação aberta faz com que fiquem mais satisfeitas com a vida sexual em casal e, por consequência, com mais desejo.

“Durante o namoro, cada encontro é preparado com cuidado, mas depois tendemos a descuidar alguns pormenores. As novas responsabilidades de uma vida a dois podem, em alguns momentos, lançar o sexo para segundo plano, por isso é importante que continuemos a deixar espaço para o casal. O diálogo é sempre importante porque na correria e exigência dos dias nem sempre nos apercebemos do quanto nos estamos a distanciar”, salienta à MAGG a sexóloga Vânia Beliz.

O mesmo casal, desejos diferentes

Não existe um número definido para a quantidade de vezes que um casal deve ter sexo nas várias fases de um relacionamento e, tal como o estudo demonstra, o que pode ser suficiente para um dos elementos, pode significar o contrário para o outro. Patrícia Pascoal, responsável pela Consulta de Sexologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, afirmou ao Observador que “grande parte dos problemas de desejo, de homens e mulheres, manifestam-se a partir das relações em que se envolvem, quando há uma grande diferença entre os níveis de desejo dos parceiros”.

É recomendado pelos especialistas que conduziram esta pesquisa que um casal fale sobre sexo, quantas vezes forem precisas e o mais honestamente possível, para que estejam alinhados. Até porque o que é verdadeiramente importante para a satisfação sexual de um casal é que estejam felizes e que essa felicidade conduza a muito animação entre os lençóis.

*Texto originalmente publicado em 2018 e adaptado a 18 de outubro de 2022.